Devido ao imbróglio com o Flamengo e a Federação Carioca (Ferj), a Globo , detentora dos direitos de transmissão do Estadual do Rio, decidiu não exibir mais nenhum jogo do torneio deste ano, que se encaminha para um final melancólico.

Por enquanto, a Ferj conseguiu fazer valer uma liminar que obriga a Globo a transmitir o clássico entre Fluminense e Botafogo, no domingo (5), além de uma eventual final com uma mandante sob contrato com a emissora. Mas tudo isso pode mudar .

Por isso, vai terminando assim, quase invisível, aquele que já foi considerado o Estadual mais importante do País, disputado por clubes que juntos somam um Mundial de Clubes , duas Copa Libertadores e 16 Brasileiro s .

Há 18 anos, o Campeonato Carioca também acabou no escuro. Uma briga envolvendo a recém-criada Liga Rio-São Paulo, a TV Globo , novamente, a Ferj e os maiores clubes do Estado fez com que os jogos do Carioca de 2002 não fossem para a televisão.

O “Caixão”, como ficou conhecido o torneio, em alusão ao presidente da Federação Eduardo Viana, vulgo Caixa D’Água, teve tudo de errado.

Televisão à parte, o campeonato ainda foi boicotado pelos grandes - exceto pelo campeão Fluminense , e só na fase final.

Por ter acontecido durante o Rio-São Paulo e até mesmo ter invadido o período da Copa do Mundo , teve públicos muito baixos e até mesmo clássicos disputados para pouco mais de 100 pessoas.

E para completar, por que não, uma briga na Justiça fez com que o campeão só fosse ratificado de fato sete anos depois.

Curiosamente aquele acabou sendo o primeiro troféu “conquistado” pela então advogado Mario Bittencourt, atual presidente tricolor.

Veja abaixo alguns causos daquele torneio:

Felipe Melo, à vezes meia, se firmando

Com os clubes utilizando equipes alternativas, alguns jovens jogadores, que só viriam a ganhar destaque maior no futuro, apareceram bastante durante o torneio.

Rodrigo Souto, no Vasco, surgia como primeiro volante da equipe. E no Flamengo, às vezes como um meia que atuava um pouco mais avançado, mais perto do setor de criação, Felipe Melo, 19, se firmava.

Promovido aos profissionais na temporada anterior, Felipe Melo apareceu em alguns dos times mistos e reservas do Fla e treminou de se consolidar, para ser titular do time principal naquela mesma temporada.

O troféu de Mario Bittencourt

O regulamento do Carioca, para variar, tinha uma fórmula mirabolante, que garantia os quatro grandes na fase final.

O Americano, que venceu as taças Guanabara e Rio, por exemplo, teve de jogar ainda um quadrangular semifinal para se garantir na decisão.

Botafogo e Vasco, em sua chave quadrangular, não conseguiram superar Americano e Bangu, que se classificaram para enfrentar Fluminense e Friburguense.

Bangu e Fluminense fizeram uma das semifinais que, encerrada em 0 a 0, mandou o Flu para a Final. Mas o Bangu fez 1 a 0 na prorrogação, com um gol do goleiro Eduardo Allax.

O gol, comemorado efusivamente, foi anulado pelo árbitro Reinaldo Ribas. Primeiro, ele alegou mão do goleiro. Informado pelos fotógrafos atrás do gol que não houvera toque, ele recuou da marcação de falta, mas seguiu anulando o lance - agora por conta de um empurrão.

A equipe do subúrbio carioca protestou na Justiça, e apenas sete anos depois, em 2009, com Mario Bittencourt como advogado, o Tricolor das Laranjeiras teve coonfirmação da conquista.

Clássicos para ninguém

Com o Rio-SP acontecendo ao mesmo tempo, era de se esperar que os reservas dos grandes não atraíssem muito público.

Mas houve extrapolação nesse conceito.

Em 21 de Março de 2002, por exemplo, os juniores de Flamengo e Fluminense jogaram na Rua Bariri, campo do Olaria, para cerca de 100 pessoas.

Quatro dias depois, Vasco e Flamengo jogaram para mais do que o triplo do público do Fla x Flu: 305 pessoas, numa tarde de segunda-feira, testemunharam a derrota do Vasco por 1 a 0 - gol de Leo Macaé.

Diniz, Rony, Marcão e Magno Alves: O Campeão

O Flu levou a fase final a sério, deu de ombros para os times mistos escalados pelos rivais, e ficou com a taça no campo - que só seria sua mesmo em 2009.

Vendo a possibilidade de chegar ao seu 30º caneco estadual, o clube foi de força máxima nos jogos que valiam.

O time que venceu o Americano na decisão por 3 a 1, em 27 de junho, era recheado de grandes personagens da história do Tricolor e figurinhas carimbadas do futebol brasileiro, como o atual técnico do São Paulo :

Murilo, Flávio, Mauricio Fernandes, Regis e Roberto Brum; Fabinho, Marcão, Fernando Diniz e Marco Britto; Rony e Magno Alves, o Magnata.

No comando, Robertinho, ex-jogador revelado no próprio Flu como ponta-direita, no fim dos anos 1970, era o treinador.

E ainda estavam no elenco Caio Ribeiro, Carlos Alberto, Jancarlos, Fábio Melo, Fernando Henrique (goleiro), Jorginho (Tetra em 1994) e Paulo Isidoro (ex- Palmeiras ).

26 mil pessoas, aproximadamente, estiveram no Maracanã para o jogo decisivo. Os únicos, além dos jogadores, arbitragem, polícia, organização e estafe dos clubes e do estádio que assistiram àquela partida em “tempo real”.