Ar condicionado não funciona? Chama o Pedro! Banheiro está entupido? Pedro! Tem água vazando para dentro do ônibus? Pedrito! Não sai mais água na torneira do banheiro? Lá vai o pessoal chamar novamente esse peruano de 56 anos.

Pedro Zamora, forma como ele se apresentou para os passageiros, é o faz tudo do ônibus que opera na rota Rio de Janeiro-Lima rumo à final da Copa Libertadores entre Flamengo e River Plate . Mas na verdade ele se chama Heinten Eliezer Zamora Carrillo. O pai escolheu porque gostaria que o filho fosse cientista, fosse como Albert Einstein. Não seguiu esses planos. Acabou trabalhando como nas viagens de ônibus por uma oportunidade dada pelo motorista William Guerra, quando tinha 18 anos. Por isso se tratam como irmãos.

Na atual empresa ele está há 11 anos, fazendo o trajeto Brasil e Peru desde o início, há nove anos.

Pedrito, porém, tem mais tempo de estrada. Desde os 18 anos, ele trabalha em linhas de viagens terrestres prolongadas. Adquiriu experiência resolvendo problemas de tamanhos e exigências diferentes. Sabe que qualquer alteração, mesmo pequena, incomoda os passageiros.

Fica à disposição o tempo todo. Mesmo quando está dormindo. E nem tem cama. Deita no corredor que liga a cabine dos motoristas ao lado dos passageiros. Uma porta dá privacidade, evitando que o vejam deitado. E, para evitar deaconforto maior, ele estende uma grande coberta e deita em cima.

Pedrito também tem um bom conhecimento geográfico, além de saber os riscos de viagens como essa. E ele diz que nunca gostou de estudar, sendo bem relaxado na escola.

Aliás, entrevista-lo não é tarefa fácil. Ele não gosta de aparecer nem de falar com jornalistas. Fica desconfiado quando algum passageiro saca o celular e aponta para ele. Por ser muito solícito e carismatico, afirma que algumas pessoas passam do limite.

"Já aconteceu de passageiros falaram em tom elevado comigo. Me vejo obrigado a colocar um limite. Eu tenho de atender da melhor forma, mas não aceito grosseiras", disse.

Ele não tem filhos nem esposa. Vive mais cruzando as estradas do que parado no Rio, em São Paulo ou Cuiabá, locais que o ônibus passa. Nos últimos anos, trabalhar ganhou um significado mais forte para ele.

"Eu ajudo minha mãe, que está com 84 anos. Agora ela está um pouco doente e não vejo a hora de encontrá-la, quando chegarmos em Lima. Fico até domingo e já volto para trabalhar, com a viagem de volta para o Brasil".

"Todos esforços são para ajudá-la. Ela é a coisa mais importante que tenho. O dia que ela partir... me corta o coração pensar nisso".

Pedrito teve duas irmãs. A que nasceu da mesma mãe e do mesmo pai já morreu. A que tem teve outro pai mora na Espanha.

Mas o "faz tudo" do ônibus não perde o sorriso. E quando fala de futebol brilha os olhos. É torcedor fanático do Alianza Lima. Tem como ídolos Sotil e Cubilla. E no Brasil quem mais admiro foi Ronaldinho Gaúcho.

"Era um artista com a bola, um mago, um jogador que fazia o futebol ficar lindo".

Por essas histórias e especialmente pela carismática personalidade, cativou todos no ônibus e os passageiros sempre dividem com ele um chocolate, balas, piadas e sorrisos.