A Major League Soccer foi atrás de grandes estrelas do futebol para aumentar o interesse internacional pela competição. Contratou Messi, Suárez, Giroud, Marco Reus e tem planos de aumentar esse número de estrelas. No entanto, hoje, quem lidera a liga em participações em gols é um brasileiro, ainda em busca de colocar seu nome nessa lista: Evander, de 26 anos, revelado pelo Vasco, que defende o Portland Timbers.
Contratado no começo do ano passado , depois de quatro anos no Midtjylland, da Dinamarca, Evander conquistou os torcedores do Timbers. Em um time tradicional, que já disputou três finais e conquistou um título, o brasileiro comemora seu bom momento, liderando uma das principais estatísticas em uma competição que conta com Messi.
– Fico muito feliz com o trabalho que venho fazendo, cheguei ano passado, não tive tanto sucesso quanto esse ano. As coisas estão acontecendo de uma forma bem natural. E, por estar me destacando entre tantos nomes como Messi, Suárez e tantos outros aqui na liga, eu me sinto muito feliz com o trabalho que venho fazendo. Estou dando meu melhor aqui, tentando colocar o time de volta nos playoffs, já não se classifica há dois anos – comentou Evander, em entrevista ao ge .
- Evander (Portland Timbers): 33 (15 gols e 18 assistências)
- Luciano Acosta (Cincinnati): 30 (12 gols e 18 assistências)
- Messi (Inter Miami): 29 (14 gols e 15 assistências)
- Cristian Arango (Real Salt Lake): 29 (17 gols e 12 assistências)
Neste sábado, o Portland Timbers volta a jogar contra o Vancouver Whitecaps, no Canadá. Hoje, o time está na oitava colocação da Conferência Oeste. Evander é o pilar da boa campanha. Nos últimos cinco jogos, foram duas vitórias, dois empates e uma derrota, com sete participações em gols do brasileiro.
Evander tem 15 gols (sexto na tabela) e lidera a MLS em assistências, com 18. No total, são 33 participações em gols em 25 jogos, três a mais do que Luciano Acosta, do Cincinnati, que tem 28 jogos disputados, e quatro à frente de Messi, do Inter Miami, que jogou apenas 15 vezes.
Esse bom rendimento de Evander rendeu a ele a oportunidade de ser votado para o All-Star Game da MLS. O brasileiro foi titular na derrota por 4 a 1 para as estrelas da Liga Mexicana. Nada que tenha abalado o feito do jogador, que teve a companhia de Gabriel Pec, do LA Galaxy, no evento.
– Foi um evento diferente. Estar junto com jogadores como Busquets, Alba. Infelizmente, o Messi não pode ir porque havia se machucado na final da Copa América. Mesmo assim, estar em um evento com os melhores da liga, fazer o jogo contra os melhores do México, é algo diferente, que só acontece aqui, é da cultura. Fico feliz por ter participado, sendo selecionado pela temporada que vinha fazendo. Uma coisa inédita para mim – disse.
Em sua segunda temporada na MLS, Evander ainda não teve a oportunidade de enfrentar Messi. O regulamento da competição prevê jogos contra todos os adversários de sua conferência, mas apenas alguns da outra. O Inter Miami está na Leste.
– Era para ser esse ano, mas não sei o que aconteceu no calendário. É meio difícil de entender. Como ano passado, a gente não havia jogado contra o Inter Miami, a expectativa era de que jogasse agora. Sempre fica esperando, ainda mais agora com a gente classificando para os playoffs se der tudo certo. A gente tem o objetivo de chegar à final. A gente fazendo a nossa parte, e eles (Inter Miami) fazendo a deles, pode ser uma final. É um caminho bem distante – explicou.
Evander entende também a importância da presença de jogadores do peso de Messi como um caminho para um reconhecimento maior da MLS. Segundo o jogador, há muita vontade dos dirigentes para tornar a liga uma das melhores do mundo em um curto espaço de tempo.
– Para a galera de fora e para os jogadores que, às vezes, na cabeça de alguns mais tarimbados, pensam em vir para curtir a vida e aproveitar. Quando chegam, eles veem que não é tão fácil assim. A MLS é uma liga com estrutura, bastante dinheiro para trazer bons jogadores, e a gente espera que possa se fortalecer cada vez mais com jogadores já nomeados, mas também com jovens. Não sei qual é o plano da liga, mas sei que querem estar entre as 10 do mundo. É bom para os jogadores e para o público – contou.
Em Portland, Evander mora com a esposa Alanis, com quem está junto há quatro anos, e o filho Dom, de apenas dois meses. Na cidade, eles frequentam restaurantes, alguns brasileiros, e convivem com as famílias de outros jogadores, grande parte sul-americanos, incluindo o brasileiro Antony Alves, de 23 anos, revelado pelo Corinthians e com passagens por Joinville, de Santa Catarina, e Arouca, de Portugal.
Adaptado, curtiu muito a comemoração de gol da torcida do Portland Timbers. E carregou alguns pedaços de tronco, que fazem parte da tradição do clube.
– Todo jogo em casa, cada gol que sai eles fazem o corte do tronco da árvore. W o jogador no fim do jogo tem que ir lá receber e levantar para a torcida. É da cultura, um show que eles fazem aqui. A torcida é bem bacana. Foi algo que eu não sabia quando cheguei, achei engraçado, mas é da cultura e a gente segue fazendo – afirmou Evander, que chegou a ser apresentado em sua chegada ao clube em um jogo do Portland Trail Blazers, da NBA, a liga americana de basquete.
Antes de ir para os Estados Unidos, Evander precisou enfrentar alguns obstáculos na Dinamarca em sua passagem pelo Midtjylland, clube pelo qual atuou na Liga dos Campeões. Na época, morando sozinho, enfrentou o lockdown na cidade de Herning acompanhado de Marcelo Sander, ex-jogador e seu padrinho, que havia viajado para passar 15 dias com o afilhado. Acabou ficando alguns meses até que os aeroportos fossem reabertos. Mas as boas recordações estão em campo.
– Só não foi tão legal (a Liga dos Campeões) pelo Covid. Só havia os jogadores, não tinha torcida. Ainda assim, foi uma experiências incrível jogar contra Liverpool, Atalanta e Ajax. Era algo inédito para o clube – contou o jogador, que lembrou os primeiros passos no clube.
– Eles estavam meio receosos por uma experiência ruim com brasileiro. Às vezes, a gente como jogador não respeita a cultura dos outros países, quer que as coisas sejam do nosso jeito. Eu fui lá e respeitei. Era o único brasileiro. Depois de seis, sete meses, chegaram outros, o que foi bom para mim, pude abrir as portas. É um time que busca jogar competições europeias. Aconteceu quando eu estava lá. Puderam reformar o CT, deram estrutura melhor com a venda de jogadores. É um clube jovem, fundado em 1999. Fiquei feliz em fazer parte desse projeto.
Revelado pelo Vasco, Evander era considerado uma promessa de alto calibre. Ele disputou a Copa do Mundo Sub-17 em 2015, sendo o dono da camisa 10, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Nigéria. No entanto, não conseguiu engrenar no profissional até ser emprestado e depois vendido para o Midtjylland .
– Eu comecei no futsal com nove anos e fiquei 11 nos no clube. Quando cheguei no profissional, a coisa não saiu como eu esperava. Tem jogador que chega no profissional, arrebenta e vira ídolo, mas tem jogador que demora mais a amadurecer, e foi o meu caso. Subi também em um time que estava em reformulação, vindo da Série B, subi com o Vasco, teve outra reformulação. Conseguimos classificar para a Libertadores depois de 10 anos quase. Tive meus momentos bons, mas oscilei bastante. Olho dentro de mim e vejo que dei meu melhor. As coisas não saíram como eu queria, nem como o torcedor queria. Sou muito grato – comentou.
– Acho que a questão do amadurecimento, cabeça, mentalidade, confiança. Não era maduro o bastante para sair dessa situação. Hoje, vendo de fora, a gente vê como o jogador brasileiro sofre com a pressão, mas que é normal, da profissão, desde pequeno na base já é acostumado com esse tipo de pressão. Demorei um ano para fazer meu primeiro gol, depois tive boas aparições, outros gols, mas não tive aquela sequência que gostaria de ter, como tive agora e na Dinamarca.
Recentemente, o Flamengo foi atrás de Evander. Na época da negociação, houve até uma manifestação do vice-presidente de futebol do clube, Marcos Braz, defendendo a contratação do jogador . No fim, o Portland Timbers não aceitou a proposta depois de ter pago 10 milhões de euros para tirá-lo do Midtjylland.
– Fiquei muito feliz de ser lembrado, principalmente por um clube como o Flamengo, um dos maiores do Brasil e da América . Tem todo aquele negócio de ser da base do Vasco, mas não seria o primeiro nem o último a sair de um rival para o outro. Acho que era uma expectativa de carreira, o sonho de jogar na Seleção, joguei na base, e isso ainda mexe comigo. A vontade de jogar por um grande clube europeu. A gente sabe como é difícil estar na MLS e sair daqui para um grande europeu ou Seleção, ou grande brasileiro. Agora, tem o Luiz Araújo, um dos destaques do Flamengo, e o Almada, que foi comprado por não sei quantos milhões. Claro que tem ainda um receio de como veem a MLS, mas tem muito jogador que se destaca. Quando você vivencia a liga, sabe que não é tão fácil se destacar. Acho que está mais na capacidade do jogador do que da liga. Independentemente da liga que você joga, se tem um jogador que possa se destacar, que vale a pena, é válido abrir o olho – comentou Evander.