Antes de virar um dos melhores zagueiros dos últimos anos do São Paulo , André Dias demorou para engrenar no futebol. Tricampeão brasileiro (2006, 2007 e 2008) e duas vezes vencedor do Prêmio ESPN Bola de Prata Sportingbet , o ex-jogador não teve uma trajetória fácil.

Ele acumulou frustrações em testes no São Caetano e no Santo André antes de ser aprovado no Palestra, de São Bernardo-SP, sua cidade natal.

"Fui aprovado, mas morava muito longe de onde o clube treinava. Era uns 12 km, mas eu não tinha condições de ir de ônibus, ia a pé. Eu joguei bem nos Jogos Abertos do Interior e vieram ofertas de Araçatuba, Portuguesa e Guarani, mas o presidente não me liberou. Em seis meses, já estava no profissional jogando de titular no finalzinho da Série B1, a quarta divisão do Paulista", disse ao ESPN.com.br .

A estreia do zagueiro foi contra o Barretos fora de casa, que apesar de ter sido destaque, tinha dificuldades para permanecer na profissão.

"O Palestra não me dava ajuda de custo, não tinha almoço e precisava treinar duas vezes por dia. Eu larguei para ir trabalhar na DPaschoal para montar pneus porque não ia dar certo no futebol. No Palestra tinham me oferecido R$ 120 por mês e na empresa iria ganhar R$ 700, cesta básica e vale-transporte. Eu resolvi ficar por lá mesmo, contou".

Algum tempo depois, o presidente do Palestra apareceu na loja para fazer um serviço no carro e viu o antigo zagueiro trabalhando.

"Ele me perguntou: ‘Ô garoto, que você está fazendo aqui?’ Respondi: ‘Larguei o futebol’ Ele disse: ‘Está louco? Você vai voltar para ser jogador’. Retruquei: ‘Mas presidente, vocês não me dão nada. Não tenho condição de voltar’. Ele falou para me apresentar na segunda-feira que iria regularizar a situação".

"Eu tinha acabado de começar e não sabia mexer nas máquinas ainda, só montava e desmontava pneu. Estava no começo de trabalho. Quando Deus tem um proposito na nossa vida não adianta você querer ir para outro lado", afirmou.

"Falei com meu pai que disse: ‘Se é o teu sonho vai atrás’. Eles me prometeram um dinheiro e não me deram (risos). Meu treinador era o Lance, ex-jogador do Corinthians, me daria uma bicicleta, mas o caminho tinha tanta subida que eu iria me cansar mais do que indo a pé (risos)", garantiu.

Destaque no São Paulo

Após jogar um campeonato pelo Palestra, André foi convidado para fazer testes no Paraná. Após ser aprovado, ele jogou uma Copa São Paulo e subiu aos profissionais. Com destaque na equipe, ele passou alguns meses pelo Flamengo, mas não obteve sucesso.

Após quase largar, ele jogou pelo Paysandu antes de virar destaque no Goiás e um dos defensores mais cobiçados o país.

"Eu disse: 'Tenho propostas de times da Itália e da Turquia. Meu sonho é jogar na Europa'. Ele falou: 'Se você prorrogar seu contrato, no fim do campeonato te vendo para um clube'. Renovei por mais dois anos confiando na palavra dele. Só que veio um time de Portugal e ele não quis, e o Luxemburgo me ligou: 'Ô garoto, eu quero que você venha para o Santos, mas o presidente não quer te liberar'. Eles iam pagar um dinheiro e colocar mais três jogadores na troca".

"Eu falei para o [técnico] Geninho: eu não estou feliz. Fiz um acordo e ele não me liberou. Não adianta contar comigo porque a minha cabeça não está aqui. Ele disse: ‘Você vai estragar sua carreira’. Eu entrei na justiça contra o Goiás. Se não fosse essa história do presidente eu não teria entrado".

O defensor pegou uma liminar na Justiça e recebeu uma ligação de Milton Cruz o convidando para jogar no São Paulo.

"O time tinha acabado de ser campeão da Libertadores e do Mundial, quem não ia querer? Eu tenho um carinho muito grande pelo São Paulo não só pelas conquistas, mas pelo clima. O São Paulo era o clube número um pelas conquistas", afirmou

André conta que gostava de ficar depois dos treinos conversando com os colegas de time e soltando pipa no CT do clube.

"Não tinha vaidade, e um torcia pelo outro mesmo com grande diferença de salário. Não tínhamos uma relação somente profissional, mas também fora de campo com as famílias. O elenco era muito forte e o Muricy sabe falar a língua do jogador. É um cara fora de série e sabe lidar com os atletas, apesar de ser um pouco ranzinza (risos)", comentou.

O zagueiro precisou ficar seis meses sem atuar até que sua situação com o Goiás fosse resolvida na Justiça.

"Rogério [Ceni] era super competitivo e gostava de treinar. Se você fosse assim ganhava o cara. Eu sempre gostei disso. Nunca tive problemas com o São Paulo em quatro anos de clube", contou.

Mesmo com o sucesso no São Paulo, o defensor não conseguiu se firmar na seleção brasileira.

"Eu sempre fui muito pé no chão e sabia que não era craque como Thiago Silva, Miranda e Juan. Mas não era um 'zé ruela'. Eu achava que pelo que tinha feito poderia ter tido mais chances na seleção. Fui chamado só uma vez. Tinham caras que fizeram muito menos e tiveram mais chances. Valeu a experiência e o ambiente foi legal", afirmou.

André foi para a Lazio em 2010, onde permaneceu até 2014, quando encerrou a carreira.