Atualmente o Flamengo tem uma das melhores estruturas do futebol brasileiro. Em 2010, sob gestão da presidente Patrícia Amorim, o clube iniciou a reforma do CT do Ninho do Urubu e, em 2016 e 2018, Eduardo Bandeira de Mello inaugurou o pimeiro e segundo módulos do centro de treinamento, respectivamente, hoje um dos mais modernos do país. Entretanto, segundo um ex-jogador que passou pelo time, a realidade do Rubro-Negro no início dos anos 2000 era bem diferente da atual.

Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br , o ex-meia Lopes, que nos gramados recebeu o apelido de "Tigrão", falou sobre a estrutura que encontrou no clube carioca em 2003, ano em que atuou por lá. Na época, o Flamengo ainda treinava nas instalações da sua sede social, na Gávea, na zona sul do Rio de Janeiro. O local posteriormente passou por reformas.

Até então jogador do Palmeiras , o ex-jogador, hoje com 41 anos, chegou ao Rubro-Negro no ano seguinte ao rebaixamento à Serie B do Campeonato Brasileiro com o Alviverde, em 2002. E apesar do pouco tempo que ficou na Gávea, tendo disputado apenas cinco jogos e anotado um único gol, Lopes revelou que encontrou uma estrutura que deixava a desejar no clube carioca.

"O vestiário gotejava muito, mau cheiro até para você trocar de roupa para ir treinar, realmente tinha teias de aranha na sala de musculação e tinha que limpar. Isso aí tudo é verdade, não tem que esconder nada, é a realidade. Foi fato o que aconteceu. O Flamengo era grande no nome, mas na estrutura deixava a desejar a muitos clubes pequenos aí na época", começou por dizer.

Em relação à equipe, que tinha nomes de peso da época como Athirson, Felipe e Fernando Baiano, e era comandada pelo técnico Evaristo de Macedo, "Tigrão" revelou algumas outras questões internas do time e também lembrou que, na época, o Flamengo passava por problemas financeiros.

"Tinha problema de tocar a bola, jogadores da base que não se falavam que já estavam no elenco há muito tempo, jogadores que não aceitavam contratações novas, e daí foram cortando essas coisas. Estar no Flamengo todos sabem que é diferente porque muita coisa grande acontece lá dentro e as pessoas que já estavam lá já sabiam disso. Eles ficam até com um pouco de ciúmes até para que, se você se destacar, já fica tomando espaço para que eles se destaquem. Mas eu achava o contrário, um time para se destacar tem que ser todo mundo junto porque aí todos se destacam, agora se um tem melhor qualidade do que o outro, isso aí não tem como negar e nenhum clube vai disfarçar isso", prosseguiu.

"A parte financeira do Flamengo devia muito. Eu fiquei lá e não recebi um mês, nem um pinguinho (risos). Até hoje (não me pagaram)", concluiu.

Ainda sobre a sua ida para o gigante carioca, o ex-jogador lembrou que, na época, o seu desejo era permanecer no Palmeiras, mas que por algumas outras questões acabou se transferindo de São Paulo para o Rio de Janeiro. Apesar da situação que vivenciou na Gávea, Lopes exaltou a grandeza do Rubro-Negro e também destacou o fato de ter conseguido realizar o sonho do pai de jogar no Flamengo.

"Quando eu cheguei no Flamengo, a questão de eu ter ido para lá foi de empresário e clube. Eles se acertaram lá e eu não queria ir, queria ficar no Palmeiras. A questão não era ir para o Flamengo, a questão era permanecer no Palmeiras, aonde eu já queria ficar. Só que uma das brigas que eu tive foi com o Mustafá [Contursi, presidente do Palmeiras] pelo fato de ele dar prioridade a um treinador que não tinha histórico nenhum com o Palmeiras, pelo contrário, só contra. Para mim, pesou muito, eu fiquei muito triste. Aí a minha ida para o Flamengo só me entristeceu mais porque foi de um forma que eu não estava afim de ir, da maneira que foi feita. Fiquei chateado por isso, mas nada contra o Flamengo, até porque o Flamengo é um grande clube, você sabe que hoje é um clube a ser batido no geral e de grandes nomes do futebol brasileiro, todos querem jogar no Flamengo... É o clube de Zico, daquela galera toda, a maioria queria vestir a camisa do Flamengo. Isso foi até um sonho realizado para o meu pai, que é flamenguista, de eu estar jogando lá", disse.

"Mas o Flamengo não tinha capacidade financeira para manter a gente lá, com a estrtutura, as condições do campo. Até há uns tempos atrás conversei com o Jorginho e ele falou 'se você for lá hoje ver, você vai tomar um susto'. Antigamente era totalmente diferente e, realmente, claro que as coisas têm que mudar para melhor, não tem que ficar o que era, senão volta à estaca zero, como estava na minha época. Se não mudasse, iria ficar horrível", complementou.

Lopes ainda falou sobre o ex-treinador Jair Picerni, que levou o Palmeiras de volta à elite do futebol brasileiro em 2003, conquistando o título da Série B. Segundo ele, o técnico foi o principal responsável pela sua saída do Alviverde no início daquela temporada.

"(Não tinha) problema nenhum (com ele), simplesmente não se identificou comigo, não falou comigo nada, eu me prontifiquei a falar com ele, sequer abriu a sala, e para mim é um cara sem caráter. O cara que faz um negócio desses e não tem estrutura para conversar com você, é mau caráter. Ele tem que explicar para você porque não te quer lá, ele está comandando um clube no qual eu faço parte. O clube me paga salário, eu tenho que exercer pelo clube, não pelo Picerni. Ele tinha que me explicar porque eu queria saber e ele foi mau caráter nessa parte de não abrir as portas do vestiário dele para falar comigo. Eu lembro muito bem porque me fez mal e, quando faz mal, você não esquece nunca", finalizou.

Depois da curta passagem pelo Flamengo, o ex-meia se transferiu para o rival Fluminense , ainda em 2003, aonde ficou até o final da temporada. Foram 32 jogos e três gols marcados pelo Tricolor.

Nesta terça-feira (20), o FOX Sports transmite ao vivo a estreia do Rubro-Negro na fase de grupos da Conmebol Libertadores 2021, contra o Vélez Sarsfield , na Argentina, a partir das 21h15.

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