Enquanto assistia em Recife-PE a decisão por pênaltis da final da Copa do Mundo de 94, João Amaro fez uma promessa: se Roberto Baggio perdesse a última cobrança da seleção italiana, ele iria batizar seu filho que iria nascer com o nome do craque italiano. O camisa 10 de Itália isolou a penalidade, o Brasil quebrou o jejum de 24 anos sem títulos e Galvão Bueno, locutor da TV Globo, ficou imortalizado com o grito de "É tetra" abraçado com Pelé.

Mas existia um problema: sua esposa era contra a "homenagem" e queria colocar o nome do garoto de Douglas. A solução encontrada foi chamar o recém-nascido de Douglas Baggio de Oliveira Costa.

Pouco mais de 25 anos depois daquela final, o garoto tornou-se destaque do Santo André , única equipe com 100% de aproveitamento no Paulistão . Antes disso, porém, muita coisa aconteceu com o jogador com sobrenome de craque.

Sobrinho de Carlos Alberto, um jogador profissional de futsal, Douglas Baggio começou muito cedo no Santa Cruz, pelo qual se destacou. Quando sua família se mudou para o Rio de Janeiro, ele foi reprovado em um teste no Fluminense antes de entrar no CFZ-RJ, clube que pertence a Zico.

Após dois meses, ele se destacou em um amistoso contra o Flamengo foi contratado pelo time rubro-negro.

"Era um sonho, minha família nem acreditava. As coisas aconteceram naturalmente, aprendi muitas coisas na base. Fiz uma história muito bacana lá dentro. Tenho um carinho muito grande pelo clube”, disse Baggio ao ESPN.com.br .

Em 2012, ele fez 72 gols na base e chegou a ser monitorado por vários clubes europeus como Barcelona, Real Madrid, Milan e Roma.

"Não cheguei a ter proposta oficial, mas lembro que vários clubes me observaram. Por eu chamar Baggio chamava atenção de times italianos e saiam muitas matérias fora do Brasil", contou.

Ele chegou a completar alguns treinos do profissional e foi apelidado de Paulo Nunes por Renato Abreu. Depois de jogar três edições da Copa São Paulo, foi efetivado no elenco profissional em 2015.

"Foi uma experiência muito bacana porque convivia com profissionais que só via pela televisão: Guerrero, Sheik, Juan... Era uma sensação muito boa e pude aprender muito. Eles eram muito humilde e nos ensinavam".

Na Gávea, Baggio foi comandado por Vanderlei Luxemburgo.

Com apenas quatro jogos oficiais, Baggio Meu primeiro gol. "Sensação foi muito boa. A torcida do Flamengo vibrou e foi muito especial!", afirmou.

"O Luxemburgo era nosso treinador e tinha trabalhado no Real Madrid. Eu vendo aquele cara me treinando foi muito bacana. Ele gostava de brincar com a gente que vinha da base porque era muito tímido por estar por lá".

Mesmo tendo se destacado muito pela base, Baggio fez apenas quatro jogos oficiais e marcou um gol.

"Acho que não tive muitas oportunidades por causa do meu tamanho porque sou baixo. Ou talvez não, poderia ser só uma questão de opção dos treinadores mesmo. Eu fui para muitos jogos no banco de reservas, mas não entrava. Não guardo rancor nenhum".

Sem espaço no Flamengo, Douglas Baggio foi emprestado para jogar a Série B de 2016 pelo Luverdense.

"Eu queria ter tido mais oportunidades que outros tiveram, mas precisava jogar para aparecer. No começo achei que não daria certo, mas foi uma experiência muito boa porque brigamos pelo acesso à Série A".

O jovem ainda passou por Ceará, Luverdense, Mirassol e Boa Esporte-MG antes de chegar ao Brasil de Pelotas, em 2019.

"Foi um ano muito complicado para mim porque sentia muitas dores nos treinos e nos jogos. Eu me lesionei, precisei operar e quando voltei não tinha mais espaço. Fiz poucos jogos entrando do banco de reservas".

No fim do ano passado, ele foi contratado para o Paulistão de 2020 pelo Santo André por indicação do técnico Paulo Roberto.

"Eu não pensei duas vezes para vir porque é o melhor estadual do país. É um renascimento na minha carreira. Está sendo um ano maravilhoso para mim e a minha família. Curioso que eu já tinha jogado contra o Santo André na Copinha de 2014 e fiz um gol", recordou.

Desde então, Baggio já marcou dois gols e deu duas assistências. A equipe do ABC tem três vitórias em três jogos e lidera o grupo do Paulistão.

"É um clube bem estruturado, que te dá todo apoio. É uma torcida muito legal. Em pouco tempo estou gostando muito. Espero dar muitas alegrias e fazer gols. Queremos fazer uma campanha muito brilhante por aqui. Hoje estou mais experiente e tenho mais bagagem".

O próximo desafio do Santo André é contra o Guarani no Brinco de Ouro, neste domingo.

"Nosso começo foi brilhante, mas não conquistamos nada ainda. As coisas tem que ser passo a passo. Ainda temos nove jogos muito difíceis pela frente e temos que pensar em jogo a jogo. Nosso time está fechado e estamos com os pés no chão. Em cada jogo a gente está dando a vida porque é o nosso pão de cada dia".