Em maio 2011, Gustavo Silva Conceição viveu uma grande mudança em sua vida ao ser contratado pelo Flamengo . O zagueiro, que havia saído do Boavista-RJ, atuou ao lado do craque Ronaldinho Gaúcho, foi comandado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo e ganhou o apelido que carregaria pelo resto da carreira: Gustavo Geladeira.

“Tinha acabado de chegar e como era uma grande chance eu estava levando os treinos muito a sério (risos). Eu chegava um pouco mais firme e surgiu o apelido. O [zagueiro] David Braz disse: ‘Você parece uma geladeira’ (risos). Era bem carinhoso e virou uma marca até hoje”, contou o defensor, que não poupava nem mesmo o astro do time rubro-negro.

“Uma vez cheguei um pouco mais forte no Ronaldinho em um treino. Ele só olhou para trás e disse: 'Cuidado, negão! Vou começar a deixar o cotovelo' (risos). Todo mundo começou a rir, inclusive eu. Daí pedi desculpas. Ele sempre entendeu porque sempre falava para mim: ‘Aproveita a oportunidade, Gustavo’. Todo mundo se sensibilizou com a minha história porque sabe que é difícil hoje você chegar de um time menor para o Flamengo, foi uma grande conquista. A gente precisa todo dia dar o nosso melhor. Às vezes eu passava um pouco do limite porque queria mostrar, correr e chegar mais forte”, recordou.

Antes de chegar à Gávea, o zagueiro havia começado em escolinhas da cidade de Atílio Vivácqua (ES). Após ser levado pelo ex-jogador Bismarck ao Rio de Janeiro, foi reprovado em um teste no Bahia. Passou pelo Tigres-RJ, CRB, Ipatinga e Duque de Caxias antes de chegar ao Boavista, no qual foi vice-campeão da Taça Guanabara.

“Foi um passo gigantesco na minha carreira porque eu já tinha 25 anos, mas era tudo muito novo. Eu não tinha experiência de time grande. Eu era fã dos caras e de uma hora para outra estava jogando com eles. Foi tudo muito rápido e fiquei muito feliz”, relatou.

Carinho por Ronaldinho

O primeiro contato de Gustavo Geladeira com Ronaldinho Gaúcho foi na derrota do Boavista para o Flamengo por 3 a 2, no Moacyrzão, em Macaé, pela sexta rodada da Taça Guanabara.

"O primeiro gol que ele fez no Flamengo foi de pênalti contra a gente. O Rio estava uma loucura, uma euforia, Eu cheguei nele e falei todo cheio de vergonha: ‘Você prometeu a camisa pra alguém? Tem como me dar a camisa?’ Ele na mesma hora sorriu, sem nem pensar ele tirou e me deu na maior simpatia. Eu falei: 'Hoje é a realização de um sonho jogar contra você'. Ele respondeu: 'Que é isso, rapaz!' Me deu um abraço e saímos juntos do gramado. Tenho ela até hoje guardada em um quadro em casa. Só faltou autografar (risos)", contou.

Depois disso, ele ainda enfrentou o time rubro-negro na final da Taça Guanabara no Engenhão, mas também saiu derrotado por 1 a 0, com um golaço de falta de R10. “Eu fui bem nesse jogo. Eu estava bem fisicamente e com muita confiança. Nós perdemos, mas mostrou que eu estava preparado, fizemos uma grande partida”, relatou.

Após o final do Carioca, ele foi cobiçado por algumas equipes, mas foi contratado pelo Flamengo por indicação de Luxemburgo. Ao chegar à Gávea, o zagueiro ainda estava um pouco assustado, mas contou com a solidariedade de Ronaldinho.

“Ele tem um coração enorme, é um grande amigo e me deu muitos conselhos. Eu chegando ao Flamengo no primeiro dia ele me deu um abraço e me disse: ‘Estamos juntos, o que você precisar pode contar’. É um ser humano incrível. Me deu uma energia muito grande porque é um cara que sempre estava conversando comigo”, agradeceu.

“Aonde o Ronaldinho chegava parava tudo, arrastava uma multidão. Já vi em aeroporto fazerem filas enormes para pegarem autógrafos e tirarem fotos. E ele atendia todo mundo, na maior simpatia. Nunca tinha visto isso na vida. Não existe um jogador em atividade no Brasil que faz isso. Não era só torcedor do Flamengo, eram de todos os clubes por causa do carisma. Todo mundo gosta dele”, relatou.

O momento mais inesquecível para o defensor foi a épica vitória de 5 a 4 do Flamengo sobre o Santos por 5 a 4, pelo Campeonato Brasileiro de 2011. Geladeira viajou para a partida, mas foi cortado e viu da arquibancada da Vila Belmiro o shows de Neymar e Ronaldinho Gaúcho.

“Estávamos perdendo por 3 a 0. Um parceiro falava: ‘Como vamos chegar no aeroporto no Rio?’ Eu respondi: ‘Caramba, nem fala. Podíamos fazer um gol para não ficar tão feio’ (risos). Daí, teve aquela loucura, uma virada histórica. Esse dia me marcou muito no vestiário, ver a alegria da rapaziada. Para o Ronaldinho era muito natural. Eu via o que ele fazia nos treinos, já sabia da qualidade. Não foi muita surpresa porque víamos muito isso”, contou.

Após a demissão de Vanderlei Luxemburgo, Gustavo Geladeira perdeu espaço no elenco e resolveu sair da Gávea depois ter feito apenas seis jogos. Ele passou por Atlético Goianiense, Ceará e Vila Nova antes de chegar ao Orlando City, no qual atuou com Kaká. Depois, defendeu Mohun Bagan (Índia), Londrina e Boa Esporte, seu último time. Após rescindir com a equipe mineira, o zagueiro voltará ao Boavista, clube no qual tem contrato até 2019.

Dono de grife feminina

Antes de se reapresentar ao time carioca, em novembro, o defensor de 32 anos investe em uma loja de roupas femininas em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

"É um ramo novo. A minha esposa gosta muito e tivemos a ideia de montar um negócio para quando eu parasse de jogar futebol. Veio essa chance de abrir um empreendimento e compramos uma lojinha para a gente. Minha esposa tem se dedicado muito e fazendo alguns cursos, estamos muito felizes. Ela ficará ainda na linha de frente e eu vou continuar minha carreira".

A ideia do zagueiro é criar a própria marca e ter uma confecção para desenvolver os modelos de roupas.

"Teremos vestidos, roupas, body, uma série de coisas. Depois quero montar uma loja masculina, que seria um futuro empreendimento, fiz orçamento e se Deus quiser fecharemos logo isso. Estamos pensando alto", projetou.