Ex-consultor científico da Seleção e professor nos EUA implementou no Brasil método utilizado pelo Flamengo; conheça história

Gainesville é conhecida por abrigar a Universidade da Flórida (UF), uma das principais dos Estados Unidos e destino de estudantes do mundo inteiro. O local onde o Flamengo faz sua pré-temporada tem 145 mil habitantes - deste montante, 55 mil estão ligados à faculdade. Estima-se que pelo menos mil brasileiros vivam na cidade, e a maioria estuda e/ou trabalha na UF.

É o caso de Orlando Laitano, gaúcho que chegou a Gainesville há 10 anos e hoje é o diretor do laboratório de fisiologia muscular e ambiental da universidade. Professor e pesquisador, o brasileiro recebeu membros do departamento de saúde e ciência do Flamengo na terça-feira.

A relação com o Flamengo e com o futebol vem de muitos anos. O Rubro-Negro é um dos clubes, entre muitos outros brasileiros, que utilizam protocolo de hidratação estudado e implementado no Brasil por Orlando Laitano.

- Participo de um projeto que promove pesquisas na área de hidratação e nutrição esportiva. Um dos processos que criamos foi a individualização da estratégia de hidratação de jogadores de futebol. Isso foi parte do meu projeto de mestrado há muitos anos. Fui um dos primeiros brasileiros a aprender a técnica de colher e analisar o suor durante o esforço. Meu orientador desenvolveu essa técnica na Inglaterra, e os clubes começaram a me convidar quando voltei para o Brasil. Comecei a fazer essas análises de perda de sal pelo suor e começamos a individualizar a estratégia de hidratação dos jogadores. O próprio Flamengo usa o nosso protocolo - explicou Orlando.

Orlando Laitano, professor e pesquisador da Universidade da Flórida — Foto: Emanuelle Ribeiro

O brasileiro faz estudos para o exército norte-americano e para o Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Uma das linhas de pesquisa foca em como o calor interfere no desempenho físico. Os resultados obtidos por Orlando e sua equipe são públicos e muitos ganham destaque nas páginas das principais revistas de ciência mundo afora. O pesquisador orienta estudantes de graduação, e quase metade dos que trabalham com ele no laboratório é brasileira.

As descobertas e o currículo de Orlando o fizeram chegar à seleção brasileira em 2013 para a Copa das Confederações, como consultor da comissão médica. No ano seguinte, o fisiologista presenciou um dos episódios mais traumáticos da história da Seleção: a eliminação para a Alemanha na semifinal após derrota por 7 a 1, a maior goleada sofrida pelo Brasil em Copas do Mundo. Experiência que o fez mudar os rumos da carreira.

- Trabalhei com a seleção brasileira desenvolvendo estratégias para individualizar o que cada atleta bebia para repor especificamente as perdas de sal pelo suor e, assim, potencializar a resposta muscular. Se o atleta sua demais e tem uma perda hídrica e eletrolítica muito grande, o desempenho vai ser menor. Foi especial trabalhar com a Seleção numa Copa do Mundo no Brasil. Infelizmente o Brasil perdeu por 7 a 1 e eu fugi para os Estados Unidos (risos) - contou o brasileiro.

- Costumo dizer para os meus alunos que o motivo de eu ter virado professor aqui foi parcialmente em função do 7 a 1, porque se o Brasil tivesse vencido sabe-se lá onde eu estaria. As histórias se conectam. Em função de ter sido um resultado tão traumático para os brasileiros não é uma coisa que comento muito com as pessoas. Com 30 minutos já estava 4 a 0, e falo nas minhas palestras que ninguém desidrata em 30 minutos. Então o resultado não se explica por não termos tido uma estratégia de hidratação adequada - brincou Orlando.

Orlando trabalhou com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014 — Foto: Reprodução


Profissionais do Flamengo fizeram uma visita técnica ao laboratório de Orlando na terça-feira. Claudio Pavanelli, recém contratado para assumir a coordenação de ciência e performance do clube, estudou na Universidade da Flórida e fez carreira acadêmica antes de iniciar sua trajetória nos esportes de alto rendimento. Foi fisiologista do Rubro-Negro entre 2011 e 2015.

- É fundamental a gente estar ligado à ciência e à prática de uma forma íntima. As duas pontas precisam estar ligadas. A ciência precisa ser estimulada para responder aquilo que a gente precisa no nosso dia a dia. Meu objetivo é alinhar a expertise que a gente tem no futebol com a ciência e a tecnologia para que a gente aplique o melhor trabalho possível. A estrutura que o Flamengo tem hoje nos traz grandes expectativas - afirmou Cláudio ao ge .

Paulo Cavalcanti, Arthur Peixoto, Claudio Pavanelli, Orlando Laitano, Luciano Capelli e Fernando Sassaki — Foto: Emanuelle Ribeiro

Ele esteve na UF acompanhado de outros profissionais do clube: o chefe médico Fernando Sassaki, o fisiologista Luciano Capelli, o preparador físico Arthur Peixoto e o nutricionista Paulo Cavalcanti. Cláudio estava morando e trabalhando nos Estados Unidos e se apresentou ao Flamengo em Gainesville. No dia 19, retornará com o time para o Brasil. Ele vai chefiar a área de ciência do esporte de todo o futebol rubro-negro.

- A vinda do Flamengo traz para nós a oportunidade de expor nosso trabalho, mostrar que há professores atuando com pesquisa em uma das melhores universidades do país. Cláudio é um dos melhores. Excelente profissional, uma das maiores referências na área da fisiologia do exercício aplicada ao futebol. Quando eu era estudante eu seguia os estudos dele. Foi treinado academicamente por grandes mentores e tem uma experiência vasta em esportes - elogiou Orlando Laitano.

Em Gainesville, o Flamengo usa a estrutura de esportes da UF para se preparar para a temporada. O time treina no estádio Donald Dizney, do futebol feminino, e no Ben Hill Griffin, do futebol americano. O Rubro-Negro fica na cidade até o dia 18 de janeiro, quando viajará para Fort Lauderdale. No dia 19, vai enfrentar o São Paulo no estádio do Inter Miami e, em seguida, retornará ao Brasil.

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Fonte: Globo Esporte