Renato Paiva, técnico do Independiente del Valle, falou sobre a pressão sofrida por Paulo Sousa no Flamengo

Um dos vários técnicos portugueses na disputa da atual edição da Conmebol Libertadores , Renato Paiva analisou a situação do compatriota Paulo Sousa, que sofre uma enorme pressão no Flamengo nos últimos dias, mas ganhou um respiro após a vitória por 2 a 0 sobre o Sporting Cristal na estreia da competição sul-americana.

Atualmente no Independiente del Valle , o português trabalhou por mais de uma década na base do Benfica e conheceu muito bem a forma de comandar de Jorge Jesus. Em entrevista ao ESPN.com.br , Paiva afirmou que o sucesso obtido pelo "Mister" na Gávea é uma "sombra" para os sucessores.

“O Brasileiro é talvez o campeonato mais difícil do mundo. Não só pela densidade de jogos e pouco tempo para treinar, mas também pela quantidade grande de times que brigam pelo título. Em Portugal e na Espanha são três, mas no Brasil é um número muito maior. Quando o sarrafo está lá em cima, mais difícil é continuar uma história de sucesso. Uma coisa é continuar uma história de sucesso tendo dois ou três rivais, pode ser mais possível, mas no Brasil é muito complicado. Jorge Jesus deixou uma marca e um legado impressionantes, e o Abel Ferreira também deixará quando sair do Palmeiras . O Paulo foi um grandíssimo jogador e como treinador já deu suas provas. Não vai ser fácil”.

Após perder a Supercopa do Brasil e a final do Carioca para o Fluminense, o trabalho de Pulo Sousa foi bastante questionado. Além disso, o português enfrenta uma crise nos bastidores com alguns jogadores do elenco, algo comum até mesmo com técnicos do passado, como o vencedor Jorge Jesus .

“Estava no hotel assistindo ao "Linha de Passe" da ESPN e vendo o que diziam sobre o Paulo Sousa, não é fácil. É um vestiário de vencedores, que venceu muito e jogadores com muito peso e hierarquia, às vezes mais do que ser um treinador é preciso ser gestor numa realidade dessas. Mas treinar clube grande é isso, nunca vai ter vida fácil. E o treinador precisa se preparar para isso. E o Vitor Pereira enfrentará essa pressão no Corinthians porque é um gigante que não é campeão há algum tempo, há pressão no Luis Castro no Botafogo e no Abel para ganhar um Brasileiro no Palmeiras . Vida de treinador é isso”, disse Paiva.

“Vi que o Flamengo em seis meses teve vários treinadores. É impossível fazer um bom trabalho em pouco tempo. Peço aos treinadores é que as pessoas tenham paciência e os deixem trabalhar. Claro que tem horas que precisa sair porque o trabalho para de evoluir. Lembro que o Guardiola estreou no Barcelona e ficou três jogos sem vencer, imagina se o mandam embora? O que teria acontecido com ele?”

“No Brasil ou em qualquer lugar do mundo, as pessoas esquecem que competem 20, mas no fim só vence um. E não significa que os outros tenham feito mau trabalho. As pessoas precisam olhar para o processo e não somente para os números. O processo é qualidade de jogo, se chega às finais. O Abel perdeu algumas finais, imagina se o mandam embora? Não teria vencido o que venceu hoje. O Jesus perdeu em uma temporada de Benfica todos os títulos, mas na outra venceu tudo (na primeira passagem). Isso é para pessoas que olham para o processo e a evolução coletiva e individual. Portanto, paciência não somente com treinadores portugueses, mas com os brasileiros. Por favor, paciência!", pediu.

Renato Paiva usa como exemplo a própria história. Ano passado, ele foi escolhido para a vaga de Miguel Ángel Ramírez, que havia acabado de ir para o Internacional após vencer a Sul-Americana de 2019 com o clube equatoriano.

“Quando saí do Benfica para o Del Valle falaram: ‘Vai para um país que não conhece? Você pode treinar o time A do Benfica um dia. Tem certeza?’ Fui substituir o Ramírez, que venceu muito e deixou um sarrafo muito alto. Era muito fácil para mim dizer que não queria, mas o treinador português tem isso, essa ambição e acreditar no trabalho”, finalizou.