“Esperava cenário até pior”: os ecos das brigas de Botafogo e Flamengo no STJD, Bepe e MPRJ

As brigas dentro e fora do estádio, com torcedores do Flamengo no setor de alvinegros dentro do Nilton Santos, provocam novas discussões sobre a segurança em clássicos nos estádios do Rio de Janeiro. Não foi por falta de policiamento – a proporção policial militar para torcedor, por exemplo, foi superior ao da semifinal da Libertadores, quando foram convocados 800 PMs – e também não houve surpresa com a quantidade de confusões no entorno do jogo.

- Eu estava me preparando para um cenário até pior. De realmente ter uma quantidade muito grande de torcedores do Flamengo juntos na arquibancada e aquela briga de confronto generalizado que é difícil até de intervir. Isso não aconteceu. Em compensação, do início do jogo até o final, toda hora tinha um foco de confusão, pois os torcedores entendiam que alguém era Flamengo e já queriam partir para agredir aquele torcedor – contou o tenente-coronel do Batalhão Especial de Policiamento em Estádios (Bepe), Silvio Luis.

Antes da partida, na reunião de segurança realizada na Ferj, que teve representantes de clubes e de outras entidades, como Polícia Militar, Guarda Municipal, Ministério Público, entre outros, Silvio Luis fez alerta ao Botafogo dos riscos de entrarem torcedores do Flamengo em setores destinados aos mandantes.

O Flamengo se posicionou em sua conta oficial no Twitter sobre a confusão no Nilton Santos.

Foram designados 354 policiais militares para o jogo – pelos 23 mil presentes, a proporção era de um policial para cada 65 pessoas presentes no estádio. Contra o Grêmio, na semifinal da Libertadores, este número foi de 800 policiais para os quase 70 mil presentes – um para cada 87 torcedores.

O reforço foi para atender a jogo de alto risco, de bandeira laranja, como tem sido classificados os jogos no Maracanã – embora o grupo de trabalho que criou novos protocolos no antigo Maior do Mundo não atue ainda nem no Nilton Santos e nem em São Januário.

- Mesmo sem ter ingerência direta nesse esquema de segurança no Nilton Santos, existia preocupação existia para esse Botafogo e Flamengo. Experimentalmente colocamos a bandeira laranja para o clássico, que já é risco alto. Mas era previsível a situação de flamenguistas entrarem e serem hostilizados no lado do Botafogo como também havia risco de as organizadas do Flamengo invadirem o lado da torcida do Botafogo, o que tornaria uma tragédia ainda maior – comentou Claudio Varela, promotor do Ministério Público, coordenador do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST/MPRJ).

Policial ameaça torcedor na arquibancada: foram oito detidos e 70 flamenguistas retirados do setor alvinegro — Foto: André Durão/GloboEsporte.com

Policial ameaça torcedor na arquibancada: foram oito detidos e 70 flamenguistas retirados do setor alvinegro — Foto: André Durão/GloboEsporte.com

- O representante do Botafogo foi alertado sobre isso e se manteve intransigente de não aumentar a carga de ingresso do Flamengo em prol da segurança. Tudo bem, no primeiro turno o Flamengo teve 90% contra 10% dos botafoguenses. O Botafogo não está errado, mas não imperou bom senso neste caso – disse Varela, lembrando que eram apenas três mil ingressos para os rubro-negros.

O procurador do MPRJ lembrou que a expansão do plano de segurança para outros estádios do Rio vai depender de pedidos dos clubes. Ou seja, requerimento de Botafogo e Vasco, para o Nilton Santos e São Januário, especificamente.

- Estamos disponíveis. até porque é uma forma desses clubes se comprometerem com a segurança dos jogos. Se o Botafogo tomar decisão como essa (de ontem) prejudica a segurança. Porque é claramente um jogo em que ia dar confusão e deu. Não era preciso ser nenhum profeta para saber disso - lembrou Varela, citando também o clássico em São Januário de 2017 entre Vasco e Flamengo.

- Todo mundo sabia que aquele jogo não podia ser em São Januário e aconteceu aquele tumulto todo. Mais um triste caso de se pensar mais na questão esportiva, na obediência fiel ao regulamento em desfavor da segurança.
Torcedores do Botafogo agridem homem à paisana no clássico contra o Flamengo, no Engenhão — Foto: Edgard Maciel de Sá / GloboEsporte.com

Torcedores do Botafogo agridem homem à paisana no clássico contra o Flamengo, no Engenhão — Foto: Edgard Maciel de Sá / GloboEsporte.com

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Saldo de oito detidos e 70 torcedores do Fla retirados de setor

A procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) analisa as imagens e deve abrir denúncia contra o Botafogo, mandante da partida, pelas brigas dentro do estádio. Antes do jogo, o Alvinegro fez alertas de segurança sobre o jogo e informou que “aumentou o seu efetivo de segurança em 100%, se manifestou para que os alvinegros compareçam com a camisa do clube e alertou institucionalmente o próprio clube adversário, na expectativa de que oriente e reforce aos seus torcedores para que se concentrem apenas no setor a eles destinados.”

Silvio Luis, do Bepe, registrou oito detidos por brigas e também desacato no estádio. Também foram identificados e retirados do setor leste 70 torcedores do Flamengo. Ele esperava mais problemas. O tenente-coronel do Bepe relatou também que torcedores alvinegros lembraram que não estavam vestidos com a camisa do Botafogo porque não costumam usar em dias de clássico, justamente por conta de violência.

Carli briga com Bruno Henrique numa das muitas confusões de Botafogo e Flamengo no Nilton Santos — Foto: Jorge R Jorge/BP Filmes

Carli briga com Bruno Henrique numa das muitas confusões de Botafogo e Flamengo no Nilton Santos — Foto: Jorge R Jorge/BP Filmes

- Pela quantidade de torcedores do Flamengo que estavam ventilando que teriam comprado ingressos para o setor leste, estávamos bem preocupados. Realmente não foi uma situação boa, foi ruim, mas acabou dando para controlar. Em alguns momentos, retirávamos os torcedores antes deles apanharem, em outros eles já tinham sofrido algumas agressões – disse Silvio Luis.

“As torcidas organizadas envolvidas serão punidas”

Ainda há possibilidade de punição a organizadas. Silvio Luis lembrou que foi iniciativa das uniformizadas de ir atrás de torcedor para tentar identificar flamenguistas e, então, hostilizar e agredir.

- Duas coisas são muito importantes: a primeira é que o torcedor compre o ingresso destinado à sua torcida. Isso é muito fundamental. Se existe uma arquibancada com “x” lugares para aquela torcida e os ingressos esgotaram, infelizmente, ele não pode comprar ingresso para acessar o setor da torcida rival. Em contrapartida, não cabe as torcidas organizadas do clube mandante promover um linchamento, ou agressões, porque simplesmente aquele torcedor que ali está, talvez não torça para o mesmo clube.

- Talvez, porque eu tenho relatos de torcedores do Botafogo que, por não estarem com a camisa, foram confundidos com flamenguistas e foram agredidos também. Estamos vendo quais providências iremos tomar. Com certeza as torcidas organizadas envolvidas nesta caça aos torcedores serão punidas. O fato de o torcedor estar ali não torcer para o Botafogo não permite que ele seja agredido ou linchado. Estamos verificando as imagens e tentando identificar agressores.

Fonte: Globo Esporte
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