O Flamengo pegou R$ 40 milhões emprestado, e a ação foi tratada na mídia como um sinal vermelho em meio ao momento delicado por conta do futebol parado no Brasil e em quase todo o mundo devido à pandemia do novo coronavírus e suas implicações, como patrocinadores adiando pagamentos.
Para César Grafietti, consultor de gestão e finanças do esporte, não há qualquer preocupação no caso específico do clube carioca, mas isto não quer dizer que a situação seja a mesma para várias outras agremiações do Brasil.
"Não é nenhum problema. Estamos falando de um valor de R$ 40 milhões, que dentro do orçamento do Flamengo, que dentro do fluxo de caixa do clube, em condições normais, dependendo do prazo, e deve ter tomado uma linha longa, se encaixa", disse o economista em entrevista ao jornalista da ESPN Brasil Mauro Cezar Pereira a seu blog no portal UOL.
"O Flamengo não vai quebrar por causa disso, pelo contrário, ele está utilizando essa possibilidade para garantir a continuidade da operação, mesmo em tempos difíceis", acrescentou, direto de Milão, na Itália, onde está em quarentena já há bastante tempo.
'Vivos-mortos', 'acabar como o Cruzeiro' e 'pá de cal'
Questionado sobre os demais clubes, Grafietti respondeu e até usou Cruzeiro e Portuguesa como exemplos do que pode vir a acontecer com alguns.
"Naturalmente, se o Flamengo tem uma situação dessas e conta com crédito no mercado para buscar, fico imaginando os que não têm crédito. Clubes que vinham se financiando via atraso de impostos ou com empresários e tudo mais... Tem alguns vivos-mortos que vão deixar de viver entre nós por causa da COVID-19."
"Não é ela que vai levar a essa situação, mas será a pá de cal em alguns casos. É muito difícil o clube conseguir sem crédito, sem boa gestão, sem ativos, sem estrutura financeira robusta chegar ao mercado e conseguir uma alternativa de financiamento em momento duro como esse, sinto que alguns clubes vão sofrer muito."
Foi, então, que citou os clubes mineiro e paulista.
"Acabar como o Cruzeiro, por exemplo. Na Série B, sem dinheiro, com baixa expectativa de solução. Mas quem não souber sair do atoleiro pode acabar como a Portuguesa, por exemplo."
O curioso caso do Atlético-MG
Mauro Cezar perguntou, a seguir, se fazem sentido o Atlético-MG ter contratatado o técnico Jorge Sampaoli e as notícias de que o Corinthians possa recontratar o atacante Jô. Grafietti deixou claro que não.
"É curioso, você vê o Atlético reduzindo salários em 25% ao mesmo tempo em que acabou de contratar um diretor de futebol [Alexandre Mattos, ex-Palmeiras] e um técnico pagando salários altos, e fala em contratar atletas que estão fora do Brasil e ainda assim com dívidas pendentes."
"Os dirigentes ainda não entenderam que primeiro você preserva a operação, salários, dia a dia, depois vai atrás dos investimentos. Aí, vai dizer que tem um investidor que está pagando contratação, salário. Bobagem, se você tem pendências e não paga em dia, todo mundo vai sofrer. A situação desses é muito mais complexa do que a daqueles mais organizados."
E os mais organizados são...?
E quais são estes clubes 'mais organizados' do Brasil, questionou Mauro Cezar.
"Flamengo, Palmeiras , Grêmio . O Goiás , que tem uma situação bem cômoda, pelo menos vendo os números que temos aqui."
" Athletico Paranaense , Bahia . Esses estão aptos a aguentar um pouco mais de tempo, mas ninguém vai suportar três, quatro, cinco meses sem jogo. O dinheiro da televisão é fundamental", respondeu Grafietti.