
Um brasileiro pode ter sido o autor de um dos gols mais bonitos do último fim de semana no futebol europeu. Na vitória por 4 a 0 do Dnipro contra o Oleksandria, fora de casa,
Anderson Pico
abriu caminho para os visitantes dando um forte chute de perna direita com efeito em uma cobrança de falta que encontrou o ângulo. A pintura pode não ter sido apenas o destaque do domingo, mas também da carreira do lateral-esquerdo.
Em entrevista por telefone ao
GloboEsporte.com
, Pico não esconde a felicidade, conta da comemoração dos amigos e familiares e admite já ter visto o lance mais de dez vezes
(clique aqui para ver o lance)
.
- Para mim, foi um dos mais bonitos que já fiz até hoje, porque nem eu
pensei que fosse ser tão bonito assim (risos). Chutei para acertar o
gol, mas, quando a bola saiu do meu pé, falei "caraca", foi num lugar
perfeito. Só hoje (segunda-feira) eu já vi umas
dez vezes (risos). Ontem eu cheguei tarde, vi um pouco só. Vários amigos
e
familiares colocaram no grupo, me marcaram no Instagram. Toda hora eu
olho.

Emprestado pelo Flamengo em setembro de 2015, Anderson Pico teve que se acostumar a viver na cultura ucraniana, com dificuldades principalmente no idioma. Com o passar do tempo, veio a adaptação e a felicidade por vestir a camisa do Dnipro. Contudo, nem tudo anda 100% no país. Com a economia em frangalhos, o brasileiro aponta a dificuldade dos clubes se manterem e deixa em aberto o futuro da equipe, que ainda não comunicou aos jogadores os objetivos para a próxima temporada.
- Está sendo gostoso. Está tendo uma mudança na Ucrânia, alguns clubes
estão declarando falência, porque o país está em queda, mas o Dnipro, como um
grande time, está tentando se manter. Eu e minha família estamos bem adaptados,
gostando muito de viver aqui. As crianças estão na escola, ela fazendo o que
fazia por aí. É difícil falar, porque o clube não é que nem no Brasil, que tem
várias pessoas dirigindo. Aqui é só um, o presidente, uma das pessoas mais
ricas da Ucrânia. Para ele, o clube não é o carro chefe. Como tem outras coisas
para viver, tem uma empresa de avião, é dono de banco, dono de metade da
Ucrânia, o clube não é a preferência, mas sim um hobby. Não o conheço
pessoalmente, alguns jogadores o conheceram no meio do ano passado, no final do
campeonato, ou quando chegaram na final da Liga Europa. O vínculo é com o
diretor de futebol. Então, é difícil de falar.

Ao fim do contrato de empréstimo, o Dnipro pode exercer a opção de compra do lateral-esquerdo, o que seria o mundo ideal para Anderson Pico, mesmo com as incertezas no futebol ucraniano. O primeiro desafio longe do Brasil vem encantando o jogador, que comemora a estabilidade, dentro e fora de campo, e o tempo para adaptação no clube ucraniano.
- Cara, independente dos problemas, se o clube tivesse pelo menos uma
posição, sentasse e conversasse, eu queria muito ficar. É muito bom, a cidade
tranquila, a gente mora numa bela de uma casa, o clube nos dá isso. Mas, com
essas coisas acontecendo na Ucrânia, a gente não consegue ter essa certeza. Eu
queria ficar, mas, sinceramente, quero procurar algo que seja certo, no leste da
Europa, quero ficar aqui fora. É uma coisa gostosa a gente poder conhecer fora
do Brasil. É mais organizado, o torcedor muito mais respeitoso com qualquer
situação, entende que existe um período de adaptação, te respeita por isso. Não
é que nem no Brasil, que você joga três partidas ruins, e o torcedor xinga todo
mundo, até o nome do cachorro ele sabe. Aqui respeitam o outro lado, para nós
foi uma coisa diferente. O torcedor vai para torcer, não para xingar, quer
mostrar esse carinho. Por mim, ficaria aqui.
GRATIDÃO AO FLAMENGO

O início de Anderson Pico com a camisa do Flamengo arrancou aplausos da maioria dos torcedores. Com bons jogos, gols e confiança de Luxemburgo, veio a titularidade e nova temporada. Mas a sequência deu lugar a apresentações irregulares e lesão, que prejudicaram a continuidade do lateral-esquerdo no clube do Rio de Janeiro. Com a possibilidade de voltar ao rubro-negro carioca em junho, Pico já adianta: não existe mágoa, mas sim um sentimento de gratidão.
- Lógico, não tenho dúvida nenhuma (que voltaria feliz). Como não volto? Sou funcionário do Flamengo, tenho que continuar até o último instante, dar o meu máximo para cumprir meu contrato. Se eu voltar, jogar seis meses bem para renovar com o Flamengo ou sair para outro clube. Eu não tenho mágoa nenhuma do Flamengo. Foi o Flamengo que proporcionou tudo isso, eu estar jogando de novo, poder voltar a jogar em um
grande clube no momento. O Vanderlei (Luxemburgo), dispenso palavras para falar
dele por ter me dado a oportunidade de jogar no clube de maior expressão do
Brasil, ter sido titular durante um tempo. Não dei sequência, isso me chateou
bastante, mas fiquei chateado comigo mesmo. Em nenhum momento tive mágoa de
ninguém, até porque trabalhei com Rodrigo Caetano nas categorias de base do
Grêmio, um grande profissional, e a gente se deu bem. Quando surgiu a situação
de vir para o Dnipro, a primeira coisa foi sentar eu, meu empresário e ele, que
disse: "Pico, vai, é seu momento". Eu não vinha jogando, Jorge estava bem, era
difícil, mudança de treinador, a torcida batendo demais na gente com relação
aos outros acontecimentos. Mas só tenho que agradecer, não tenho nada contra.
Foi até melhor eu sair e pegar experiência, abrir portas do outro lado do
mundo. Vida que segue.
Anderson Pico estava presente na última vitória do Flamengo diante do Vasco, em fevereiro de 2015, por 2 a 1, pelo Campeonato Carioca - acabou expulso, envolvido em confusão com Bernardo. O lateral-esquerdo se mostrou chateado após a derrota da equipe neste domingo, por 2 a 0, e lamentou a eliminação dos ex-companheiros de time.
- Eu estava falando com a minha esposa quando minha sogra disse que ainda
estava 1 a 0 para o Vasco. Ainda falo com alguns colegas do Flamengo, e é
chato, você sabendo que ainda faz parte do clube, ver o time nessa situação. É
difícil, não tenho nem palavras para explicar, não sei como está a cabeça do
grupo, o que está se passando. Clássico, ainda mais contra o Vasco, é muito
chato perder, ainda mais do jeito que foi. Ninguém gostaria, nem eu. São meus
colegas, não desejaria isso a ninguém, mas o futebol é assim.