Entre a receita bilionária e o amadorismo, Flamengo mantém estrutura para seguir na disputa por títulos em ano eleitoral

O Flamengo se despede da decepcionante temporada 2023 com a certeza de que 2024 estará no topo das principais disputas do futebol brasileiro e sul-americano. Após o jogo contra o São Paulo, às 21h30, no Morumbi, a diretoria vai enfim se debruçar no planejamento para o último ano da gestão do presidente Rodolfo Landim. E entre cortinas de fumaça sobre estádio próprio e criação de uma SAF, está uma estrutura econômica robusta, que arrecada acima de R$ 1 bilhão há dois anos, e por mais uma vez estará a serviço de uma gestão com cara de moderna, mas essencialmente amadora.

É isso que faz o mandatário do clube manter o departamento de futebol intacto. Entre erros e acertos em uma lógica de montagem de elenco sem planejamento estratégico baseado no DNA do clube, o vice de futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel seguirão no comando, com respaldo do presidente, para executar um orçamento milionário, acima dos R$ 200 milhões em contratações, como tem acontecido nas últimas temporadas. É esse recurso que permite ao Flamengo errar como errou em 2023 e seguir apenas fazendo trocas, tanto de jogadores, mas principalmente técnicos, e ainda assim se manter no topo.

As multas rescisórias milionárias viraram troco. A decisão de Landim e companhia de demitir Dorival Jr, trazer Vitor Pereira, depois sustentar Sampaoli no cargo mesmo com um ambiente já completamente desgastado passou por critérios de tentativa e erro. Diante de um orçamento milionário, jogadores seguiram sendo trazidos sob alegações subjetivas, indicação de treinadores e empresários, enquanto o elenco dava sinais claros de carências muito maiores e não conseguia obter novamente uma cara. Com uma folha salarial prestes a explodir, e vários atletas com vencimentos acima de R$ 1 milhão, o Flamengo ainda assim navega em mares calmos do pontos de vista econômico, sustentado por receitas em outras frentes, mas todas baseadas na expectativa de títulos que se criou a partir de 2019.

É assim que a roda promete seguir girando em 2024. O ano eleitoral traz consigo as já conhecidas promessas. Com Landim na tentativa de fazer seu sucessor, e ainda emplacar o projeto de estádio baseado na premissa da venda de uma SAF para custear o plano, o futebol precisará dar resultados para sustentar os discursos políticos. Nesse sentido, a vaga direta na Libertadores a ser confirmada na última rodada do Brasileiro será a senha para grandes investimentos já na janela de transferências de janeiro, mesmo quando os últimos anos indicam uma tendência de maiores gastos no meio do ano.

Até lá, o encaminhamento da temporada já poderá levar a efeitos colaterais políticos, com as definições de candidatos de oposição a Landim e a criação de um ambiente muito tenso, que normalmente atrapalha dentro de campo, vide 2018. O presidente tem indicado o vice-geral Rodrigo Dunshee como seu sucessor, enquanto os concorrentes se anunciam. Eduardo Bandeira de Mello, que foi presidente entre 2013 e 2018, se articula nos bastidores para um possível retorno. Assim como Luiz Eduardo Baptista, dissidência da atual situação, e hoje presidente do Conselho de Administração do Flamengo, com influência sobre diversos conselheiros e membros dos poderes do clube. Bap é hoje o nome mais forte e já deixou claro a ruptura com Landim em diversas oportunidades.

Tite é antídoto contra caos político

No meio do caldeirão político, existe o elemento de equilíbrio. O técnico Tite. Contratado para trabalhar de olho em 2024, já foi capaz de acalmar o ambiente conturbado herdado da era Sampaoli e potencializar uma base de equipe para a próxima temporada. Experiente, não se envolve em questões políticas nem de mercado, mas estabelece critérios de meritocracia que podem influenciar na formação do elenco.

Neles, nomes consagrados não terão vaga cativa. Apesar das renovações encaminhadas, Bruno Henrique e Gabi terminam a temporada como reservas. Contratação indicada por Sampaoli, Allan precisará recuperar a parte física para brigar por posição, e Pulgar termina o ano como o jogador que rendeu e foi mais regular. A recuperação de Cebolinha e a ascensão de Luiz Araújo indicam uma nova ordem colocada em prática por Tite.

Agora, o Flamengo vai ao mercado para tentar compensar as carências. O principal alvo é novamente De la Cruz, do River Plate, por quem o clube deve desembolsar 16 milhões de euros. Cerca de R$ 85 milhões. Haverá busca ainda por zagueiros, laterais e meias. Mas a base está formada. Nas últimas partidas, Tite tem observado jovens e indicado que 2024 pode começar com chances para algumas promessas que ele não conseguiu ver de perto desde que chegou. As joias, porém, estão na vitrine para que o Flamengo possa ir ao mercado com a balança equilibrada nas vendas, o que tem sustentado os balanços financeiros e dado saúde ao clube, mesmo que os títulos não venham.

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Fonte: Extra