Os obstáculos para as obras do estádio do Flamengo e o prazo para entrega do equipamento se transformaram em um imenso debate político, deixando em dúvida se o sonho rubro-negro se tornará realidade até 2029, conforme prometido pela gestão anterior do clube. O ponto central da discussão é uma tubulação de gás que pertence à CEG e ocupa quase 3 mil metros quadrados do terreno do Gasômetro arrematado pelo Flamengo, uma área total de de 88 mil metros quadrados, leiloada pela Prefeitura após desapropriação.
Nos bastidores, o prefeito Eduardo Paes e o deputado federal Pedro Paulo, que desde o início foram parceiros do Flamengo no desafio de disponibilizar o terreno que pertencia à Caixa Econômica Federal, discutem soluções técnicas com pessoas ligadas à própria CEG, e o entendimento inicial é de que a retirada da tubulação de gás não atrapalharia o cronograma das obras, nem aumentaria o custo. A estimativa é que o valor gasto seja na casa dos R$ 50 milhões. E a transferência dure um ano.
Nesta quarta-feira, o novo presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, foi comunicado pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa) que o avanço das obras “está condicionada à definição de uma solução para transferência” da infraestrutura do serviço de gás canalizado, formalizando o que a agência já havia feito com a ex-administração do clube em 2024. Na ocasião e agora, a Prefeitura do Rio sinalizou que arcaria com os custos dessa transferência.
Tudo isso estava combinado com a administração do ex-presidente Rodolfo Landim, que não elegeu o sucessor, Rodrigo Dunshee, no Flamengo. Com isso, o tema foi politizado também na Gávea. Apesar da ampla maioria dos conselheiros ter aprovado a compra do terreno no Conselho Deliberativo, a guerra de narrativas sobre a vontade política de Bap de construir o estádio ainda é constante.
Ao assumir, a nova direção manteve o plano de construir o estádio, mas agora não se sabe para quando . Um estudo de viabilidade econômica foi encomendado da Fundação Getúlio Vargas, desconsiderando os quase R$ 2 bilhões estimados pelos antecessores do clube. A expectativa é que depois do resultado dessa análise a diretoria atual dê novos números em relação a custo da obra, incluindo o preparo do terreno, e como pretende incluir isso no fluxo de despesas sem interferir no desempenho esportivo da equipe nem endividar o Flamengo. Até lá, a nova gestão não quer entrar em discussões políticas nem dentro nem fora do clube.
No comunicado da Agenersa, fica claro a pressão para que o Flamengo negocie o valor para transferência da tubulação com a CEG através da agência e do Governo do Estado. O governador Cláudio Castro, como se sabe, tem sido reiteradamente atacado pelo prefeito Eduardo Paes, que tem pretensões eleitoras para o cargo estadual em 2026. Castro esteve na posse de Bap, mas tinha mais entrada com a gestão de Landim. Paes, ao minimizar a repetição da discussão, deu recado indireto ao que chamou de "adversários ocultos do estádio do Flamengo".