Com mais pontos positivos do que negativos dentro dos 90 minutos em que a bola rolou, a estreia de Filipe Luís como treinador do Flamengo empolgou a torcida rubro-negra e boa parte da opinião pública. Ainda que, como o próprio técnico admitiu, o time tenha se beneficiado de alguns padrões que já eram vistos durante a era Tite — como a pressão pós-perda da bola e a marcação em linha alta —, é bem verdade também que, mesmo com apenas dois dias de treinamento, o novo comandante conseguiu acrescentar alguns pontos promissores no time.
Sem tanto tempo para ir ao campo do Ninho do Urubu treinar seu elenco, Filipe Luís priorizou a exibição de vídeos para preparar a equipe para o duelo contra o Corinthians. Desde a manhã de segunda, quando acertou com a diretoria rubro-negra que seria o novo treinador do time principal, o treinador se debruçou sobre o adversário da última quarta para entender e separar os principais pontos. Horas depois, já no CT, ele começou a mostrar o material para os atletas, assim como foi na terça-feira, quando, ai sim, conseguiu passar orientações no gramado para os titulares.
— Futebol é dinâmico. Não tivemos muito tempo, mas temos que assimilar (as instruções) o mais rápido possível. Não se treina só no campo. Foram passados bastante vídeos, com muito tempo. Então temos que assimilar rápido e já dar sequência no trabalho — analisou o capitão Gerson.
Novo esquema
Entre as novidades, uma das principais foi a entrada de Gabigol, motivada pela mudança no esquema tático. Com um 4-4-2 ao invés do 4-3-3 de Tite, o Flamengo jogou mais aproximado, priorizando a troca de passes que alternava entre velocidade e cadência pelo meio, mas com forte verticalidade nas pontas — Wesley atuou quase que como um ala, enquanto Alex Sandro e Bruno Henrique alternaram bem entre as faixas esquerda e central.
Nesse sentido, Gabigol, que não encaixava com a característica de um centroavante no estilo de Tite, conseguiu ter melhor desempenho. Em vez de atuar mais de costas, para que o time tivesse sucesso nas ligações diretas, e dentro da área, para as bolas aéreas, o camisa 99 teve liberdade para se movimentar e, principalmente, espaço para fazer o tradicional facão nas costas da defesa. O gol não saiu — o atacante até balançou as redes, mas foi anulado com auxílio do VAR —, mas a melhora foi notável.
Além disso, essa ideia de ter uma equipe mais vertical pode fazer também com que o Flamengo finalize mais vezes. Contra o Corinthians, foram 19, sendo sete no gol e duas na trave. Por outro lado, o fato da nítida superioridade, principalmente no primeiro tempo, não ter sido convertida em mais gols é algo que já acontecia com Tite e merece atenção de Filipe Luís.
Time intenso
Outro ponto em que o Flamengo apresentou notória mudança em relação ao trabalho de Tite foi na intensidade ao longo de quase toda a partida, tanto com a bola como sem.
Surpreendeu o ritmo intenso e sufocante que o rubro-negro impôs ao Corinthians. Com muita movimentação, troca de passes rápidos e pressão após a perda da bola, a equipe não deixou o Corinthians jogar.
Na fase ofensiva, a ideia foi ter pelo menos um jogador bem aberto em cada uma das pontas, e o restante livre para se movimentar em torno da bola. Já na defensiva, a ideia foi pressionar no campo de ataque com uma linha alta e muitos encaixes individuais. Dentro disso, Léo Ortiz e Pereira foram peças fundamentais. Até quando o time tinha a bola, a dupla de zaga ficava próxima dos atacantes do Corinthians, seja para tentar roubar a bola ou fazer a chamada “falta tática”, mas sempre com uma distância segura para defender o passe em profundidade.
Por outro lado, é fato também que, na segunda etapa. quando o Corinthians mudou o esquema tático, ficando com cinco homens na linha de defesa e um homem atrás da dupla de ataque, isso embaralhou um pouco o sistema de marcação do Flamengo.