Em Mesquita, clubes do "C20" criam manifesto contra manipulação na 5ª divisão do Rio

Pouco mais de 40 km afastado da reunião de cúpula de chefes de estado de 20 países no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, um grupo de oito clubes da quinta divisão carioca abriu o chamado "C20" nesta terça-feira, na sede do Mesquita Futebol Clube. No município vizinho, não houve feriado, nem exército ou patrulha intensiva nas ruas, mas o primeiro encontro serviu para gerar manifesto contra a manipulação de resultados na Série C do Rio de Janeiro.

Clubes se reúnem contra a manipulação de resultados — Foto: Reprodução

O "C20" foi apelido colocado pelos dirigentes para o primeiro encontro contra a manipulação no futebol. Em dezembro, eles esperam reunir mais participantes entre os 31 filiados da Série C. A próxima competição está prevista para começar em maio de 2025. Neste ano, apenas 10 clubes jogaram - em 2023, dos 22, ao menos sete foram excluídos ou não disputaram jogos agendados por falta de regularização de atletas e outras pendências .

Os clubes calculam que gastem cerca de R$ 100 mil apenas para disputar a competição - entre custos com equipe, de campo, alimentação, transporte e o borderô de cada partida que inclui ambulância e outros pagamentos operacionais para jogos.

O ge esteve em contato com alguns clubes da reunião em Mesquita. Por confidencialidade do encontro, preferiram não abrir todos os nomes de representantes de equipes presentes, mas, em maio, excluíram um mais famoso: William Rogatto. O nome ficou mais conhecido recentemente quando ele foi à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado e disse ter acumulado R$ 300 milhões em apostas e também contribuído para o rebaixamento de 42 equipes nos últimos anos.

Em 2023, três anos depois de ser investigado por manipulação de jogos na Série A3 do Paulistão, Rogatto foi administrador do São José da Série C do Rio - o clube foi um dos três afastados pela Ferj por suspeita de manipulação de resultados. Todos atletas também chegaram a ser penalizados num primeiro momento.

Rogatto chegou a participar do movimento anteriormente e assinou eletronicamente carta enviada para a Ferj com a manifestação de "preocupação em relação à inclusão dos nomes dos clubes da Série C do Campeonato Carioca em sites de apostas". Os dirigentes também enviaram carta semelhante aos senadores Romário, relator da CPI, e Carlos Portinho.

No início do ano, clubes enviaram carta para senadores e para a CPI de Manipulação. Rogatto ainda assinava o manifesto — Foto: Reprodução

Como no G20, os clubes também prepararam manifestos. Um deles traz a seguinte mensagem:

"Os clubes da Série C se uniram em um encontro histórico no Mesquita FC, para reforçar o compromisso contra a manipulação de resultados. Unidos pela ética e pelo fair play, reafirmaram o apoio a todas as iniciativas que combatem esse problema e fortalecem a integridade do futebol. O esporte é mais forte quando jogado com transparência e respeito. Serve para mostrar que os clubes estão unidos com a FFERJ nessa batalha."

Com dificuldades financeiras e de sobrevivência de suas atividades, os clubes querem também incluir aditivo contratual para as próximas competições, com penalidades pesadas contra casos de envolvimento em apostas. Um dos dispositivos prevê que "em caso de suspeita de envolvimento do atleta em manipulação de resultados, seja por meio de participação direta, indireta, conivência ou omissão, o clube poderá, a seu critério e com base em indícios razoáveis, aplicar uma multa no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)".

Da mesma maneira, a existência de "provas contundentes da manipulação de resultados por meio de investigação formal pelas autoridades competentes" permite ao clube rescindir o contrato de trabalho por justa causa, com efeitos imediatos, nos termos do artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), inciso “a” e “b”, que dispõem sobre os deveres de lealdade e probidade do empregado.

Fonte: Globo Esporte