Em entrevista ao 'Toca e Passa', José Boto, do Flamengo, elogia: 'Há muita coisa no Brasil bem melhor do que na Europa'

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Diretor técnico do Flamengo, José Boto foi o primeiro convidado do “Toca e Passa”, o novo videocast do GLOBO, que estreou ontem. No rubro-negro desde a chegada de Luiz Eduardo Baptista, o Bap, à presidência do clube, o português passou a limpo os quatro primeiros meses em que o futebol do time de maior poderio financeiro do país esteve sob seu comando, relembrou alguns casos de sua carreira pela Europa e comentou as especulações em torno do cargo de técnico da seleção brasileira.

Os rumores do interesse da CBF em Filipe Luís te preocupam?

Nós conversamos sobre isso. O Filipe (Luís) é um treinador em ascensão. Na minha opinião, tem tudo para ser um técnico de alto nível mundial. (Por isso), qualquer ida para uma seleção neste momento, se fosse a brasileira, espanhola ou portuguesa, seria um “travão” na carreira dele. Vocês não conhecem nenhum treinador que tenha feito carreira, no início, em uma seleção. As carreiras são feitas nos clubes.

Ele concordou com você?

Tem que perguntar a ele (risos).

E o seu amigo Jorge Jesus, você o recomendaria para a seleção? E indicaria que ele aceitasse, caso fosse procurado?

Se eu pudesse dar um conselho ao Mister, diria a ele para vir, porque acho que seria o topo da carreira dele. Depois de já ter conquistado muita coisa, de muitas experiências em diferentes contextos, poder treinar uma das melhores seleções do mundo, sem dúvida, em termos de carreira, seria muito bom.

Por outro lado, como português, nós não temos nenhum problema que o treinador da seleção portuguesa não seja português. Sei que é uma questão aqui, não é assim tão claro ser um técnico estrangeiro. Mas se calhar, faria bem à seleção ter um estrangeiro conhecedor do futebol brasileiro como é o Jorge Jesus.

Como está a vida no Rio?

A adaptação é muito fácil. Não tem a barreira da língua. Costumo dizer que a cidade é a mais bonita do mundo em termos de beleza natural. E a minha vida também se passa muito dentro do Ninho do Urubu ou no Maracanã. O dia a dia é praticamente todo lá, quase de 9h às 21h no Ninho. Mas a adaptação tem sido mais fácil do que em qualquer outro país em que estive.

Já tem algum prato preferido? E algum lugar que goste de ir quando quer relaxar?

Normalmente a minha forma de relaxar um pouco depois do trabalho é sair para jantar, beber um bom vinho. Ainda estou numa fase de entender quais são os locais que me agradam mais. A culinária é fantástica, não é muito diferente da portuguesa.

E como tem sido a recepção dos torcedores nas ruas?

Até por conta dos resultados (títulos da Supercopa e do Carioca), tem sido excelente. É impressionante a força e a dimensão do Flamengo. Não há nenhum lugar que eu vá e não tenha torcedores que me reconheçam e venham falar comigo.

Como foi a chegada ao Fla? O clube já estava no seu radar?

Sinceramente, na altura que surgiu o convite, não estava. Em setembro recebo uma chamada do Bap (na época candidato) explicando quem era e dizendo que queria ter uma reunião comigo. Eu nunca escondi que gostaria de trabalhar no futebol brasileiro. E eu não só achava que gostaria de trabalhar, como acreditava que poderia acrescentar alguma coisa para fazer o produto mais atrativo. O Jesus disse há uns anos atrás, e foi muito xingado na Europa, que a Série A era mais competitiva do que a Premier League. E eu dou razão, porque é verdade. Se souberem vender este produto, ele tem coisas mais atrativas do que a própria Premier.

É um dos fatores que faz o Brasileiro brilhar mais os olhos e ser a prioridade do Flamengo no ano?

Isso foi uma decisão interna do clube e que tem várias explicações. Do ponto de vista esportivo, ser campeão brasileiro te abre portas para a Libertadores, Mundiais, tudo isso. Do ponto de vista de planejamento, é “mais fácil” ser campeão brasileiro, porque é uma prova de regularidade em que você pode escorregar e recuperar mais a frente. Na Libertadores ou a Champions League, às vezes você tem um dia ruim e pode ser que não atinja o objetivo.

Tem noção da dificuldade do Brasileirão?

Tenho perfeita noção. Desde os tempos que o Jesus esteve aqui, é notório que há um equilíbrio muito grande. E tem as viagens, que são enormes. Quando fomos a Belém, disse para amigos que era como se o Benfica fosse a Moscou. Até aqui no Rio, o pessoal diz “vamos ali”, e nunca é “ali”. É quase metade de Portugal (risos).

E como são as conversas com o departamento médico para montar um planejamento para a temporada? Gerson e Arrascaeta voltaram com problemas físicos da data Fifa, por exemplo.

Partilho muito com o Filipe a ideia de que o elenco do Flamengo nos permite jogar com os melhores. Os jogadores são os melhores para um jogo específico? Vamos usar.

E como está o planejamento específico para o Mundial?

Em termos de logística, está tudo feito. Em relação aos termos esportivos, a competição vai ser melhor para nós, da América do Sul, do que para os europeus. Estaremos no meio da temporada, os jogadores vão chegar no auge da forma física, enquanto os europeus estarão no final.

É possível vencer os europeus?

É uma competição eliminatória. Todo mundo tem um dia ruim. É possível.

Nesse tempo no Brasil, o que já identificou que aqui tem de melhor do que no futebol europeu e vice-versa?

Há muita coisa que é bem melhor do que lá. A paixão da torcida, a própria qualidade técnica dos jogadores. Mas há coisas boas lá que deveriam ser feitas aqui. A nível de estrutura, não é a mesma coisa você assistir um Palmeiras e Flamengo ou um Benfica e Porto num gramado sintético. E não vou entrar no mérito de ter ou não um sintético, mas a nível de espetáculo, do que há na Europa, o jogo num gramado assim fica uma coisa feia. Não é atrativo. E acho que é a mesma coisa com a qualidade dos gramados (do Brasil). Se melhorasse esse aspecto, seria um upgrade enorme, porque em termos de jogo, de qualidade técnica, da paixão da torcida, do ambiente nos estádios, aqui é bem melhor do que na Europa.

Como está a negociação com Gerson?

Está muito bem encaminhada. O que nós queremos, e o Gerson sabe disso, é valorizá-lo pela importância que ele tem no elenco.

Fonte: Extra