Ele marcou 200 gols na base e chorou ao ser encostado no Fla; hoje, vira ídolo na Ásia

"Nunca fui de contar, sempre fui tranquilo em relação a isso. Não sei se foi um erro meu não contar, mas posso te garantir que fiz uns 180 a 200 gols na base".

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A certeza ao falar de sua boa fase logo nas categorias de base já mostrava o quão diferente era o atacante Paulo Sérgio Luiz de Souza. Considerado uma das grandes joias do Flamengo, o jogador nascido na capital do Rio de Janeiro estreou cedo, logo aos 18 anos de idade no profissional da equipe rubro-negra após ter sido multicampeão pelos juniores.

Após entrar em alguns jogos sem o mesmo sucesso da base, Paulo Sérgio acabou sendo emprestado por diversas vezes e, quando retornava à Gávea, dificilmente era utilizado.

"Saí de lá por que não recebi muitas oportunidades como gostaria, não fui muito valorizado. Faltaram oportunidades no meu primeiro ano, abraçar mais. Flamengo não valoriza muito as pratas da casa, essa é minha opinião. Eles me deixaram nessa situação esquisita. Essa geração de 1989 ganhou muitos campeonatos na base. Gerações depois como a do Adryan, não desemerecendo, claro, ganharam só uma Copa São Paulo e subiram quase todos. Na nossa, tinha que fazer chover para subir", lamenta o atacante, em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br .

Apesar do grande sonho da chegar aos profissionais no clube em que torce desde criancinha, o atacante teve de treinar em separado. Paulo Sérgio lembra com detalhes de como ele se sentia e, apesar de nunca ter pensado em desistir do futebol, garante ter ficado frustrado com sua situação.

"Quando eu era da base e via alguns jogadores treinando em separado, eu falava 'pô, tomara que eu nunca passe por isso'. Fiquei triste, se não me engano isso aconteceu duas vezes. Às vezes ficava me perguntando por que, chorava, ficava triste, falava que não era possível, pedia explicações... Só falavam que minha hora ia chegar, que ainda não estavam contando comigo, mas não me davam uma chance" recorda-se.

Em 2013, Dorival Júnior assumiu o comando do Fla e, diferentemente de outros treinadores que por lá passaram, prestaram maior atenção aos atletas "encostados".

"Ele pôde me dar oportunidade de ser reintegrado e jogar alguns jogos do Brasileiro. Foi muito importante pelo momento que eu estava passando, porque ele me acendeu de novo aquela luz de vontade, de motivação e de querer voltar a vencer", comemora, deixando claro que o atual técnico santista é um dos mais importantes de sua carreira.

Pouco tempo depois, sua paciência esgotou-se e ele decidiu tomar uma providência.

"Eu tinha contrato até junho de 2013, ai relacionaram o time que ia pra pré-temporada e eu não estava nele. Ai pensei 'po, não é possível, tem alguma coisa ai'... Então, decidi pela minha saída. Chamei o Paulo Pelaipe (ex-diretor de futebol do Flamengo) no hotel e decidi rescindir amigavelmente. Eu queria jogar, não estava mais aguentando ficar insatisfeito com aquela situação", diz.

Mas o período na equipe rubro-negra não foi só de tristezas. Agora aos 27 anos, Paulo Sérgio diz que sente saudades e sonha em algum dia reencontrar a Nação no Maracanã.

"Foi maravilhoso, agradeço muito ao Flamengo. Foi o clube que me projetou, me ajudou bastante, sou muito grato. Espero que eu possa voltar, ainda mais experiente. Pude rodar bastante, sou um jogador mais completo. Não sei se estava tão preparado no início, foi tudo muito rápido. A gente fica com saudade do calor da torcida. Ela é maravilhosa, cobra bastante e apoia muito", emociona-se.

Após a rodagem, a idolatria na Coreia

Depois de rescindir contrato com o Flamengo, Paulo Sérgio rodou pelo Brasil e fora dele: jogou por Operário-PR, Náutico-PE, Paraná-PR, Avaí-SC, Criciúma-SC, Estoril-POR e Dubai SC-EAU antes de chegar ao Daegu, time que está na segunda colocação da primeira divisão coreana, com 20 pontos em dez jogos.

Na equipe asiática, fundada em 1995, o ex-flamenguista se encontrou, já marcou cinco gols e virou ídolo da torcida local. Suas principais fãs, segundo o próprio atacante, são as crianças.

"Tem bastante criança que vem, pede autógrafo. Até que no dia a dia é difícil eu sair, fico de boa, final de semana, quando tem folga... Eles sabem até onde você mora, querem foto, pedem autógrafo, espera chegar no estacionamento de casa (risos)", gargalha, sem reclamar da fama.

"Há um tempinho atrás, uma criança me parou na rua, pediu foto e me falou que eu estava suprindo bem a falta de outro brasileiro, o Jonathan, que está no Sport agora e é ídolo aqui. Me falou: 'o povo já gosta muito de você, a gente acredita muito em você, ama o Brasil e espera que você fique por muito tempo por aqui'. Isso não tem preço. Fico muito feliz, só nos motiva mais. O respeito das pessoas é gratificante e isso nos faz trabalhar cada vez mais para fazer a alegria deles", conta.

E é impossível não perceber a grande diferença de cultura entre Brasil e Coreia do Sul. Por vezes, Paulo Sérgio é obrigado a recorrer ao tradutor ou, quando obrigado, à tecnologia.

"Eu e minha mulher fomos fazer uma consulta no hospital e tive que colocar no G oogle Tradutor pro médico nos entender (risos). Ele coloca no computador também... Quando tem o tradutor, ele me ajuda. No mercado, eles ficam rindo porque eles não entendem a gente e a gente não entende eles. Aí, vamos na mímica mesmo. Alguns entendem outros não (risos). Pouquíssimos falam inglês aqui, aí fica difícil", ri.

'Parça' de Bruno

Nos tempos de Flamengo, Paulo Sérgio fez inúmeras amizades, inclusive com o goleiro Bruno. O ex-capitão rubro-negro vivia boa fase e era grande conselheiro dos mais jovens quando foi condenado e preso pela morte de sua namorada, Eliza Samudio.

Muitos foram pegos de surpresa, inclusive o atacante, que acompanha até hoje a situação do arqueiro.

"Foi um cara que me deu conselhos bons, que me ajudou e eu fiquei particularmente triste. Espero que ele resolva isso logo, que possa voltar e fazer o que ele mais sabe fazer, que é jogar futebol. Era um grande goleiro, um cara 'top' e a gente torce para que ele saia logo. Se tiver uma oportunidade, gostaria até de fazer uma visita a ele", lamenta.

"Era um cara sensacional. Só quem estava no dia a dia sabe o quão bom aquele cara era, então muitos estão sofrendo, ainda mais as pessoas que eram mais próximas", completa.

Sem perder a esperança de voltar a jogar futebol, Bruno ainda não encerrou a carreira, e Paulo Sérgio diz que sugeriria sua contratação ao Daegu assim que ele cumprisse sua pena.

"Eu indicaria onde eu estivesse, com certeza falaria o nome do Bruno. Ele pode até ter cometido um erro, sim, mas tem tudo para se restabelecer, mudar a vida dele. Ele tá aprendendo, sabe que tem o lado ser humano, bom, e que pode mudar. Ele deve ter mudado, sim. Ele tá cumprindo o que for necessário com a Justiça", encerrou.

Fonte: Espn