Ele foi cria do Fla e questiona saída do Corinthians: "ganharia o Mundial"

Quem acompanhou o futebol brasileiro nas décadas de 90 e 2000 certamente se lembra de Fábio Augusto. O meia, que por vezes atuou como volante e até ala direito, iniciou a carreira em alta, jogando ao lado de Djalminha e Paulo Nunes no lendário time do Flamengo que conquistou a Copa São Paulo de 1990. Em seguida, vieram Guarani - que na época quase parou o Palmeiras de Luxemburgo no Brasileiro de 1994 - e Atlético-MG , até chegar ao Corinthians , em 1997.

E foi no ano seguinte que Fábio Augusto tomou uma das decisões mais relevantes de sua carreira - e da qual se arrepende até hoje: deixar o Corinthians. Não por seu próximo clube, o Botafogo , ao qual demonstra enorme carinho e gratidão, mas pelo fato de não ter participado de um dos momentos mais vitoriosos do Alvinegro paulista, bicampeão brasileiro, em 1998 e 1999, e campeão mundial da Fifa, em 2000. Fábio Augusto acabou ficando 'só' com o Paulistão de 1997.

A história, aliás, envolve o técnico Vanderlei Luxemburgo, que assumiu o Corinthians no fim de 1997, após passagem de Nelsinho Baptista. "O Vanderlei chegou bem, me dando moral e coisa e tal, e eu tive lá... não vou dizer um aborrecimento com ele, porque ele estava trazendo o Vampeta, e falou: 'Vou trazer o Vampeta, pra ele jogar no meio, e você jogar de ala', e eu falei: 'Pô, mas o Vampeta não joga de ala lá no PSV, Vanderlei? Deixa eu ficar na minha posição, no meio-campo', e o Vanderlei naquele jeito dele e tal, e aí surgiu a parada do Botafogo, logo assim que começou o Paulista do ano seguinte, de 98, e eu até me arrependo um pouco disso, sabia?", conta Fábio Augusto — que hoje mora em Niterói (RJ) - em entrevista ao UOL Esporte .

Arquivo pessoal/Fabio Augusto
Imagem: Arquivo pessoal/Fabio Augusto

Antes da chegada de Luxa, o polivalente jogador havia vivido um ano pra lá de conturbado — apesar do título paulista. Depois de tomar uma vitamina que continha uma substância proibida, ele foi pego no antidoping e ficou cerca de dois meses suspenso.

"O Corinthians só ganhou títulos. E o Vanderlei chegou no Corinthians falando que eu era o jogador mais moderno que ele tinha lá, ele chegou bem lá comigo. Eu estava voltando daquela suspensão, que teve aquela confusão do doping, e eu fiquei suspenso. Aquilo lá foi a maior palhaçada, maior bobeira, e eu voltei bem, só que o Vanderlei queria porque queria me manter de ala... Mas esse do Corinthians era um time sensacional, eu poderia ter conquistados esses títulos se ficasse, inclusive o Mundial de 2000. Eu estaria nesse grupo, mas também não posso ficar pensando nisso, é complicado".

No sincero papo com a reportagem, Fábio Augusto fala abertamente sobre o caso de doping pela primeira vez e conta o porquê de considerar o Corinthians culpado na história - apesar de não ver maldade no departamento médico da época. Joaquim Grava, médico do Timão na época, também dá a sua versão sobre o que aconteceu (veja mais abaixo).

Durante a entrevista, Fábio Augusto ainda aborda inúmeros outros temas, como o título que mais sente ter perdido na carreira, a quase ida para o Real Madrid e a Olimpíada Militar da qual participou antes de colocar um ponto final na carreira, em 2012, após passagem pelo River do Piauí.

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UOL Esporte: Como foi o seu início de carreira no futebol?

Fábio Augusto: Eu comecei no futebol de salão no Fluminense, e com 12 anos fui convidado para fazer um teste no mirim do Flamengo no mirim. Então, fiz minha categoria de base inteira no Flamengo. Joguei ainda como juniores o Campeonato Carioca pelo Olaria, como profissional, mas ainda era do Flamengo, fui emprestado. Depois eu voltei ao Flamengo, fizemos uma pré-temporada e, quando cheguei a jogar uns dois, três jogos no Carioca, o Djalminha esteve lá no Flamengo e perguntou se eu queria ir para o Guarani, e eu falei: 'Eu vou, se os caras me liberarem'. O Djalminha estava lá, não é bobo, né? E, na minha cabeça, eu estava subindo, e naquela época não era como é hoje; eu ganhei essa Taça São Paulo (1990) com Djalminha, Luiz Antonio, Paulo Nunes e etc, mas não sou da geração deles, entendeu? Sou dois anos mais novo que eles, e o pessoal não sabe disso. Joguei sempre adiantado no Flamengo, então, aquilo foi bom porque, na verdade, só eu, da minha geração, chegou ao profissional. Então, de repente, eu pensei: 'Será que ir para o Guarani será uma boa'? Mas o Flamengo estava com muita gente, Casagrande, Edu Lima, e eu pensei: 'De repente essa oportunidade é uma boa para eu deslanchar', e não me arrependo, não.

Arquivo pessoal/Fabio Augusto
Imagem: Arquivo pessoal/Fabio Augusto

UOL Esporte: Qual era a sua real posição no futebol quando jogou?

Essa questão de lateral no Flamengo surgiu exatamente numa pré-temporada. Como eu joguei o Carioca no Olaria, tiveram dois jogos que eu fui muito bem contra o Flamengo... O Junior estava jogando ainda e, quando voltei para o Flamengo, ele já era o treinador, e eu lembro que, no primeiro coletivo do meio da semana, o Junior veio e me deu a camisa de titular. Eu estava bem, treinado, e o Charles Guerreiro estava machucado; ele era lateral direito e titular absoluto. Aí um dia o Junior me chamou e falou: 'Cara, estou querendo botar você pra jogar e eu estou com o meio-campo um pouco congestionado, e eu não vejo condições de você jogar no meio, mas quero testar você de lateral direito'. E eu ia falar que não? Eu era moleque... Mas nunca gostei de jogar ali. E quando cheguei ao Guarani era pra jogar como segundo homem de meio-campo... Na verdade, a gente sabe que volante no Guarani sempre foi um só, nos times que eu joguei lá nunca tiveram dois volantes, mas depois eu passei a jogar de segundo volante, e quando o Djalminha foi vendido eu já estava jogando mais avançado, e dali pra frente nunca mais joguei de lateral no Guarani. No Corinthians eu joguei de ala, e não de lateral, é diferente, são funções bem distintas uma da outra.

UOL Esporte: Quando você foi para o Corinthians, o técnico era o Luxemburgo?

Fábio Augusto: Não, o Vanderlei foi depois, primeiro foi com o Nelsinho Baptista, fomos campeões paulistas com o pessoal do Excel, e depois chegou o Mário Sergio, que era o coordenador. O Vanderlei chegou bem, me dando moral e coisa e tal, e eu tive lá - não vou dizer que foi um aborrecimento com ele, porque ele estava trazendo o Vampeta, e ele falou: 'Vou trazer o Vampeta, pro Vampeta jogar no meio, e você jogar de ala', e eu falei: 'Pô, mas o Vampeta não joga de ala lá no PSV, Vanderlei? Deixa eu ficar na minha posição, no meio-campo', e o Vanderlei naquele jeito dele e tal, e aí surgiu a parada do Botafogo, logo assim que começou o Campeonato Paulista do ano seguinte, de 98, e eu até me arrependo um pouco disso, sabia?

UOL Esporte: Por que se arrependeu de ter saído do Corinthians?

Fábio Augusto: Eu já era um jogador com 24 para 25 anos, mais ou menos formado, e eu pensei: 'Vou voltar para o Rio de Janeiro, jogar no Botafogo, morar perto de casa e etc', mas eu ainda tinha dois anos de contrato com o Corinthians, então, se eu pudesse voltar atrás, talvez eu não viria para o Botafogo, mas também não posso descartar que eu fui para um clube bacana, estaria perto de casa, mas, profissionalmente dizendo, assim, o Botafogo foi o único time que eu joguei e não ganhei título. Cheguei em duas finais com o Botafogo: uma do Rio-São Paulo e uma da Copa do Brasil (em 1999), contra o Juventude pela Copa do Brasil. Foi horrível.

UOL Esporte: O interessante é que você saiu do Corinthians e, na sequência, o time foi bicampeão brasileiro em 99, em 2000 conquistou o Mundial de Clubes e, em 2001 campeão paulista, enquanto você [pelo Botafogo] foi duas vezes vice-campeão...

Fábio Augusto: Pois é. O Corinthians só ganhou títulos. E o Vanderlei chegou no Corinthians falando que eu era o jogador mais moderno que ele tinha lá, ele chegou bem lá comigo. Eu estava voltando daquela suspensão, que teve aquela confusão do doping, e eu fiquei suspenso. Aquilo lá foi a maior palhaçada, maior bobeira, e eu voltei bem, só que o Vanderlei queria porque queria me manter de ala... Depois de 98, alguns caras saíram, lembro que o Donizete saiu, foi para o Vasco da Gama, o Tulio também saiu. Mas esse Corinthians era um time sensacional, eu poderia ter conquistados esses títulos se ficasse, inclusive o Mundial de 2000. Eu estaria nesse grupo, mas também não posso ficar pensando nisso, é complicado.

UOL Esporte: Sobre o doping...

Fábio Augusto: Outro dia vi uma entrevista do Dr. Joaquim Grava [médico do Corinthians], e as pessoas falam algumas coisas na imprensa que têm que tomar cuidado, ainda mais hoje em dia. Eu, quando jogava, sempre fui um cara meio calado... Te falo que eu perdi até contratos de imagem, de patrocínio, porque sempre fui um cara muito na minha. Nunca fui chegado a esse negócio de imprensa, mas hoje eu entendo que é diferente. Não que o cara tem que ficar exposto o tempo todo na mídia, mas, pela exposição que os atletas têm hoje, é necessário que você tenha alguém pra conduzir e etc... Bom, e sobre o doping, eu ganhei essa vitamina de um cara do grupo Skank, atleticano, que viajou para os Estados Unidos e me deu, e disse: 'Olha, os caras do futebol americano estão usando isso aqui pra jogar direto', era um composto vitamínico como se fosse um Centrum. Eu peguei aquilo, mostrei pro médico do Corinthians, o Dr. Paulo Faria, ele olhou e disse: 'Pode usar, não tem problema nenhum'. Gente finíssima o Dr. Paulo Faria. Eu joguei uma cacetada de jogos tomando essa vitamina, e aí chega o jogo pelo Campeonato Brasileiro, contra o Athletico Paranaense [1997]. Assim que acabou o jogo eu caí no doping. Se eu tivesse com alguma coisa... Ninguém faz isso: eu já cheguei no vestiário mijando, minha urina estava toda concentrada. Voltamos e o supervisor do Corinthians me chamou no canto e falou: 'Ó, Fabio, deu problema com o teu exame', e aí eu pensei: 'Deve ter trocado meu exame com o polonês que está lá, não é possível que tenha dado alguma coisa no meu exame', e aí eu pensei: 'Pô, será que foi aquela vitamina'? Mas eu estava tranquilo porque tinha mostrado para o Dr. Paulo Faria. Aí a gente veio para o Rio de Janeiro e eu acho que o Dr. Joaquim Grava pensou que os caras aqui do Rio não iam levar isso para frente, que isso não ia dar em nada; se eu falasse a verdade dava merda pra todo mundo. Aí fomos para a reunião e, no mesmo dia, a Globo já estava noticiando que eu tinha tomado um coquetel de não sei o quê e por isso que eu estava correndo mais que os outros... E há pouco tempo o Dr. Joaquim Grava falou que foi a minha irmã que me deu essa vitamina, porque minha irmã é nutricionista, e minha irmã nem sabia disso. Parece até que ele escreveu isso num livro, mas estou falando para você a verdade. Até minha mulher falou: 'Cara, fala a verdade, dá uma entrevista', só que eles acharam que, de repente, ia abafar o caso, e não foi assim. Eu sou jogador do Corinthians pego no doping, foi uma farpa para todo mundo aquilo ali. Parece que eu tinha usado cocaína, que eu era viciado, um troço assim, completamente desproporcional.

UOL Esporte: Então você poupou o Dr. Paulo Faria?

Fábio Augusto: Porque achei que nem fosse necessário falar, achei que não fosse dar em nada. Mostrei pra ele e o Dr. Paulo me disse 'não, pode usar tranquilo', só que no meio da fórmula tinha um composto que era proibido, só que estava com nome em inglês. Qual era a dele? 'Fábio, vou dar uma olhada aqui melhor, dá uma segurada aí que eu vou dar uma consultada'. Ele errou, mas não errou por maldade. Mas eu fiz a minha parte como atleta; 'não conheço isso aqui, tem uma substância que eu não conheço', então ele não falou isso pra mim, senão eu não tomaria. Então, quando você faz sem maldade, sabe... O cara jamais iria mijar.

UOL Esporte: Dessa forma que você está falando... Você já deu uma entrevista assim, abertamente?

Fábio Augusto: Olha só, o troço ficou tão enrolado... O Ronaldo Giovaneli foi me defender e tomou uma suspensão, o Antônio Carlos Zago foi me defender e também tomou uma lapada; e coitado do Joel Santana, cara... Ele chegou no Corinthians e estava uma confusão. Ele estava com uma máquina nas mãos sem poder usar. E quando a gente estava chegando próximo do meu julgamento, o Dr. Paulo Faria, junto com o Dr. Joaquim Grava, fez uma reunião e o Dr. Paulo resolveu assumir: 'Ó, realmente o Fabio Augusto me mostrou, eu desapercebi', ele assumiu. E sabe que os caras do Tribunal ficaram pensando? Que eles estavam fazendo aquilo para me livrar, para eu poder voltar a jogar logo. Estavam quase me absolvendo, mas teve um cara que votou, senão eu nem seria punido, mas deu a pena mínima, sei lá, acho que eu já tinha cumprido 30 dias, e aí eu fiquei suspenso por mais 30... O campeonato já estava entrando no final do ano, o Corinthians estava numa situação difícil e eu acabei emendando aquilo ali com as minhas férias. Continuei treinando normalmente, e depois consegui voltar bem...

Mas dessa maneira que eu estou falando assim, eu nunca contei, mas como eu já vi algumas conversas diferentes, eu até falei com a minha irmã Renata: 'você julga aí se vale a pena', porque eu acho que até citaram o nome da minha irmã no livro, está errado e estão citando o nome dela. A minha irmã é nutricionista do Fluminense e tem mais de 20 anos lá, ela não tinha nada a ver com a história, coitada da minha irmã.

UOL Esporte: Você é chateado com o Dr. Joaquim Grava?

Fábio Augusto: É assim: são coisas que acontecem. Creio que fiz a minha parte como atleta, puro, mostrei a vitamina para o Dr. Paulo, e ele é um cara sensacional... Lembro até uma vez que a mulher dele me ligou dizendo que ele estava muito mal, muito mal mesmo, eu sei que ele realmente não errou por maldade, foi uma desatenção. Os caras do Tribunal foram rígidos: 'A gente não está julgando o Fábio Augusto, a gente está julgando a urina, a urina dele estava contaminada, não está julgando o atleta'. O juiz que me deu a punição era um cara aqui de Niterói, ele me conhecia, o Luiz Zveiter, eu conheço desde pequeno, mas o Tribunal não pode fugir à regra. Eu tinha cumprido um mês e depois cumpri mais um, mas se não me engano tinha uma venda encaminhada para o Napoli na época, que acabou não acontecendo. Mas contrato de patrocínio não perdi nenhum. Eu tinha contrato com a Adidas na época; você acha que a Adidas vai continuar o contrato com o jogador com a carreira manchada?

UOL Esporte: Você acredita que se não fosse o caso do doping você teria jogado fora do país?

Fábio Augusto: Jogaria. Eu fui jogar fora do país, mas numa mão contrária, já com 28 para 29 anos. Quando eu fui para Rússia, foi uma experiência boa, mas eu, com 22 anos, no Guarani, já estava para ir para fora. Assim que o Guarani me comprou, eles tiveram uma proposta para me vender para a Atalanta, mas o Beto Zini [ex-presidente do Guarani] não quis. Não era como é hoje, você chega lá e tá bom, não tem esse negócio de passe. Eu tinha que ficar esperando os caras me receberem... A gente acertou com o presidente da Atalanta, salários, mas tem que falar com o presidente do Guarani, se ele vai querer vender, e o Beto Zini falou não, colocou as condições dele, e os caras não quiseram fazer e bolou o negócio.

UOL Esporte: Você sente então que a sua carreira foi manchada pelo doping?

Fábio Augusto: O que tinha no suplemento não era cocaína, não era maconha, era algo que se referia teoricamente para me dar a capacidade maior cardiorrespiratória, porque era uma substância que abria os seus brônquios. Só que eu já era o melhor preparo físico do Corinthians, sempre fui um dos melhores em todos testes, tanto em resistência como em velocidade, em explosão, então para aquilo fazer efeito eu tinha que tomar sei lá, uma quantidade enorme, que ia me fazer mal inclusive. Só que as manchetes que saíram na imprensa eram como se fosse algo uma droga. Quem me via nas ruas achava que eu era viciado, e eu não bebo, não fumo, nunca cheguei perto disso. E até isso ser desmistificado, leva muito tempo, tanto que nos primeiros jogos que a gente ia jogar no interior [pós-doping], os caras falavam: 'Seu viciado, seu não sei o quê', essas coisas [risos].

UOL Esporte: Essa questão do doping afetou o seu emocional ou algo parecido?

Fábio Augusto: Não, porque quando o cara é culpado, realmente... Se eu tivesse usado drogas, é logico que ia me atrapalhar, mas nós voltamos, fizemos uma pré-temporada, e eu continuei sendo um dos melhores nos testes físicos. Então, só me atrapalhou nessa possível transferência na época, se não me engano era para o Napoli, da Itália, é o que eu me lembro... E era óbvio que eu parado não tinha como ser transferido.

UOL Esporte: Você encerrou a carreira em 2012?

Fábio Augusto: Eu joguei as Olimpíadas Militares em 2011, pelas Forças Armadas, e assim que terminou eu ia parar... E sabe o Marcão? O treinador que jogou no Fluminense? Ele me ligou e disse: 'Fábio, estou indo treinar o River do Piauí, e os caras querem te levar para lá, e eu te indiquei. Você está afim de ir? Contrato de três meses. Ali foi meu último tiro, eu estava muito saturado de futebol e tal... Era a federação de lá que ia me pagar, não era o clube, eu não corria o risco de ficar sem receber, e foi o maior barato porque eu tive uma convivência lá com o Marcão e ele tinha recém-parado de jogar futebol. Eu joguei contra ele e depois o cara estava me treinando [risos].

UOL Esporte: Como foi disputar as Olimpíadas Militares? Como isso se deu?

Fábio Augusto: Ali foi o seguinte: Olimpíadas Militares são a mesma coisa das Olimpíadas normais, só que no âmbito militar. O Brasil, no futebol, sempre tomava porrada, ia sempre mal, então, as Forças Armadas abriram um edital para cada modalidade, e nesse edital tinha que ter algo que você já tinha na carreira para poder ser participante. Por exemplo, no futebol, o cara tinha que ter jogado quatro campeonatos brasileiros seguidos, tinha que ter tido alguma convocação para a seleção brasileira, havia uma regra... Aí parece que eles foram atrás do Djalminha, não posso afirmar, mas o Djalminha não tinha mais condições, porque é um troço pesado de treinamento e tal. O Djalma me ligou perguntando se eu queria ir, e marcou de eu ir lá conversar na Urca, aqui no Rio, na escola de Educação Física do Exército, e aí fui lá conversar com o Coronel, muito sério. Eu já tinha mais ou menos ideia do que era, porque o meu pai era piloto das Forças Aéreas, e o cara me apresentou o projeto e falou: 'Você vai ter que fazer as mesmas exigências, é claro que você vai passar, você já tem o currículo'. Isso aconteceu com o vôlei, parece que foram quatro mulheres, e no judô também... Então, as Forças Armadas entraram com recurso para poder trazer atletas profissionais para agregar a delegação, misturar gente que era profissional com os atletas amadores. Só que lá tinham muitos caras bons de bola, viu [risos]... A gente fez um monte de amistosos, viagens, campeonatos, e demos porrada em um monte de gente ai; ganhamos do Vasco da Gama lá dentro, ganhamos do sub-23 do Corinthians, em São Paulo, só que não saía muito na imprensa, né? Viajamos para o exterior para disputar um campeonato na Holanda e ganhamos, contra as Forças Armadas de lá, e viemos para o Brasil e ficamos em terceiro lugar, demos um azar na semifinal porque perdemos nos pênaltis para a Argélia, e fomos disputar o terceiro lugar no futebol. O Brasil nunca tinha ganho uma medalha, e foi a primeira vez que ganhou no futebol com a terceira colocação.

UOL Esporte: Depois de 2012, quando encerrou a carreira no River do Piauí, você não quis mais trabalhar no futebol?

Fábio Augusto: Assim que parei no River do Piauí, fui chamado pra ser treinador do Planaltina-DF. Eu fiz o curso para ser treinador aqui do Rio de Janeiro, para ter a carteira. Na época era o que estão fazendo com o curso da CBF, e eu tive essa oportunidade de ir lá em Brasília e treinar o Planaltina. Fiquei lá uns 45 dias da pré-temporada, e o início do campeonato foi muito difícil. Nada que eu não soubesse, mas foi bom que eu já começasse num time profissional... Mas não gostei muito da experiência. Fiz isso a minha vida inteira... Cara, você tem que se dedicar, não dá para você ser treinador nas coxas, e eu não sei se hoje estou com paciência para isso, não. E depois também não me interessei mais, acho um absurdo essa questão de ter que fazer curso da CBF. Esse curso da CBF parece que nem te capacita para trabalhar no exterior ainda, acho que é um investimento altíssimo que a maioria dos ex-atletas hoje não podem pagar. Nesse momento, não me vejo assim afundo.

UOL Esporte: Tem algo a mais que você quer falar?

Fábio Augusto: Essa questão do doping, foi a primeira vez que eu falo disso assim com essa clareza. Em outras vezes os caras já me perguntaram muito sobre isso, mas eu falava: 'Gente, o que vai adiantar eu explicar isso para vocês'? Hoje, como eu não estou mais jogando... Não tenho nada contra o Dr. Joaquim Grava, muito menos contra o Dr. Paulo Faria. De vez em quando, vejo algumas informações desencontradas, mas a verdade é essa que eu falei para você.

UOL Esporte: Se arrependeu por ter saído do Corinthians?

Fábio Augusto: Sim, mas não que eu esteja desmerecendo minha saída do Corinthians por ter ido ao Botafogo, não que o Botafogo é menos importante, isso eu quero deixar bem claro... Mas digo assim: eu ainda tinha contrato com o Corinthians, foi opção minha, e o meu pai na época não queria, ele falou: 'Cara, acho que você não tem que vir, não', mas acabei decidindo, até porque o Banco Excel estava tomando conta do dois [Corinthians e Botafogo].

Arquivo pessoal/Fabio Augusto
Imagem: Arquivo pessoal/Fabio Augusto

Dr. Joaquim Grava

UOL Esporte: O Fabio Augusto me disse que, se ele não estiver enganado, pegou essa vitamina que veio dos EUA por um integrante do grupo Skank. Foi isso mesmo? O Dr. sabe dizer se isso procede?

Joaquim Grava: Mas não na concentração do Corinthians. Não tem nada na concentração do Corinthians. Agora... Só se é outra história, porque o que sei é que, na época, o Corinthians foi isento de tudo isso, porque foi ele quem o prejudicou, não foi prescrito por ninguém pelo Corinthians.

UOL Esporte: O Fabio Augusto alega que mostrou a prescrição da vitamina para o Dr. Paulo Faria. Foi isso mesmo?

Joaquim Grava: Foi, isso é verdade, mas foi assim: os jogadores estavam subindo para o campo, antes do jogo, e ele falou: 'Doutor, eu estou tomando isso'. O Paulo viu e falou: 'Tudo bem, isso você pode tomar', só que não viu nas entrelinhas que havia uma droga, e era muito difícil, estavam entrando para jogar, pô, e o Paulo não viu. O Paulo confirma esta história.

UOL Esporte: Para o Fabio Augusto, o Dr. Paulo Faria errou porque não se atentou às informações da vitamina que continha a tal substância proibida. O Dr. Joaquim Grava concorda com o ex-jogador?

Joaquim Grava: Não, não errou em nada, aí eu discordo dele. Ele não errou em nada. Foi na hora em que estava subindo pro campo. Se fosse eu quem estivesse fazendo o jogo, seria eu. Se era o Dr. Osmar de Oliveira, seria ele, podia ser com o Dr. Runco... Ele mostrou na hora de entrar para o jogo, pô, muito em cima. Então, não é que o Dr. Paulo errou, não é assim, inclusive, não foi nem neste jogo que ele foi pego, ele foi pego depois, em outro jogo, porque ele continuava tomando essa vitamina. Neste jogo que ele mostrou rapidamente para o Paulo, ele nem caiu no antidoping, ele caiu em outro, no jogo contra o Athletico Paranaense, em Limeira.

UOL Esporte: O Fabio Augusto disse que parece que, no seu livro, você colocou que foi a irmã dele, nutricionista, quem passou essa vitamina pra ele...

Joaquim Grava: Bom, talvez ele não quis contar essa história na época, porque estávamos eu e o Dr. Osmar de Oliveira lá, porque o Dr. Osmar foi como consultor do Corinthians, então, pode até ser. Eu só sei de uma coisa: ou foi a irmã ou alguém do grupo Skank, seja quem for, mas não foi ninguém do Corinthians [que prescreveu a vitamina], e naquela época não existia ainda, no doping, livros que mostrassem as drogas, nada. Na época, o doping não tinha toda essa regulamentação que tem agora, era diferente... Agora, se eu coloquei isso em algum livro meu, não me lembro.

Fonte: Uol