Ele foi campeão brasileiro e encostado pelo Fla depois de acidente. Hoje, brilha no Paulista

A carreira de Éverton Silva começou de forma meteórica. Revelado no Friburguense, o lateral chegou ao Flamengo e logo de cara conquistou o Campeonato Carioca e o Brasileiro de 2009. Um acidente de carro, porém, quase colocou um fim precoce a sua trajetória. Ele pensou seriamente em abandonar o futebol, mas a família não o deixou.

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Depois de rodar por muitas equipes, o jogador de 27 anos conseguiu reverter os momentos ruins e se destacar com a camisa do Red Bull. O time já garantiu sua classificação para as quartas de final do Campeonato Paulista.

"Hoje vivo uma fase feliz e momento maravilhoso. Consegui ser um vencedor, fiz boas amizades e conquistei algumas coisas. Estou mais maduro e experiente pelo fato de ter jogado em um clube como o Flamengo. Vivo um momento muito bom", disse o lateral, que participou de 12 jogos na competição até aqui, em entrevista ao ESPN.com.br .

Situação que o faz lembrar dos melhores momentos de sua trajetória, quando foi ao time da Gávea como uma revelação do Estadual. "Minha chegada ao Flamengo foi inacreditável. Até hoje eu não consigo acreditar que consegui. Ainda fui campeão, uma coisa maravilhosa que todos os jogadores querem", afirmou.

Além das vitórias, Éverton não se esqueceu dos amigos Adriano Imperador e Petkovic, figuras fundamentais na conquista do Nacional. Além dos títulos, ele guarda com carinho as boas risadas entre os colegas.

"O Sheik entrava no vestiário todo dia cantando e a gente pedia pra ele ficar quieto (risos). Ele achava que sabia cantar, mas a voz dele é muito irritante, desafina demais (risos). A gente sempre dava um jeito de desligar o som, era a maior farra. Ele dizia que quanto mais cantasse, mais feliz ele ficava e mais gols ia fazer (risos). Ele é o cara mais divertido que eu já vi", recordou.

Utilizado como um coringa nas laterais e no meio, Éverton era o reserva imediato de Juan e Léo Moura, dois jogadores consagrados. Fez mais de 25 jogos em 2009 e atuou em 12 partidas no Brasileiro.

No ano seguinte, Éverton acabou emprestado para a Ponte Preta na disputa da Série B do Brasileiro. Em Campinas, não conseguiu ter uma grande sequência de jogos. De volta ao Flamengo no começo 2011, ele passou por um susto.

ELE QUASE LARGOU A CARREIRA DEPOIS DE ACIDENTE

No final de janeiro, ele voltava de uma boate em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, quando seu carro foi atingido na traseira por outro veículo. Logo em seguida, um terceiro carro não conseguiu frear e atingiu os outros dois.

Os ocupantes do último carro eram policiais militares e um deles desceu armado, apontou o revólver para a cabeça do jogador e efetuou disparos em um dos veículos, além de levar o aparelho de som. O jogador, que não tinha habilitação à época, fugiu do lugar.

"Era muito novo, tinha 22 anos. Estava naquela fase de fazer algumas besteiras, mas graças a Deus que aconteceu quando era jovem. Porque amadureci muito, cresci profissionalmente e como homem. Deus ali foi tremendo na minha vida, ele mostrou que eu estava errado e o meu caminho não era aquele. Pude me reerguer", recordou.

Depois do episódio, ele foi afastado do elenco e viveu os piores momentos de sua carreira. "Fiquei praticamente três anos no Flamengo sendo emprestado ou treinado separadamente. Refleti sobre muitas coisas, cada ano que chegava eu já sabia que não ia ficar. Isso me dava força pra mostrar que tinha potencial e futebol", relatou.

Em alguns momentos, ele fraquejou e chegou até mesmo a querer desistir. "Consegui me reerguer com a ajuda da família que me passou muita força. Chegava até em pensar em parar porque estava triste com o futebol. Mas eles falavam que tinha potencial", relatou.

Para piorar, o maior incentivador de sua carreira passava por um momento delicado de saúde. "Meu pai tinha um AVC e sempre que ele passava mal aquilo me incomodava e sentia que estava perdendo-o. Toda vez que ia treinar eu não parava de pensar nele. Aquilo me dava força para correr e jogar mais ainda mais", afirmou.

"Tudo começou a melhorar quando fui emprestado ao Boavista e fiz um bom Campeonato Carioca de 2013. Eu concorri entre os melhores da posição e começaram a aparecer coisas boas. Ali eu vi que tinha dado a volta por cima", garantiu.

DE SERVENTE DE PEDREIRO A JOGADOR

Natural de São João de Meriti-RJ, o lateral veio de família humilde e conseguiu realizar o sonho de seu pai, um pedreiro que batalhou para que o filho se tornasse jogador de futebol profisional e melhorasse de vida.

"Eu trabalhava com ele nas obras de construção civil ao lado do meu irmão mais velho. Por ser o filho mais novo, ele me dava uma certa moleza, meu irmão pegava mais pesado e me dava suporte. Todo trabalho é puxado, mas eu fazia trabalhos mais leves e tinha essa mordomia (risos)", comentou.

Mesmo ajudando a família, sua dedicação ia toda para o esporte. "Eu joguei desde garoto e o meu pai sempre tentava me dar tudo do melhor. Quando terminava o treino ele ficava me ensinando em casa as coisas e me fazia treinar ainda mais depois. Graças à persistência e aos conselhos dele cheguei até aqui", agradeceu.

Seu primeiro clube foi o Botafogo, quando largou o ofício de servente de pedreiro para trás. No final das categorias de base, ele se transferiu ao Friburguense. Depois de dois torneios nos juniores, ele subiu aos profissionais e se destacou logo no seu primeiro Campeonato Carioca.

"Eu chamei atenção depois de uma partida muito boa que fiz contra o Fluminense. Foi inesquecível, marquei um gol no Maracanã, que é o mais bonito da minha carreira", recordou.

Mais maduro depois de passar por cerca de 14 clubes e com as boas atuações no Campeonato Paulista, Éverton sabe aonde quer chegar. "Meu sonho é um dia voltar a vestir o manto sagrado novamente. Tudo o que tenho devo a Deus em primeiro lugar e ao Flamengo. É o maior clube do Brasil e sou flamenguista doente", finalizou.

Fonte: Espn