Escolhido para ser o substituto de Jorge Jesus no Flamengo , Domènec Torrent chegou cercado de expectativa por conta do trabalho durante anos ao lado de Pep Guardiola. No entanto, durou apenas 100 dias no clube e acabou demitido . Meses depois, criticou o tratamento que recebeu no Ninho.
Segundo o catalão, não houve um apoio da direção. Tirando o vice de futebol Marcos Braz e o diretor executivo Bruno Spindel, que o contrataram, ele se sentiu isolado. O contato com o presidente Rodolfo Landim não passou de 5 minutos. Inclusive, Dome disse que nem os cartolas que são próximos ao mandatário o procuraram.
“Nunca falei com essas pessoas. Em três meses, eu falei uns 5 minutos com o presidente. Eu só conversava rapidamente com Marcos Braz, da diretoria, e com Spindel, que estava praticamente no dia a dia lá, não todos os dias, mas ia com mais frequência à sede. Agora lembrei que, quando fui contratado... Agora a gente vai lembrando de muitas coisas. Nunca me perguntaram como jogava ou como queria jogar. Não sei se sabiam como eu jogava ou como joguei nas outras equipes. Disseram barbaridades, como que, nas equipes em que trabalhei, sempre era goleado. Isso é mentira. No ano passado, o New York foi o time mais goleador da categoria e o segundo menos vazado”, disse Dome, ao globoesporte, criticando a forma como estava o ambiente no CT.
“Eu ficava triste por falarem mal de nós lá dentro, de forma interesseira, não sei por que, porque se atacam o treinador e os jogadores do Flamengo, isso atinge o próprio time. Eu não confio nas pessoas que sempre repetem esta frase: ‘Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo’. Normalmente, é o contrário. Quando você tem que repetir muito isso, é porque alguma coisa está acontecendo com você. Inclusive, muitas vezes eu sentia que, quando perdíamos, alguém lá de dentro ficava feliz, era o que eu sentia. Minha equipe e eu tínhamos essa sensação. Então era muito complicado trabalhar assim. Fui muito feliz trabalhando no Flamengo, por causa dos jogadores. Nenhum me decepcionou. Apesar do que a imprensa diz, nunca briguei com ninguém. Fui muito feliz com as pessoas nas ruas no dia a dia. Quando fomos dispensados, as pessoas que eu encontrava no supermercado, era eu que ia estava sozinho aí, em restaurantes ou quando passeava de bicicleta, todos me apoiavam, me incentivavam”, desabafou Dome.
Outra crítica de Dome foi ao departamento de comunicação do clube. De acordo com o catalão, a intenção era dar mais entrevistas, conversas com os jornalistas, passar o objetivo do trabalho à frente do Flamengo. No entanto, ele disse que era proibido de dar entrevista.
“Não me deixavam falar. Tem uma pessoa que me assessora em tudo relacionado à imprensa. Eu tinha feito contato com jornalistas argentinos, nem sequer europeus, e, quando falava com a comunicação do Flamengo, diziam que não era o momento. Tenho certeza de que, se pudesse explicar à imprensa, principalmente a brasileira, poderiam entender que esse jogo posicional, tão famoso e que preocupava a tantos jornalistas, não sei por que, já que Sampaoli joga assim há três anos, e muito bem por sinal, que era o que queríamos fazer, porque queríamos jogar com os jovens, eu queria me abrir com as pessoas para verem que sou uma pessoa muito normal. Com certeza, no dia a dia, teriam me conhecido melhor, e todo mundo teria me entendido, teríamos nos entendido muito melhor”, disse Dome, completando.
“Esta é a primeira coisa a fazer: se comunicar. Eu nunca estudei português, por exemplo, nem um dia. Por que tentei falar português? Porque é um ato de respeito para com quem mora e trabalha no Brasil, os brasileiros. Para mim, um ato de respeito ao povo brasileiro é dar entrevistas à imprensa, poder se explicar. Eu lembro que, 15 dias antes de sermos demitidos, falei com Marcos Braz e o setor de Comunicação que, se não queriam dar entrevistas, que, no mínimo, fizéssemos um jantar com os jornalistas que eles quisessem, porque eu precisava me explicar. Ainda estávamos entre os líderes. Eu precisava me explicar, falar com eles, saber o que eles pensavam. Isso nos enriquece, nos faz crescer como pessoa e como treinador, principalmente. Não sei por que, eu falava com minha assessora de comunicação, ela dizia que não podíamos, que não haviam autorizado. Esta é a primeira entrevista que dou, depois de dois meses. Não dei entrevista nem à imprensa espanhola, porque respeitei os timings que minha assessora de comunicação me recomendou”.
“Esta é a primeira. Estava com vontade de me explicar. Durante dois meses, eu fiquei calado, aguentei, li, meus amigos me mandaram reportagens, matérias de televisão, e eu disse: ‘Como podem mentir tanto? Por quê?’. Nós nos encontramos, por exemplo... Eles quiseram criar uma imagem de perdedor, de mau treinador etc. Eu não sei se, em 125 anos de história do Flamengo, estando a 1 ponto da liderança da Libertadores e nas quartas de final da Copa, com chances de ganhar tudo. Talvez sejamos os piores treinadores do clube, não sei. Não sei como eram os outros que foram piores. Mas isso tudo me chocava”, finalizou.