Do voto de confiança do Flamengo à fama fora de campo: os 44 dias do técnico Fera

"Gostaria de agradecer ao [Rodolfo] Landim pela confiança". Foram com essas palavras que Marcelo Salles se despediu oficialmente do cargo de técnico do Flamengo. A sensação é de dever cumprido: quatro jogos, três vitórias, um empate, cinco gols marcados, nenhum sofrido e 83% de aproveitamento. Durante os 44 dias em que esteve no comando, o pacato e sereno "Fera" viu a sua vida se transformar em um turbilhão de emoções, mas a missão de entregar o terreno para Jorge Jesus foi concluída.

O 'sim' veio no dia 29 de maio. Mesmo com as negociações com Jorge Jesus em curso, o pedido de demissão do então técnico Abel Braga pegou a diretoria do Flamengo de surpresa. Fera recebeu o voto de confiança - principalmente - do vice-presidente de futebol Marcos Braz, que ganhou ainda mais força dentro do clube ao ver o seu amigo próximo tendo sucesso.

Claro, Salles não era um desconhecido, mas ganhou pontos pelos bons resultados. Internamente, sempre foi tratado como o braço direito de Andrade no título brasileiro de 2009. Porém, para muitos, era considerado o verdadeiro treinador daquele ano. Nestes quatro jogos, deixou de ser visto como uma aposta e ganhou elogios pela retórica utilizada e por como conseguiu controlar o ambiente durante o momento de instabilidade.

Entre os jogadores, a sensação foi a mesma. Fera ganhou um tom professoral devido as suas longas preleções recheadas de estudos e explicações. Coisas simples também marcaram esta passagem. Antes do treinamentos, era comum vê-lo cumprimentando a imprensa no Ninho do Urubu. Durante as suas folgas, acompanhou algumas partidas das categorias de base no CFZ e passou a ser assediado por torcedores - algo que não era comum nestes anos de rubro-negro.

Nas redes sociais, as mudanças foram ainda mais claras. Antes do anuncio como técnico interino, Salles tinha pouca mais de mil seguidores no Instagram. Após o duelo contra o CSA, os números pularam para 17 mil até o momento desta publicação. O "Ferismo" virou uma brincadeira interna, as comparações com Abel Braga foram inevitáveis, mas a tranquilidade de sempre seguiu presente.

- Quanto ao torcedor, onde nós estamos, eles estão. Hoje, na porta do hotel, vários torcedores estavam lá [...] Eles merecem esse carinho. Onde nós vamos, eles estão. Queria agradecer a todos, tanto no estádio, nas ruas ou nas redes sociais, pelo apoio que tenho recebido nesses quatros jogos - declarou Salles.

O último capítulo foi no saguão do hotel em Brasília. Uma multidão de torcedores aguardava a saída da delegação para o Mané Garrincha e, se os costumeiros gritos por Diego, Arrascaeta e Cuéllar ficaram ausentes, as chamadas por Marcelo Salles se tornaram repetitivas. A paciência para atender um por um foi a deixa do fechamento do seu segundo grande ciclo no elenco profissional.

Fonte: O Globo