Seja pelo poder financeiro, pelos holofotes trazidos por Lionel Messi e Luís Suárez ou pelas competições de seleções à vista – Copa América em 2024 e Copa do Mundo em 2026 –, os Estados Unidos passaram a receber um olhar diferente no mercado da bola. E um dirigente brasileiro criou uma estratégia para trazer joias diretamente do Brasil à MLS : André Zanotta.
Aos 44 anos, o diretor de futebol do FC Dallas , que trabalhou em equipes como Grêmio , Santos e Sport , está desde 2019 nos Estados Unidos. Acompanhado de um compatriota na equipe de scout e tendo profissionais na América do Sul, soube explorar a farta matéria-prima presente em terras verde-amarelas e que não tinham espaço na base de grandes times, como Flamengo e Palmeiras .
"No ano passado a gente trouxe para o nosso time B o Henry, zagueiro do Palmeiras por empréstimo, que hoje está no Mirassol . Esse ano, o Pedrinho, filho do Beto (meia ex- Botafogo , Flamengo, Fluminense , Vasco , São Paulo e Grêmio ), veio para o nosso time B também. A gente fez um acordo, o Flamengo ficou com um percentual, o contrato dele estava acabando. É um mercado que, óbvio, pela quantidade de talentos que tem no Brasil e oportunidades, nos interessa", contou ao ESPN.com.br em evento online realizado pela MLS.
Pedrinho faz parte da estratégia traçada por André Zanotta para ter ainda mais atletas brasileiros de qualidade no elenco do Dallas. Inicialmente, integram a equipe B. Em seguida, se desenvolvem, sobem para o time principal e, em caso de destaque, fazem o novo passo na carreira, rumo à Europa.
"Eu vejo Flamengo, Palmeiras, Corinthians , os principais clubes no Brasil, que não vão conseguir aproveitar a quantidade de talentos que eles produzem. E jogadores que às vezes não vão ter o nível de jogar no time principal do Flamengo, no time principal do Palmeiras. Mas têm um nível muito bom para vir aqui e poder ter sucesso na MLS. Então o Pedrinho é o caso desse que a gente vê nele um potencial muito bom. Aí é um projeto que ele vem, se adapta e, se correr tudo bem, sobe para o time principal", completou.
Parcerias com times brasileiros no futuro?
Na última década, o Dallas realizou uma parceria com o Athletico-PR . No entanto, André Zanotta prefere não fechar acordos exclusivos com um único clube para ter as portas abertas para a entrada nos mais diversos formadores brasileiros e, assim, poder negociar e levar bons nomes para o time norte-americano.
"A gente teve uma parceria antes da minha chegada aqui com o Athletico-PR. Acho perfeitamente possível acontecer com qualquer clube da MLS. Mas eu prefiro manter aberto, não ter uma relação exclusiva ou de parceria com nenhum clube no Brasil, para ter essas opções de poder ter relacionamento, trabalhar, trazer jogador de qualquer clube do Brasil por esse conhecimento do mercado".
Demora para o Brasil entender a MLS
Atualmente, o Brasil é o 4º país com a maior quantidade de atletas estrangeiros presentes na MLS. Ao todo, são 28 jogadores, atrás somente de Colômbia, com 30 , Argentina, com 31 , e Canadá, que lidera com 45 .
Em um passado recente, no entanto, o cenário era bem diferente, com o país estando ainda mais atrás dos concorrentes sul-americanos. Para Zanotta, a demora para entender a Major League Soccer como um grande mercado de negócio foi um passo que retardou a ida de nomes com potencial de Europa ao velho continente.
"O mercado brasileiro demorou para entender a MLS. Hoje os agentes veem como a MLS é um passo que pode ser muito importante na carreira do jogador antes dele ir para a Europa, como tem vários exemplos de jogadores sul-americanos que vêm para cá e depois vão para a Europa. Quando eu cheguei aqui, o Brasil era quarto entre os sul-americanos. De terceiro ou quarto de jogadores, perdia para Argentina e para a Colômbia, pelo menos. E hoje, se não está muito perto da Argentina, está um pouco abaixo de número de jogadores brasileiros aqui na Liga. Então é um mercado que cresceu muito, então sempre interessa", finalizou.