O que o Dia dos Pais tem a ver com Zico, Cerezo, Falcão, Sócrates...? A seleção brasileira de 1982 não ganhou a Copa, mas conquistou o mundo. Há quem a considere a melhor de todos os tempos, embora tenha parado na Itália do 'carrasco' Paolo Rossi.

A eliminação naquela verdadeira batalha de 3 a 2 no Sarriá foi indigesta e desgastante para boa parte daquele elenco, de forma que alguns jogadores esperavam uns dias de folga quando voltaram ao Brasil. Mas para Zico não foi bem assim, como conta Seu Coriolano Assumpção em "todo almoço de domingo", segundo seu filho.

"Se não me engano, era um jogo contra o Olaria. Lembro que assisti aquele jogo, em uma quarta-feira, na semana da eliminação, e o Zico fez questão de jogar. Estava uns 5 a 1 para o Flamengo e ele queria mais. Ele brigou com outro cara porque não fez a jogada séria, em que ele podia ter feito outro gol", relembrou Coriolano ao ESPN.com.br .

Essa postura e paixão pelo jogo foi o que fez do Galinho ídolo de Tio Cori, como gosta de ser chamado o santista de 70 anos. Por isso, seus filhos Fábio, 36 anos, e Thiago, 35 anos, não pensaram duas vezes na hora de escolher um presente de Dia dos Pais: uma mensagem direta de Zico para seu fã, o papai Coriolano.

Por meio da plataforma IdoloMio , os irmãos pediram para que o eterno ídolo do Flamengo gravasse um vídeo especial para o pai nesta data - ou melhor, com uma semana de antecedência, já que não resistiram e exibiram a surpresa alguns dias antes. A responsável pelo projeto é a ESM Sports Business , empresa de marketing esportivo que reuniu uma série de personalidades do esporte, como Zico, Hugo Hoyama, Diego Lugano, Rubens Barrichello na plataforma.

"Quisemos unir esses atletas em uma ferramenta de aproximação. De forma que essa aproximação gerasse impacto social", explica Bernard Paiva, diretor executivo da ESM.

"Nós trabalhamos com uma entidade social chamada G10 das Favelas e tivemos alguns projetos conjuntos ao longo da pandemia. Mas lançamos a IdoloMio não querendo apenas beneficiar o G10, porque damos aos próprios atletas a liberdade de indicar uma entidade social que ele apoia e queira contribuir". Desta forma, a parte do valor pago pela mensagem destinada ao atleta pode ser revertida a alguma instituição à escolha do ídolo - no caso de Zico, cujo valor da mensagem é de R$ 269, o destino escolhido foi a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR).

"Me emocionei muito, chorando de alegria por ter o privilégio dele comentar alguma coisa daquilo que o futebol acabou fazendo na minha vida. E também pela admiração que eu tenho por ele, porque sempre foi assim", explicou 'Tio Cori'.

Como fica claro, futebol foi sempre uma das prioridades na sua vida.

Como conta o primogênito, Fábio, seu Coriolano tentou ser jogador, chegando a defender a Ferroviária quando jovem. Por conta de sua religião, não podia jogar aos domingos, de forma que rapidamente deixou esse sonho de lado. Mas a paixão pelo esporte só cresceu, especialmente por conta do Santos de Pelé, com o "futebol arte", que teve a oportunidade de ver pela primeira vez quando tinha 10 anos, em Presidente Prudente, interior de São Paulo.

"Minha mãe fala que meu pai fez lavagem cerebral na gente", diz Fábio ao explicar o motivo dele e de seu irmão também serem santistas. "Ele vinha com os vídeos do Isto é Pelé , e do Zico, da TV Cem , e colocava a gente para assistir."

Assim, mesmo apaixonados pelo Santos, os filhos aprenderam a ver Zico com olhos mais atentos.

"O Zico, em termos de comprometimento, é o que meu pai passou para a gente: ele é o exemplo que a gente tem que seguir não só no futebol, mas na vida."

E se 'Tio Cori' não pôde realizar o sonho de ser jogador, não lhe faltou raça para que Fábio e Thiago pudessem seguir esse caminho: "Ele fez de tudo. Ele foi além do impossível para a gente virar jogador", contou o mais velho.

"Uma vez ele saiu de Araraquara [também inteerior de São Paulo] para Rio das Ostras [no Rio de Janeiro, distante 831 km] e viajou praticamente a noite inteira para pegar o jogo do meu irmão, que era de manhã. Ele conta que chegou e só escutou o apito final do árbitro. Ele fazia essas loucuras. Às vezes, saía do trabalho para levar a gente nos treinos e voltava. Ficava meio pirado para poder acompanhar a gente."

Fábio desistiu de vez da carreira quando foi eliminado na primeira fase da Copa São Paulo de 2005. Seu irmão seguiu, até se destacando na base do Botafogo, do Rio, mas o sonho também durou pouco.

Entretanto, como afirma seu Coriolano: "Tudo valeu a pena!"

Depois de tanto rodarem pelo Brasil, ambos os irmãos receberam bolsa de 100% para estudarem na Filadélfia, nos Estados Unidos, enquanto defendiam a universidade no soccer . Fábio seguiu os passos do pai e começou a cursar Engenharia em 2006, enquanto seu irmão, que chegou no ano seguinte, escolheu Administração de Empresas.

E são, ainda que fora do futebol, orgulho do papai.