DEZenove: feliz para caramba no Fla, Alan Patrick critica punição: "Injusta"

Alan Patrick exibe seu maior troféu, a pequena Camille (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com) Alan Patrick exibe seu maior troféu, a pequena Camille (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com)

A pequena Camille, de três anos, estava na bronca com o pai. Não porque Alan Patrick começou o ano sem jogar, em tratamento de reequilíbrio muscular. Até a pequena e sorridente filha sabe: bom futebol é bola na rede, e Alan não marcava desde 8 de novembro, quando fez dois na vitória por 4 a 1 sobre o Goiás. Camille matou a saudade de gritar "gol do papai" contra o Botafogo, sábado passado, e também do sorriso do camisa 19, que jogou bem no empate por 2 a 2 com o Alvinegro e também no 1 a 1 com o Vasco, quando saiu do banco para, de bandeja, entregar na cabeça de Cirino marcar.

- Ela queria que eu fizesse gol, já tava me cobrando (risos). Passe não vale - diverte-se o jogador do Flamengo, que, segundo Muricy, é o jogador dentro do elenco rubro-negro que mais se aproxima do que é conhecido como "10 clássico".

Em entrevista ao GloboEsporte.com na véspera de Flamengo e Boavista, neste sábado, às 16h, em Volta Redonda, Alan lembrou o início de carreira em Catanduva, causos dos dois anos de Ucrânia, a ascensão e a parceria dentro e fora de campo com Neymar, Ganso e Muricy no Santos - todos juntos na conquista da Libertadores de 2011 - e também falou sério.

Punido no ano passado pela diretoria do Flamengo, Patrick viu influência da eleição em declaração em que Flávio Godinho, à época vice de planejamento e hoje à frente do futebol, afirmou que o time não tinha comprometimento . Julgou como injusto o afastamento no fim de outubro, consequência de um churrasco do qual ele, Cirino, Pará, Paulinho e Everton participaram após um treino, e desabafou sobre o assunto.


Confira abaixo a entrevista do camisa 19 do Flamengo, o "único 10 que pensa o jogo", definição do próprio treinador Muricy Ramalho:

GloboEsporte.com: Muricy disse que você é o jogador com mais cara de 10 do time. Como você vê um camisa 10?

Eu acho que nós tivemos muitas referências de grandes jogadores. Aqui dentro do Flamengo mesmo tem um que é o maior de todos, o Zico. Se você pegar pelas características, é aquele jogador clássico que eu, olhando hoje, vejo que está em falta. É o cara mais de criação, de pensar o jogo, de saber dosar e a hora de acelerar o jogo. É claro que têm vários tipos de camisa 10. Dentro do nosso elenco, o Ederson é aquele camisa 10 mais agressivo, que vai pra cima. Se você for avaliar vários clubes, você encontra vários estilos de camisas 10.

É mais difícil para torcedores e até treinadores entenderem que nem sempre você tem o mesmo vigor de outros jogadores ou vai correr os 90 minutos, mas sim pensar o jogo?

Acho que o torcedor ou tudo mundo que entende um pouquinho de futebol vai saber ter essa avaliação. Você tem jogadores para exercer funções de várias maneiras, e a minha função dentro da equipe é essa. Claro que têm outros jogadores que vão armar as jogadas, mas meu papel é esse: tentar encontrar um passe para o atacante e chegar na frente também para finalizar.

É claro que, com o elenco que a gente tem, eu perdi espaço e aos poucos fui voltando. Muricy acredita no meu potencial, tive oportunidade de entrar no jogo do Vasco e fui bem. E o Muricy é um cara justo. Me deu a chance no jogo contra o Botafogo, e eu tô feliz pra caramba".
Alan Patrick, sobre a volta ao time titular

Artilheiro e melhor jogador do Flamengo no Brasileiro passado; depois, começa o ano como reserva. Isso deixou desmotivado ou triste?

O ano não começou da maneira que eu esperava, mas acho que vocês acompanharam que tive um probleminha de lesão que estava me limitando muito desde a pré-temporada. Aí chegou um momento em que, conversando com os preparadores físicos, médicos e o próprio Muricy, optamos por parar e fazer um tratamento para voltar e render bem. É claro que com o elenco que a gente tem, eu perdi espaço e, aos poucos, fui voltando. Muricy acredita no meu potencial, tive oportunidade de entrar no jogo do Vasco e fui bem. Muricy é um cara justo. Me deu a chance no jogo contra o Botafogo, e eu tô feliz pra caramba. Espero dar continuidade para ajudar o Flamengo. Sempre acreditei em mim. Estava trabalhando, recuperando a forma física para que na hora em que meu momento chegasse eu pudesse agarrar da maneira que foi.

Como é a relação com Muricy e Tata? Vocês venceram a Libertadores em 2011 no Santos.

Mosaico Alan Patrick Flamengo  (Foto: Fred Gomes) Alan sorriu várias vezes, principalmente quando falou de Camille, fez cara feia para outros assuntos e mostrou suas tatuagens (Foto: Fred Gomes)

O Tata é uma figura, cara brincalhão e que tá sempre tirando uma ondinha. O Muricy, vocês que acompanham há algum tempo, sabem que é um cara mais fechado. Claro que uma vez ou outra ele solta uma risadinha ou alguma brincadeira engraçada. É um cara sério, trabalha pra caramba e quer sempre o melhor do time. estou tendo a segunda oportunidade de trabalhar com ele, e tenho certeza que estamos no caminho certo. Ele está pensando de todas as maneiras para o melhor do Flamengo, e eu acredito que a gente tem um futuro bastante vitorioso no Flamengo.

Como foi seu início em Catanduva: teve influência de alguém como seu pai, começou em escolinha de bairro?

Comecei na escolinha da minha cidade. Meu pai chegou a jogar amador, mas não chegou a treinar nos profissionais do Grêmio Catanduvense e depois optou por trabalhar. Acho que eu dei o presente para ele de ter um filho que se tornou jogador profissional. Depois me transferi para uma cidade vizinha onde disputávamos torneios mais fora do estado até para ter visibilidade dos clubes grandes. O Santos foi fazer um torneio na minha cidade, porque a escolinha que eu jogava completava aniversário, e eles convidavam uma equipe grande para participar do torneio. Foi ali que me destaquei. Eu tinha 10 ou 11 anos. Um menino que jogava na categoria sub-17 pegou meu telefone e falou que ia levar para o representante do Santos. Depois de seis meses, esse cara me ligou, pediu para eu fazer uma avaliação. Fui, fiquei um pouquinho e, graças a Deus, as coisas se encaminharam.

Como foi o convívio com Neymar, Ganso no Santos?

Eu tinha afinidade muito boa com o Neymar, porque sempre jogamos juntos em todas as categorias. Quando cheguei, eu morava no alojamento, e ele, em Praia Grande. Nos fins de semana, sempre ia para casa dele até para sairmos da Vila Belmiro e passar um fim de semana diferente. O Ganso chegou depois, acho que a partir do juvenil. Jogamos um torneio nos juniores e logo depois ele subiu. Acho que ele subiu em 2008, depois jogamos a Copa São Paulo junto com o Neymar e o André. Depois da Copa São Paulo de 2009, nós subimos. Mas em 2009, eu joguei pouco. No fim do ano, o Vanderlei (Luxemburgo) pediu para eu descer. Joguei o Brasileiro Sub-20 e a Copa São Paulo. Nesse meio tempo, fui convocado para a Seleção, cheguei para disputar a Copinha na segunda fase. Fomos até a final, perdemos nos pênaltis e depois dali, graças a Deus, decolei e me firmei no profissional.

"Quando cheguei, eu morava no alojamento, e ele, na Praia Grande. Nos fins de semana, sempre ia para casa dele até para sairmos da Vila Belmiro e passar um fim de semana diferente".
Alan Patrick, parça de Neymar

E logo depois de ser profissionalizar, você logo foi campeão da Libertadores. O Muricy os fez acreditar que era possível, com aquela molecada, ganhar um título tão importante?

Viu a tatuagem (do troféu da Libertadores na panturrilha), né (risos)? Nosso grupo era muito bom, tinha muitos talentos individuais que faziam a diferença. Para mim, não poderia ter sido melhor participar de um grupo fantástico, de jogadores com tanta qualidade. E o Muricy, na verdade, chegou no meio da Libertadores. Faltavam dois ou três jogos, e nós precisávamos de duas vitórias para avançar. Aí conseguimos, depois dali encaixou e fomos passando, passando, até chegar à conquista. Depois, fui para a Ucrânia.

Em nove meses de Flamengo, você já sentiu como é a torcida. Apesar de ter contrato apenas até dezembro, você sonha tatuar uma segunda Libertadores na panturrilha jogando com a camisa do clube?

O objetivo é esse, claro que passo a passo. Temos que conquistar a vaga primeiro, mas acho que é uma meta junto com meus companheiros. Ganhar uma Libertadores com essa camisa seria fantástico, inesquecível.

<b>Confira histórias engraçadas sobre a passagem pela Ucrânia acima:</b>

E depois da Libertadores veio a Ucrânia. Como foi a decisão de ir para lá depois de ser campeão? Não pensou que podia ser um erro por sair da vitrine?


É o sonho de todo mundo jogar na Europa, e quando tive essa oportunidade financeiramente também era bom. Conseguiria mais estabilidade e tranquilidade para a minha família. Acho que foi isso: juntou as duas coisas. Acredito que se eu estivesse jogando bem lá, podia dar certo. Temos os exemplos do Willian e Douglas Costa, que foram transferidos. Mudou de um tempo pra cá. O próprio treinador da Seleção de outros países estão olhando para lá. Não me arrependo e daqui para frente é outra realidade.

E as férias por lá. Tinha diversão? O que vocês faziam? A Camille (filha do atleta, de 3 anos) nasceu na Ucrânia?

A Camille nasceu seis meses antes de eu voltar para o Brasil. Vi o nascimento dela, voltei para a Ucrânia e depois fui para o Inter. Era gostoso porque tinha bastante brasileiro, éramos bem unidos, e Fernandinho e Luiz Adriano, que já estavam bastante tempo lá, já tinham o esquema todo de arrumar carne para fazer churrasco. Sempre nos reuníamos na casa do Fernandinho ou de outros para trocar ideia, fazer churrasco e para ficar aquele clima de Brasil.

Alan Patrick tem a Libertadores de 2011, vencida com a camisa do Santos, tatuada (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com) Alan Patrick tem a Libertadores de 2011, vencida com a camisa do Santos, tatuada (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com)

No ano passado, o vice de futebol Flávio Godinho, falou em "passar o rodo" no time porque via falta de comprometimento. Em 2016, poucos jogadores saíram, e ele disse que o comportamento mudou. Havia falta de comprometimento ou oba-oba em 2015?

Quanto à declaração, é até difícil eu falar, mas de repente aquele ano político pode ter interferido um pouco nessa declaração, mas eu não via, não. Tivemos bons momentos, mas não tivemos regularidade, porque o Brasileiro exige isso. Temos a prova do Corinthians, que era um time que ganhava e que, quando não ganhava, empatava. E o Flamengo, quando não ganhava, perdia. Ganhava e perdia. Em 2016, a gente trabalha para ter regularidade.

No ano passado, então, não existiu falta de comprometimento?

Não. O grupo está querendo, está se esforçando. Sabemos da dificuldade que vai ser sem o Maracanã, é mais um obstáculo e temos que passar por cima. Temos de nos unir, porque vai ser muito difícil. As viagens são muito cansativas, às vezes são viagens para muito longe, mas temos de encarar e fazer o nosso melhor junto com o Muricy. E claro que tudo que ele passar temos que acatar para tudo sair bem dentro de campo.

Ganhar uma Libertadores com essa camisa seria fantástico, inesquecível.
Alan, e o sonho de ganhar a América pelo Flamengo

Voltando a 2015, por que o Flamengo foi tão irregular depois de vencer seis seguidas? O que mudou para depois cair tanto?

Não mudou nada. Nós estávamos embalados pelas seis vitórias, fomos jogar em Brasília, contra o Coritiba, e tivemos a derrota por 2 a 0 que ninguém esperava. Acho que ali, com o Maracanã, poderia ser diferente. Querendo ou não é um tipo de torcida diferente. Só que aquele jogo já estava vendido há tempos, antes do início daquela arrancada de seis vitórias. Mas foi a primeira derrota e depois não sei te explicar. Foi acontecendo, e acho que serve de lição para esse ano. E, para quem estava no ano passado, serve de aprendizado para que esse ano a gente entre com tudo para manter a regularidade, porque é o ponto que vai levar a gente ao topo.

Vamos entrar num assunto do ano passado. Você considerou justa a punição? Como te atrapalhou, pessoalmente?

Claro que atrapalhou. Ficamos um jogo sem jogar. E não achei justa. Foi injusta. Acho que não vem ao caso entrar muito em detalhes do que acho de como deveria ter sido ou não, mas não achei justo. Foi chato para nós jogadores, a repercussão não foi legal, e a gente procurou esquecer isso. Ficamos uma semana afastados, fomos reintegrados e procuramos seguir da mesma maneira que fazíamos nos jogos. Mas foi uma escolha da diretoria o afastamento, e respeitamos, porque somos pagos para isso e funcionários. Mas é página virada, ano novo, e espero que esse ano seja de vitórias e só coisas boas.

"Quanto à declaração, é até difícil eu falar, mas de repente aquele ano político pode ter interferido um pouco nessa declaração, mas eu não via, não".
Alan, sobre Flávio Godinho ter dito que faltou comprometimento ao Flamengo em 2015

Adriano já disse que todo jogador bebe. Você não abre mão disso, né? De curtir com a sua família, filha e amigos, não?

Nem todo jogador bebe, mas acho que o torcedor e todo mundo têm que entender que somos pessoas normais como qualquer outra. Somos seres humanos, temos nosso momento de lazer, nossa folga e nossa família. Então não vejo problema, é claro que você tem que fazer as coisas consciente e moderadamente. Então, não vejo problema contanto que não venha trazer problemas para o seu corpo.

Naquele Flamengo x Goiás (4x1), você faz dois gols. Você e Pará eram os únicos titulares envolvidos no episódio do churrasco - que culminou no apelido "Bonde da Stella" para os punidos - e, a cada toque na bola, eram xingados e vaiados. O que passou na sua cabeça para chorar no primeiro gol?
Desde o primeiro momento que pisamos no campo fomos vaiados, antes mesmo de pegar na bola. Acho que foi mesmo um desabafo, porque achava que aquilo ali não estava sendo justo. Não consegui segurar, logo eu, que sou durão para essas coisas.

Voltando ao Carioca. Guerrero deu entrevista recentemente falando que está engasgado com o Vasco. Você também? Antes de pensar no Brasileiro, quer desbancar o rival e evitar o bicampeonato?

Sem dúvida alguma. Acho que a gente entra em todas as competições pra ganhar. Agora o que temos é o Carioca, e a Copa do Brasil começou agora. Temos missão difícil para classificar, mas temos que focar no próximo jogo e no seguinte também para conquistar essa classificação. Depois vamos jogar com eles (Vasco) de novo e é claro que está engasgado. O grupo tem consciência que vai ser difícil, mas vamos buscar isso.

O Fernandão, ídolo do Inter falecido recentemente, disse que aprendeu com o Muricy o sentimento de indignação com derrota. São seis jogos sem vencer. O que sentiram no comportamento do Muricy  nesse tempo?

Perder é muito ruim. Acho que todos nós no vestiário ficamos num clima de tristeza com derrotas. É claro que você joga com uma outra equipe que também trabalha para vencer, mas acho que tem que ter indignação com a derrota. Não pode se contentar nunca, mas faz parte do futebol. Muricy é um cara que tem dado muita força, dentro de campo acho que a equipe tem feito bons jogos e por detalhes a vitória está escapando. Também por falta de atenção em algumas jogadas acaba que perdemos os jogos. Acho que dentro de campo é que temos de nos tocar, nos cobrar e os companheiros não podem ter receio de falar um com o outro. Muricy passa todos os atalhos pra gente, mas em campo é com a gente.

Alan Patrick também tem uma tatuagem alusiva a Michael Jordan (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com) Alan Patrick também tem uma tatuagem alusiva a Michael Jordan (Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com)

Essa tatuagem do Michael Jordan é uma inspiração na carreira?

É um cara que é referência no esporte mundial para todo mundo. Eu gosto muito de assistir à NBA, é um cara que vi algumas imagens, vi algumas coisas sobre ele. E procuramos pegar coisas boas de Michael Jordan, ou de caras que foram ícones do esporte. Dispensa comentários, é um monstro no que fez. O Lucas Bebê, que joga no Toronto Rapters, e o Bruno Caboclo (também do Toronto) são meus amigos. É um esporte que eu me amarro também.

Quais outras referências você tem no esporte, ou no futebol?
O Ganso é um cara extraordinário, acima da média. Mas tenho como ídolo Ronaldinho Gaúcho e Zinedine Zidane, dois caras fantásticos.

Fonte: Globo Esporte