Derrota de Marcos Braz, vice do Flamengo, nas urnas mostra que má fase no futebol é mais imperdoável do que corrupção; leia análise

Fosse uma partida, seria possível dizer que Marcos Braz sofreu uma derrota por goleada na eleição para vereador de 2024 no Rio de Janeiro. O vice de futebol do Flamengo fracassou em sua tentativa de reeleição. Mais que isso: "derreteu" em relação há quatro anos. De 6º mais lembrado nas urnas pelos cariocas em 2020, com 40.938 votos, despencou para 8.151 votos.

A queda de 80,1% na votação casa com o momento do Flamengo, clube que dá visibilidade e influência para Braz. Pelo cargo que ocupa no clube, está sempre diretamente ligado aos sucessos e fracassos do time. Em 2020, surfou na boa fase do rubro-negro, que vinha de um 2019 marcado pelas conquistas do Brasileiro e da Libertadores e, na época, brigava pelo bicampeonato consecutivo da Série A, confirmado meses depois.

Agora, em 2024, experimentou o outro lado desta mesma moeda. O time vem de duas temporadas seguidas sem campanhas convincentes na Libertadores e sem protagonizar a briga pelo título brasileiro. Ainda pode conquistar a Copa do Brasil, torneio com peso menor em comparação aos outros dois. Isso sem contar as sucessivas trocas de técnico e o desgaste na relação com ídolo Gabigol. Por fim, vale lembrar que o dirigente ainda não se desvinculou da briga com um torcedor no corredor de um shopping do Rio, há um ano.

Não é novidade que o futebol é um trampolim para a política. E este fenômeno tampouco é uma exclusividade do Brasil e dos países considerados pobres. A superficialidade dos motivos que elegem ex-atletas e dirigentes é tão grande que basta a fase do time mudar ou estes personagens saírem dos holofotes para perderem a preferência do eleitor. Adaptando o bordão que ficou famoso com o ex-técnico Muricy Ramalho, a urna pune.

O curioso, neste caso, é notar como a má fase do Flamengo tem um peso nas escolhas do eleitor que outros fatores não tem. A mesma eleição que expeliu Braz da Câmara Municipal manteve ou trouxe de volta políticos ligados a casos de corrupção.

Entre os que se reelegeram no Rio, está Doutor Gilberto (Solidariedade), que em 2017 chegou a ser preso acusado de liderar um esquema de cobrança de propinas no Instituto Médico Legal de Campo Grande. Foi solto, eleito em 2020 e agora de novo. Será seu quinto mandato como vereador.

Outro que aparentemente não sentiu o impacto nas urnas de denúncias de corrupção é o vereador William Coelho (Democracia Cristã). Há dois anos, investigações da Polícia Civil e do Ministério Público apontaram que ele teria ligação com uma quadrilha de roubo de carga. Neste domingo, foi reeleito com 18.777 votos (3.651 a mais do que em 2020).

Por fim, há o caso daqueles que retornam à Câmara Municipal a despeito de manchas do passado. Chefe da Casa Civil da gestão Crivella, Paulo Messina foi citado pelo Ministério Público, em 2020, como cabeça de um grupo que controlava cargos na Prefeitura e cobrava propinas, caso que ficou conhecido publicamente como "QG da Propina". Fora da legislatura atualmente, foi eleito neste domingo para o quarto mandato como vereador (foram três seguidos entre as eleições de 2008 e de 2016).

Não se trata de defender Braz, cujo mandato foi marcado por polêmicas. A comparação com os exemplos acima serve apenas para constatar como funciona a cabeça de parte do eleitorado. Um modo de pensamento que já beneficiou o dirigente, mas agora cobra seu preço.

Fonte: O Globo