Depois de Flamengo e Palmeiras, será o ano do Galo "faminto"?

A expulsão de Patrick de Paula no Mineirão é um pacote de absurdos. A entrada em Nathan Silva que gerou o primeiro amarelo era para cartão vermelho direto. O árbitro Bruno Arleu de Araújo segurou, para depois punir o volante do Palmeiras por um escorregão que acaba acertando Jair. Depois de afirmar que não expulsaria inexplicavelmente voltou atrás.

Será que lembrou da falta anterior? Um erro não justifica outro, mas arbitragem brasileira adora compensar. Ainda mais quando o time prejudicado é o visitante. Faria o mesmo no Allianz Parque? Nunca saberemos.

Seja como for, o Atlético Mineiro já dominava a partida nos 33 minutos do jogo com onze contra onze. Até porque o time paulista deixou claro já na escalação de Abel Ferreira que a prioridade era o jogo de volta contra o São Paulo pelas quartas da Libertadores, na terça. Uma formação muito mexida, apostando apenas nos passes longos de Gustavo Scarpa para a velocidade de Verón e Wesley pelos flancos nas transições ofensivas.

O Galo, com boa vantagem sobre o River Plate e um dia a mais de descanso por jogar só na quarta, mandou um time mais completo. Com Guilherme Arana, Nacho Fernández - este por uma questão lógica, já que foi expulso em Buenos Aires e não jogaria mesmo no meio da semana - e Hulk.

Também Savarino, que foi às redes duas vezes completando passes de Arana, um em cada tempo, para definir os 2 a 0. Quatro gols do venezuelano nos confrontos com Flamengo e Palmeiras, os grandes rivais nacionais no momento.

A expulsão condicionou o jogo, sim. Impossível negar. Mas foi um atropelo de 67% de posse, 90% de efetividade nos passes. 15 finalizações, nove de dentro da área e seis no alvo. Domínio que poderia tranquilamente ter sido traduzido em goleada.

Mas o Atlético vai administrando as energias para ser forte nas três frentes. No Brasileiro, abre cinco pontos na liderança e o fim do jejum de meio século parece mais próximo. Na Libertadores e na Copa do Brasil caiu nos lados mais fortes dos chaveamentos, porém conta com elenco para brigar e chegar longe.

Ainda dá a impressão de viver demais das individualidades, mas a confiança vai gerando outros destaques além dos já citados. Como Nathan Silva, que voltou do empréstimo no Atlético-GO com personalidade para ganhar a vaga na zaga ao lado de Junior Alonso e marcar o gol decisivo sobre o Juventude no final que colocou o time na liderança.

O Galo está "faminto". Em campo e no mercado, agora anunciando a contratação de Diego Costa. O clube tenta administrar uma dívida enorme, mas agora conta com um mecenas forte que parece ter a intenção de colaborar para que depois o Atlético ande pelas próprias pernas. Como a Crefisa faz com o Palmeiras. Bem diferente de patrocínios sem legado, como a parceira Unimed/Fluminense, por exemplo.

A "fome" faz diferença. Cria a fibra para ir além. Como o Flamengo em 2019, depois de anos com recuperação financeira, porém sem grandes conquistas. Depois o Palmeiras no ano passado, "mordido" justamente pelo atropelo rubro-negro com Jorge Jesus. Ambos conseguindo feitos inéditos, de vencer Libertadores e ainda uma competição nacional.

O Atlético parece com o mesmo espírito. Cuca trata cada partida como uma final, independentemente da competição. Vai manejando bem o elenco farto e homogêneo. É claro que a conhecida instabilidade emocional do treinador pode pesar em algum momento, mas até aqui o trabalho gera ótimos resultados. Inclusive a sequência de nove vitórias no Brasileiro, igualando recorde do Internacional em 2020.

No futebol tudo é muito volátil. Uma noite ruim com eliminação na quarta pode abalar a confiança e comprometer a sequência. Não foram poucas as vezes em que o Galo parecia arrancar para a glória e refugou. Só que agora a solidez e a margem de evolução com tanta qualidade disponível impressionam e dão bons motivos para acreditar em desfecho diferente.

Acima de tudo, há "sangue nos olhos" para fazer de 2021 o ano do Atlético. Será desta vez?

(Estatísticas: SofaScore )

Imagem: Fernando Moreno/AGIF

Fonte: Uol