A defesa de Bruno Henrique, do Flamengo , entrou com pedido na Justiça para que as provas da investigação da suposta participação do jogador em caso de manipulações de apostas esportivas não fossem compartilhadas com a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas -- o que foi negado no último dia 30.

O pedido incluia "limitação do compartilhamento, a fim de que exclua informações de natureza pessoal e profissional estranhos à apuração dos fatos".

O juiz Fernando Brandini Barbagalo, que assinou a decisão, argumentou que "na decisão de compartilhamento não foram apresentados quais seriam concretamente os dados e arquivos pessoais que não poderiam ser compartilhados, porém, ainda assim, foi oficiado ao Senado Federal informando sobre a existência de dados com informações pessoais sensíveis".

"Não há como limitar o que poderia ser útil ou não ao trabalho investigativo. O mesmo vale para o trabalho investigativo dos parlamentares, não podendo, a priori, limitar o compartilhamento", continuou, pontuando que a investigação consta com dez investigados e mais de uma dezena de aparelhos de telefonia celular.

Por fim, destacou que qualquer divulgação de dados sem pertinência seria "infração funcional ou disciplinar" e que os relatórios periciais foram limitados "apenas às partes cadastradas no processo".

"No momento, considerando o número de investigados e de aparelhos não há como estabelecer limitação ao compartilhamento com os componentes da Comissão Parlamentar de Inquérito, instaurada pelo Senado Federal, devendo confiar que essas altas autoridades se responsabilizarão e zelarão pela manutenção do sigilo dos elementos investigatórios de cunho pessoal ou familiar que não possuam relação com os crimes que estão sendo investigados", finalizou.

Entenda o caso Bruno Henrique

A Polícia Federal analisou 3.989 conversas no celular do atacante do Flamengo. A maior parte estava vazia ou apagada, o que pode indicar que o atleta possa ter deletado parte dos registros. Porém, no aparelho do irmão de Bruno Henrique há um diálogo que mostra um suposto envolvimento de Bruno Henrique para forçar um cartão contra o Santos.

Uma das conversas divulgadas pelo Metrópoles e obtida pela ESPN mostrou uma troca mensagens do dia 29 de agosto de 2023, meses antes do duelo pelo Brasileirão , disputado no dia 1° de novembro e que terminou em derrota do Flamengo por 2 a 1.

  • Wander: "O tio você está com 2 cartão no brasileiro?"

  • Bruno Henrique: "Sim"

  • Wander: "Quando (o) pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk"

  • Bruno Henrique: "Contra o Santos"

  • Wander: "Daqui quantas semanas?"

  • Bruno Henrique: "Olha aí no Google "

  • Wander: "29 de outubro"; "Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk"

  • Bruno Henrique: "Não vou reclamar"; "Só se eu entrar forte em alguém"

  • Wander: "Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso"

Bruno Henrique e Wander foram indiciados por fraude e estelionato. Na primeira, a pena é de dois a seis anos de prisão, na segunda, de um a cinco anos de reclusão.

Entre as pessoas indiciadas, também estão Ludymilla Araújo Lima , esposa de Wander, e Poliana Ester Nunes Cardoso , prima do atleta, uma vez que todos realizaram apostas.

Procurada em abril, quando o caso veio à tona, a assessoria do jogador preferiu não se manifestar. O Flamengo, por sua vez, se manifestou sobre o tema.

"O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito."