Bebeto não veste a camisa do Flamengo profissionalmente desde 1996, mas aos 60 anos e com passagens importantes por outros grandes clubes na carreira, o craque não consegue se desvincular das cores que carrega no coração desde pequeno. Ao falar da final da Copa do Brasil, entre Flamengo e Atlético-MG, clássico no qual é figura histórica, referiu-se ao Rubro-Negro o tempo inteiro na primeira pessoa.
Fez muitos elogios ao Atlético-MG, mas apostou na força da camisa do Flamengo e deu uma dica baseada na própria experiência: vencer o primeiro jogo em casa é fundamental.
- Esse jogo vai ser difícil, a primeira a gente joga aqui e a final é lá. Só que agora vai ser na arena deles, onde eles vão muito bem. Não vai ser mais no Mineirão. Atlético está bem com Hulk e Paulinho, esses caras têm feito uma diferença impressionante. Agora entrou o Battaglia na zaga, ele era volante. É um argentino que gosto muito. O Alonso é muito bom jogador. O time deles é muito forte, o Lyanco, né? O Atlético foi muito bem no mercado.
- Agora o Mengão é o Mengão. Aqui a gente tem que fazer a diferença, porque deixar para fazer diferença lá é difícil. Mas onde a gente for, pelo time que a gente tem, eu acredito no Flamengo . Apesar que tivemos muitos desfalques, são jogadores importantes e principalmente os de velocidade, que são os casos de Luiz Araújo, que vinha bem demais, e do próprio Cebolinha, que vinha fazendo uma temporada maravilhosa. Infelizmente perdemos esses jogadores, machucou também o Viña, que poderia substituir o Ayrton Lucas.
Goleador principal daquele esquadrão que conquistou o tetracampeonato brasileiro em 1987, Bebeto e seus companheiros enfrentaram na semifinal da competição o Atlético-MG de Telê Santana, que estava invicto àquela altura e era cotado como um dos favoritos.
- O Atlético tinha um grande time também, e o meu time era fantástico. Eu coloco esse time como um dos melhores da história do Flamengo . Cinco foram tetracampeões do mundo. Não preciso falar mais nada. Eu, Jorginho, Zinho, Leonardo e Aldair, que era banco. Minha zaga era Edinho, jogador de Seleção, e Leandro (risos). Preciso nem falar. E no meio nosso eterno ídolo, o Zico, que aquilo era uma inspiração para todo mundo. Só de ter ali. Não estava 100% por causa do joelho, que incomodava e inchava, mas ele era muito determinado. Esse foi o exemplo e o legado que ele deixa.
Num Maracanã lotado com mais de 120 mil presentes (118.162 pagantes - recorde do Brasileiro de 87), o Flamengo teve muitas dificuldades, mas conseguiu o 1 a 0 aos 32 minutos do segundo tempo. Jorginho arrancou, Zico deu passe genial de primeira, e Bebeto empurrou para a rede do Galo.
- Mas o Atlético tinha um timaço, um ataque rapidíssimo. Impressionante. Jogamos a primeira no Maracanã, com um calor absurdo. Aqui ganhamos de 1 a 0 numa luta danada, com o time do Atlético bem, poderia ter o feito o gol, mas na primeira oportunidade que tive, eu matei o jogo ali. Me lembro muito bem: uma jogada do Jorginho com o Zico. Jorginho deixou e o Zico tocou. A bola passou, eu entrei e bati para o chão. Ela bateu na grama e subiu, aí passou pelo lado do goleiro. E 1 a 0 para nós foi muito bom porque a gente sabia que o jogo lá ia ser difícil.
Na volta, também num Mineirão abarrotado de gente (84.929 pagantes), Bebeto voltou a ser figura decisiva. Cruzou para Zico abrir a contagem de cabeça e marcou o segundo, que colocou o Flamengo com a faca e o queijo na mão e um placar de 2 a 0 no primeiro tempo.
Um surpreendente Galo conseguiu deixar tudo igual aos 19 da etapa final, mas, aos 33, numa arrancada antológica, Renato Gaúcho deu a vitória por 3 a 2 para o Flamengo .
- A gente já sabia que ia ser muito difícil pelo time que o Atlético tinha, assim como esse de agora, não à toa está na final da Libertadores e da Copa do Brasil. Eu fiz o gol, dei o passe para o Zico fazer de cabeça, eles foram lá e empataram o jogo. No final, o nosso Renatão... Nosso ataque era danado. Eu e Renatinho... Quando ele levava na ponta, eu sabia que ele ia passar e ficava na expectativa que ele ia cruzar. Eu já o entendia perfeitamente. Ele não cruzava a bola por cruzar, ele metia na cabeça, era como um passe.
- Ele, com aquela força e arrancada dele, para pegar só na pancada. Ele deu uma arrancada e ninguém pegou, velho. O empate era nosso, mas com aquele gol respiramos melhor. Depois tocamos a bola e não ficamos só atrás nos defendendo.
Bebeto destaca que aquela semifinal, apesar de toda a força do Internacional de Taffarel, era vista como uma decisão antecipada que apontaria o campeão brasileiro de 1987.
- Ali ia sair o campeão, não desmerecendo o Inter, já que a final foi muito difícil. Foi uma confusão, a torcida do Galo fez um rebuliço. E nossa torcida foi lá, encheu o Mineirão e ajudou a gente demais. A torcida do Flamengo é demais.
- Aqui tem que fazer a diferença, temos que ganhar para irmos mais tranquilos. Decisão você tem que botar raça, vontade, e o Flamengo é isso. Flamengo tem tudo para conseguir o objetivo maior, que é ser campeão. A gente entra sempre para ganhar, nunca entra para perder. Flamengo é Flamengo , não tem jeito. Essa torcida vai lotar o Maracanã e vai incentivar muito.
Tem favorito?
- Não tem favorito, não. Flamengo tem um grande time, e o Atlético também tem, mas acho que aqui a gente vai fazer a diferença. Tenho certeza que, ganhando aqui, a gente vai ter tranquilidade maior. Quem tiver mais gana e raça. É um ajudando o outro, cada um buscando o melhor para a equipe. Com a qualidade e esse time que a gente tem, apesar dos jogadores importantes machucados.
Fé e pedido de apoio a Gabigol
- É Gabigol ali. Tivemos a perda do Pedro, que era um cara que vinha bem, um jogador de seleção brasileira, o nosso artilheiro. Temos que acreditar no Gabigol. Está ele ali. Vamos dar força para ele, o Filipe Luís foi muito feliz (em escolhê-lo como titular). Acho que a vontade de ganhar e a raça vão superar. Aquele comprometimento de vestir a camisa do Flamengo , que é pesada. A torcida tem que torcer muito porque esse resultado vai ser muito importante. É aquele jogo de lutar o tempo todo, sempre buscar o gol em todo o momento.
"Acredito muito em você, meu garoto", disse Bebeto a Filipe Luís
- Sempre acreditei no Filipe, é um cara muito centrado. Tive com ele no Flamengo , e ele estava treinando o sub-20. E eu disse para ele: acredito muito em você, meu garoto. Está iniciando uma carreira que já está sendo brilhante, mas vamos respaldar. É aquele negócio: ganhou, é o melhor do mundo... Perdeu. É um menino que gosto, educadíssimo. Estou torcendo demais para o Flamengo e para o Filipe Luís.
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