De uma calça só à camisa do Flamengo e aos gols na Copinha, Daniel Rogério vibra: "Não foi em vão"

O garoto que um dia só teve uma calça e um tênis para ir à escola hoje veste-se de esperança. Destro, o volante Daniel Rogério fez dois gols importantes com o pé esquerdo que ajudaram o Flamengo a avançar na Copinha e a passar por São José-RS (3x1), na terceira fase, e Botafogo-SP (2x1), nas oitavas de final. Se adaptar nunca foi problema para ele. Desde cedo a vida o convidou a driblar a pobreza e, com o apoio da mãe, Isabel, tem conseguido vencer.

- A minha trajetória, desde quando eu comecei até chegar ao Flamengo , é muito difícil, muito difícil. Porque venho de uma família pobre, de um lugar onde não tem oportunidades. Não tinha condição financeiras nenhuma. Como eu falei, tinha um tênis, uma calça. Então, para gente que vem do pouco, para a gente que vem da onde não tem muita condição, é muito gratificante você chegar onde você chegou.

O "pouco" de onde veio não fez Daniel Rogério passar fome porque Dona Isabel não deixou, mas dificuldades não faltaram pelo caminho. Enfrentou problemas familiares, a ausência de um pai e transtornos para se locomover de Guapimirim, munícipio da Baixada Fluminense, para o Rio de Janeiro quando chegou ao São Cristóvão, aos 12 anos de idade. Além da distância de mais de 80 quilômetros, havia a necessidade de amontoar marmita, material esportivo e uniforme escolar.

- Eu venho de uma família pobre do interior do Rio de Janeiro, da Baixada Fluminense. Minha mãe, como sempre teve cinco filhos, não podia me dar muita coisa. Não faltava nada, não passava fome, graças a Deus. Mas quando você tem quatro irmãos e mais você, tudo é muito dividido, tudo é muito contado.

- Ainda mais que minha mãe criou os cinco filhos sozinha, então sempre foi muito sofrido. E ainda mais vindo de um lugar onde se tem poucas oportunidades. Comecei a jogar futebol aos 5 anos. Com 12, eu já comecei a ir para o Rio, jogar no São Cristóvão. Acordava cinco horas da manhã, ia para a escola, que era longe da minha casa, tinha que pegar ônibus, levava marmita no ônibus.

Daniel Rogério, no centro, comemora um de seus gols na Copinha — Foto: Jhony Inácio/Ag. Paulistão

- Muitas das vezes quando eu ia pegar a marmita, estava revirada. Por conta de escola, eu tinha que levar tudo, levava um mochilão, só tinha uma calça, só tinha um tênis. E isso foi por um bom tempo. Acordava cinco horas da manhã, ia pra escola. De lá já ia para o treino, chegava em casa 10 horas da manhã por conta de eu morar em Guapimirim e o treino do São Cristóvão ser lá no Méier. Até eu chegar no Flamengo , e todo mundo conhece o Flamengo , sabe que é p... para jogar lá, então eu passei por muitas dificuldades. Dificuldade de transporte e de locomoção, porque é muito distante.

Nascido em 12 março de 2005, Daniel começa a ter uma vida mais confortável com o crescimento no Flamengo . Deixou Guapimirim e mora com um companheiro de clube numa casa próxima ao Ninho do Urubu, administrada pelo escritório que gerencia a carreira dele. É com a mãe, o empresário Robson Ferreira, e familiares e amigos que o volante

- Essa sensação (de fazer gols numa Copinha) é a melhor possível por fazer gols, principalmente se tratando da Copa São Paulo. E também, cara, de gratidão por ver que o trabalho não foi em vão. O quanto eu estou treinando, o quanto eu estou me esforçando, o quanto eu estou me dedicando pra fazer dar certo, e você vê que está dando frutos, que tá dando resultados.

- Você olha verdadeiramente para o que você passou e para o que você abdicou e vê que está dando resultado. Então a sensação é de felicidade, não só pelo gol, mas pela importância dele, por saber que é numa competição importante. E grato e feliz por poder representar da melhor forma aqueles que acreditam em mim: minha família, meu empresário, meus amigos.

Apesar de hoje poder subir em cima da placa de publicidade para comemorar gol, apontar para o escudo e jogar-se nos braços de milhões rubro-negros, Daniel Rogério já sentiu a dor de estar sozinho.

- Então assim, esse é só um pedaço da minha história. Estou há cinco anos no Flamengo , vou fazer seis. Acho que é um pedaço de muitas das dificuldades que eu já passei. Outro detalhe é que, quando comecei a jogar no São Cristóvão, a minha mãe ou trabalhava para me dar dinheiro pra ir ou me acompanhava nos jogos.

- Teve um jogo que eu estava saindo e vi todos os atletas acompanhados de um pai. Aquilo me doeu o coração, e eu chorei muito porque eu não tinha ninguém presente, eu não tinha um pai presente. A minha mãe era presente, mas ela tinha que trabalhar pra me dar a condição para eu chegar aos jogos, aos treinos. Então sempre foi eu por eu, sempre sozinho, sempre na minha luta, sempre batalhando. Sempre fomos minha mãe e eu, minha mãe e eu.

Por Isabel e por si próprio, Daniel lutou e esteve próximo de dar um passo importante na carreira. Em 2022, após torneio em Dallas, nos Estados Unidos, clubes da Europa ficaram de olho no garoto, mas o Flamengo agiu rápido e renovou o contrato até junho de 2025. O simples interesse do exterior já valeu sob a ótica do jovem.

- Feliz porque eu não vinha num momento bom no Flamengo . Quando eu recebi a proposta, era início de ano, início de sub-17, e não tinha feito um ano bom no sub-16. Quando o meu empresário, o Robson, me contou, eu fiquei muito feliz por ver que tinha um clube ou até outros clubes interessados.

- Felicidade, gratidão, e alegria por você ver que o seu trabalho está sendo visto, por ver que os dias de lutas, dias de tristeza e dificuldades que eu passei estão valendo a pena. Você vê que você não foi em vão. Quando o Robson falou, eu fiquei super alegre, feliz, grato por Deus sem Deus na minha vida, sem aqueles que acreditam em mim, sem aqueles que me amam eu não seria ninguém.

Hoje Daniel não tem apenas um tênis e nem somente uma única calça. Usa chuteira de jogador caro, tem roupa de marca e aparece na TV comemorando gols com a camisa de um dos principais clubes do planeta. No Flamengo desde 2019, já começou a vencer, mas não se contenta. Nesta sexta-feira, encara o Aster, pelas quartas de final da Copinha. No futuro, espera estar brigando pela América.

- Meus sonhos no Flamengo ? Subir ao profissional primeiramente, ser campeão, porque eu tenho comigo que eu sou vencedor. Depois aos poucos conquistando meu espaço, ganhar uma Libertadores e virar ídolo. Os meus objetivos e sonhos no Flamengo são bem claros e retos: é subir ao profissional, ganhar títulos, porque eu sou vencedor, e me tornar ídolo. Essa resposta está bem clara na minha mente.

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Fonte: Globo Esporte