Criticado, Flamengo de Tite convive com contraste entre expectativa pelo ataque estrelado e realidade com pobreza de repertório

Desde que chegou ao Flamengo , há sete meses ou 33 jogos atrás, Tite enfrenta agora seu primeiro momento de maior turbulência no clube. Por mais que o time não apresente mais a mesma solidez defensiva de quando conquistou o Campeonato Carioca, é no ataque o calcanhar de Aquiles da equipe comandada pelo treinador. Em meio à exigência por resultados positivos e boas atuações, tem chamado a atenção nas últimas partidas a falta de repertório do rubro-negro ofensivamente.

Nesse contexto, a abundância de nomes estrelados e de qualidade tem contrastado com a pobreza na criatividade ofensiva do time, que carece da iniciativa dos jogadores de se movimentarem e aproximarem para construir boas jogadas. Em algumas vezes, o Flamengo se mantém tão estático em relação ao desenho tático e às posições originais de cada atleta que, grosso modo, lembra um time de totó.

A fase de pior desempenho ofensivo coincide com a ausência de Cebolinha, com lesão na panturrilha direita sofrida no último dia 17, contra o São Paulo. A explicação para isso pode estar, claro, na ausência do camisa 11, que, por conta do bom drible, é um especialista em furar defesas mais retrancadas, mas também na dificuldade do treinador rubro-negro em fomentar o repertório ofensivo de acordo com os atletas que tem disponíveis.

— Com o Cebolinha fora, me parece que a construção do time é muito moldada para as jogadas pelos lados, mas agora principalmente pelo setor direito. O Bruno Henrique não é um ponta driblador. Apesar da dinâmica dos meias, o Flamengo tem buscado a vantagem pelos lados no um contra um do ponta, para ele buscar o drible e finalizar ou cruzar. Acho que por isso parece um time estático. As jogadas mais comuns tem sido essas e os lançamentos longos dos defensores buscando o Pedro — analisa Gabriel Côrrea, especialista em scout e análise tática.

De uns anos para cá, essa carência no repertório ofensivo tem sido uma sina dos trabalhos de Tite. Apesar de ter ido relativamente bem no comando da seleção brasileira, o treinador foi criticado por não conseguir encontrar outras formas de jogar dentro de cenários adversos. Quem acompanha Tite há mais tempo enfatiza que essa nem sempre foi uma marca dos trabalhos do treinador, mas teve início após um resultado ruim em partida justamente do Brasil.

— Podemos falar que o Tite tem um modelo de jogo antes da partida contra a Inglaterra (0 a 0 em 2017, num amistoso em Wembley) e outro após. O próprio Corinthians (2015) utilizava os meias por dentro para construir. Agora, no Flamengo, ele aposta no que constrói desde aquele jogo, um 2-3-5 ou 3-2-5 buscando o ponta em velocidade no um contra um — afirma Côrrea.

Dentro desse contexto, a falta de criatividade ofensiva do Flamengo, que também é traduzida por meio dos números, quando comparados entre o período do Carioca e o dos últimos 30 dias (ou nove jogos), deve ter responsabilidade dividida entre jogadores e treinadores. De um lado, os atletas podem, por iniciativa própria, buscarem melhores movimentações e trocas de passes rápidos, o que gera espaços nas defesas adversárias. Do outro, é preciso que Tite ache, dentro do poderoso e versátil elenco que tem à sua disposição, maneiras de jogar que condizam com os atletas de alto nível disponíveis.

Fonte: O Globo