Coutinho: Final em detalhes - A Fase Ofensiva de Palmeiras e Flamengo

Sábado é o dia mais aguardado por palestrinos e rubro-negros nos últimos meses. Os dois times mais dominantes do país nas últimas temporadas se enfrentam na final do segundo maior torneio continental do futebol interclubes. Aqui, no blog, você verá em mínimos detalhes a organização de Palmeiras e Flamengo. Como Abel Ferreira e Renato Portaluppi montam suas equipes para tirar o melhor dos jogadores. Começaremos pelos ataques. Como se estruturam?

Palmeiras

Se estabelecer no campo de ataque de forma envolvente e furar defesas fechadas foi o grande ''calcanhar de Aquiles'' alviverde desde que Abel Ferreira assumiu o comando do clube em novembro de 2020. O português, em seus primeiros jogos, mostrou que pode fazer. Ofereceu uma estrutura muito mais organizada em relação ao que era visto com Vanderlei Luxemburgo, mas isso não se desenvolveu da forma esperada.

Com uma estratégia mais reativa o Verdão foi campeão da Libertadores e da Copa do Brasil passadas. Eficiente, mas longe daquilo que o ótimo elenco pode oferecer em criatividade. A forma de jogar cobrou o seu preço com muitas críticas na eliminação para o Tigres, na semifinal do Mundial de Clubes, e nas finais do Paulistão contra o São Paulo. Em ambos os casos, foi necessário ter repertório mais vasto em fase ofensiva e isso acabou não acontecendo.

Nos últimos meses, Abel nitidamente se preocupou em ampliar esse leque. Por mais que o Palmeiras tenha sofrido no mesmo cenário em diversas partidas do Brasileiro, houve melhora e variações muito coerentes de acordo com a capacidade dos principais jogadores. O treinador fixou o trio Gustavo Scarpa, Raphael Veiga e Dudu como titular, inverteu os lados de Gustavo Gómez e Luan, e demonstrou que muita coisa aconteceria a partir dessas definições.

A inversão de lado dos zagueiros se explica pela maior aptidão para jogar com a perna esquerda de Luan em relação a Gustavo Gómez. Ambos são destros, mas o zagueiro brasileiro encaixa passes mais qualificados. Como em alguns momentos Felipe Melo faz a ''saída de três'' entre eles e os laterais se projetam no campo de ataque, Luan será mais ativo na circulação de bola. Às vezes o próprio goleiro Weverton faz esse papel entre os dois zagueiros, depende da altura do bloco de marcação do adversário.

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A saída de três do Palmeiras com Felipe Melo ou Weverton entre os zagueiros
Imagem: Rodrigo Coutinho

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Quando o Palmeiras faz a saída de três, os laterais palmeirenses se projetam em amplitude, e Scarpa e Dudu flutuam para o centro
Imagem: Rodrigo Coutinho

Há também a possibilidade de uma saída com linha de quatro. Neste caso os laterais ficam mais fixos na circulação de bola na primeira linha, e o quarteto defensivo conta com a aproximação de Felipe Melo, Zé Rafael e Raphael Veiga. A proposta é iniciar a construção e se estabelecer no ataque com passes curtos, mas Felipe Melo e Weverton também buscam os deslocamentos de Rony ou Dudu em profundidade, caso tenham liberdade para isso e o time rival adiante a última linha defensiva. O goleiro e o volante são precisos nos passes longos.

Curioso observar como o desenvolvimento em fase ofensiva deu à equipe mais automatismos na ocupação de espaços e aumentou a velocidade da circulação da bola. Se a ''saída de três'' é a opção, os laterais se projetam, e Scarpa e Dudu entram em diagonal para flutuar pelo centro. Se a saída for com a linha de quatro defensiva montada, Scarpa e Dudu mantêm-se bem abertos, gerando amplitude ao time no ataque e liberando espaço de circulação para Rony, Raphael Veiga, Zé Rafael e Felipe Melo pelo meio.

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Com a saída de quatro, os pontas palmeirenses ficam bem abertos no campo de ataque
Imagem: Rodrigo Coutinho

A entrada de Gustavo Scarpa no time titular aumenta muito o potencial de criação e definição da equipe, assim como a melhoria de Dudu nos últimos meses. O camisa 14 fez oito gols e deu incríveis 20 assistências em 2021. É muito influente nas bolas paradas. Já o ídolo Dudu balançou as redes cinco vezes e deu duas assistências desde que voltou. Eles se somam a Raphael Veiga num trio que vem se entendendo bem.

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Laterais mais fixos, sem avançar tanto quando os pontas se mantêm abertos. Isso libera espaço de movimentação por dentro para Raphael Veiga, Rony, Zé Rafael e Felipe Melo
Imagem: Rodrigo Coutinho

Rony completa os jogadores mais ofensivos. Segue sendo utilizado como centroavante em virtude de Luiz Adriano e Deyverson não inspirarem confiança neste momento. Joga pouco de costas. Faz diagonais entre os zagueiros, abre espaços para infiltrações de Raphael Veiga e se mexe muito, gerando volume ofensivo.

O grande desafio de Abel neste sábado, caso o jogo se desenvolva desta forma, é gerar os movimentos citados acima com mais intensidade e regularidade. O Palmeiras, em muitos momentos, não consegue executar essa proposta com competência, apesar da evolução recente. Em contra-ataques segue sendo letal com Dudu, Scarpa, Veiga e Rony correndo e atacando espaços como uma avalanche, e tomando boas decisões nas proximidades da área rival.

Flamengo

Se no lado paulista há uma preocupação tática maior com a ocupação de espaços e movimentos pré-determinados, no Flamengo os ataques se desenvolvem de forma mais instintiva e baseados na memória tática dos atletas em relação ao áureo ano de 2019. Ao contrário dos quase 13 meses de trabalho de Abel Ferreira, Renato Portaluppi tem um terço deste período no comando do rubro-negro.

Conseguiu o melhor início de um treinador na história do clube, empilhou goleadas dentro e fora de casa, levou o rubro-negro a mais uma final de Libertadores, a terceira de sua própria carreira também, mas sofreu mais do que o normal quando os desfalques apareceram. O Flamengo teve muitos problemas com lesões e convocações para as seleções sul-americanas. Renato só pôde contar com o quarteto ofensivo titular da equipe em 25% dos 36 jogos que dirigiu.

A grande questão é que Portaluppi, em termos de organização ofensiva, não fez muita coisa além de devolver aos atletas a liberdade de movimentos buscada no time de Jorge Jesus. Mesmo partindo de um 4-2-3-1, esquema diferente do utilizado pelo português na maioria dos jogos, a ocupação de espaços e a movimentação são quase que idênticas quando todos os titulares estão à disposição.

A começar pela ''saída de três'' com Willian Arão entre os zagueiros quando o adversário marca com dois homens na linha de primeiro combate, passando pela total liberdade dada a Isla pela direita, atacando sempre em amplitude, e por Filipe Luís variando da esquerda pra dentro, visando ser mais um articulador ao lado de Andreas Pereira.

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Saída de três do Flamengo com Arão entre os zagueiros e Andreas Pereira mais próximo para receber o passe e começar a distribuição
Imagem: Rodrigo Coutinho

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Filipe Luís flutuando pra dentro e Arrascaeta abrindo para a esquerda
Imagem: Rodrigo Coutinho

Mais a frente, vemos Bruno Henrique e Arrascaeta revezando entre o centro do ataque e o lado esquerdo. Ambos conseguem compensar as constantes saídas de Gabigol da área. O camisa 9 flutua do meio para a direita, busca dialogar e triangular com Isla e Everton Ribeiro no setor, abrindo espaços para diagonais e infiltrações por parte de seus companheiros. Num segundo momento, chega na área novamente para concluir.

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Gabigol flutuando para a direita e articulando com Everton Ribeiro e Isla, ao mesmo tempo abrindo espaço para infiltração na área. Bruno Henrique entrando diagonal na segunda trave. Arrascaeta abrindo para a esquerda. Filipe Luís por dentro
Imagem: Rodrigo Coutinho

Com todos os titulares a disposição e bem fisicamente, é difícil o Flamengo não funcionar. O time ainda teve os acréscimos de David Luiz e Andreas Pereira nos últimos meses, atletas muito acima da média técnica do futebol sul-americano. Michael evoluiu demais nas mãos de Renato Gaúcho, a ponto de ser um dos artilheiros do Brasileirão. Pedro —mesmo voltando de lesão—, Vitinho, Matheuzinho, Kenedy e Thiago Maia são outros reservas importantes. É o melhor elenco do continente.

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Diagonais de Bruno Henrique e Gabigol em cima da última linha de defensores do adversário, sempre atacando a profundidade em contra-ataques
Imagem: Rodrigo Coutinho

A grande dúvida é o potencial de resolução de Renato diante de situações problemáticas em uma partida. Quando se observa somente o resultado dos jogos, se deixa de pontuar problemas importantes. Contra o Barcelona de Guayaquil, no Maracanã, o Flamengo chegou bem perto de sofrer um gol nos minutos iniciais e correu riscos em outros momentos. O placar de 2x0 ao final dos 90 minutos não refletiu exatamente o que foi o jogo.

A marcação adiantada dos equatorianos naquela partida gerou problemas de circulação da bola, assim como o Furacão fez na Copa do Brasil, em Curitiba. Em outros cenários, recuar o bloco de marcação e negar espaços ao rubro-negro fez o time não criar basicamente nada, mesmo com vários de seus principais jogadores em campo. Tudo isso gerou dificuldade para controlar os jogos e não há confiança que o time se comportará bem nesta final.

A solução em momentos críticos é quase sempre baseada no potencial individual. E o Flamengo tem muito! Seja numa bola longa para Bruno Henrique ganhar a disputa pelo alto ou atacar a profundidade. Num lance genial de Everton Ribeiro ou Arrascaeta. Na mobilidade e no faro artilheiro de Gabigol, nos chutes e passes de Andreas Pereira. Não é proibido se impor desta forma, mas pode ser pouco num jogo tão parelho.

Imagem: Rodrigo Coutinho

Fonte: Uol