Como se a disputa de uma vaga na final da Copa do Brasil já não bastasse para esquentar os ânimos entre Corinthians e Flamengo, que entram em campo hoje, às 16h, na Neo Química Arena, pelo jogo de volta da semifinal, os dois clubes têm travado uma batalha intensa nos bastidores. Além de ter influência direta em campo, ela revela como anda a fase administrativa de ambos os lados.
É quase que inevitável fazer de Hugo Souza o grande personagem do confronto de logo mais, em São Paulo. Afinal, ao longo da semana, as diretorias partiram para uma espécie de guerra fria em relação à negociação para que o time paulista compre, em definitivo, os direitos econômicos do goleiro — como a transação não foi efetivada, e o Corinthians não abre mão de ter o arqueiro em campo, terá que pagar, pela terceira vez, multa de R$ 500 mil ao rival por escalá-lo.
No Maracanã, no jogo de ida, o Flamengo venceu por 1 a 0. Com o resultado, um empate — ou, claro, uma vitória — na Neo Química Arena classifica o rubro-negro. Já um triunfo corintiano por um gol de diferença leva a partida para os pênaltis — vantagem maior dá a vaga na final ao time de Ramón Díaz.
Na janela de transferências do meio do ano, o Corinthians, que havia perdido Cássio para o Cruzeiro, acertou a contratação de Hugo Souza por empréstimo até o fim do ano — com pagamento de R$ 1,1 milhão — e opção de compra fixada em 800 mil euros (cerca de R$ 4,7 milhões na cotação da época). Além disso, a cada vez que escalasse o goleiro contra o Flamengo, teria que pagar mais R$ 500 mil aos cariocas.
‘Lei do ex’
O problema é que, há alguns dias, o Flamengo recusou a proposta de compra feita pelo Corinthians por conta do fiador apresentado. A diretoria rubro-negra alega que a empresa é a mesma que consta no contrato que acertou a venda de Matheuzinho, ex-Fla, para o alvinegro; e a negociação pelo lateral-direito está com parcelas atrasadas.
Se na época do acerto os valores não chamaram tanta atenção, já que mesmo tendo ido bem no futebol português, onde esteve por uma temporada, Hugo ainda convivia com a desconfiança dos tempos de Flamengo, atualmente a diretoria carioca é criticada pelos torcedores pelas cifras consideradas baixas — contabilizando a partida de hoje, a transação renderá, no total, R$ 7,3 milhões aos cofres rubro-negros. Afinal, além de ser um dos grandes destaques do Corinthians na temporada, Hugo Souza foi o principal responsável por manter o Corinthians vivo para a partida de hoje.
Com seis defesas no jogo de ida, no Maracanã, Hugo segurou o ímpeto ofensivo do Flamengo, que teve 19 finalizações, cinco grandes chances e duas bolas na trave. Além disso, sua qualidade em cobranças de pênalti aumenta a confiança dos corintianos. Na Sul-Americana, por exemplo, o goleiro foi o herói do confronto do Corinthians contra o Bragantino, nas oitavas de final, com três penalidades defendidas.
Tais componentes fazem a diretoria do Corinthians entender que a direção do Flamengo tem dificultado a conclusão da negociação por Hugo para desestabilizar o time dentro de campo e tentar dar uma demonstração de força para os torcedores.
Narrativas à parte, o que se defende é que faltou visão e profissionalismo do lado rubro-negro — para fazer uma análise fria e técnica do valor do goleiro, que sempre demonstrou qualidades — e responsabilidade do lado corintiano — que convive com problemas financeiros e tem atraso de pagamento para diversos clubes do futebol brasileiro. Por isso, o confronto se apresenta não só pela qualidade dos atletas, mas também pelo ambiente administrativo bagunçado dos times envolvidos.
Arma rubro-negra
Em campo, se o Corinthians tem um goleiro como esperança, o cenário é parecido no lado do Flamengo. Se a maior parte do time foi mal no clássico contra o Fluminense, na última quinta-feira, Rossi se destacou. Em cobrança de Ganso, o argentino defendeu o segundo pênalti consecutivo pelo rubro-negro — o outro também havia sido num clássico, do compatriota Almada, do Botafogo, quando o rubro-negro perdeu por 4 a 1 para o rival.
— Foi muito importante para mim pegar dois pênaltis consecutivos. Fico triste com essa derrota também, mas dá confiança para um jogo decisivo que pode ter cobranças de pênaltis (contra o Corinthians). E meus companheiros terem confiança em mim também é muito importante — valorizou Rossi.