É pouco provável que o Atlético-MG consiga virar um placar de 3 a 1 numa final de Copa do Brasil, contra o Flamengo. Mas é factível crer que, jogando na Arena MRV, o time mineiro possa fazer 2 a 0 ou até devolver os 3 a 1, levando a decisão do título para a disputa por cobranças de pênalti. Seja qual for o cenário, por ora mais favorável aos rubro-negros, a simples consolidação de Filipe Luís no cargo de treinador talvez seja, desde já, o maior ganho do Flamengo na atual temporada.
E há várias razões para se pensar dessa forma. Da empatia com a torcida à relevância como jogador nas últimas conquistas do clube; da inteligência tática e emocional ao modelo de jogo ofensivo e sem amarras; da capacidade de reagir à pressão com leveza à forma de interagir no pós-jogo —independentemente do resultado. Notem: falo de características valiosas para um treinador do Flamengo. Mas não significa que sejam a garantia para o sucesso do time. Resultado é outra coisa.
Nessas horas recorro a narrativas armazenadas na memória. Como as falas de Telê Santana, que insistia em dizer que preferia ver seu time jogando bem, ainda que derrotado no confronto, do que vê-lo vencer com gol de mão, sendo dominado pelo adversário. Ou a do português Luís Castro, que, em sua recente passagem pelo Botafogo, falava sobre a necessária sorte na obtenção das vitórias, até que o trabalho fosse implementado. Entre os dois, a clara simplificação do futebol.
Filipe Luís tem oito jogos no comando do time e, contando a partir de Jorge Jesus, em 2019, o percentual de aproveitamento só não é maior, no mesmo recorte de jogos, do que o de Renato Gaúcho, em 2021 — 87,5% contra 70,8%. É o mesmo de Paulo Sousa (forjado sobre jogos do Estadual), mas supera Tite, Vitor Pereira (66,6%), Dorival Júnior (62,5%), Doménec (58,3%), Sampaoli (54,1%), Jorge Jesus e Rogério Ceni (50%) — estes dois últimos com conquistas de títulos do Brasileiro.
Ao subir a linha dos defensores, empurrando cinco jogadores para a marcação da saída de bola do campo adversário, o agora treinador assumiu riscos, como ele próprio admite. E riscos que podem até gerar dissabores. Mas ao diminuir o tempo na retomada de bola, fez crescer a sensação do controle do jogo e resgatou a autoestima dos rubro-negros. A consagração na nova função é, portanto, algo já consumado. As conquistas virão na sequência.