Conselho do Flamengo vota emenda eleitoral e reabre debate sobre candidaturas de políticos

O Flamengo vive dia importante no cenário político do clube, mais de um ano antes da eleição de dezembro de 2024. O Conselho Deliberativo vota nesta quinta-feira à noite duas importantes mudanças no estatuto de regras eleitorais: a possibilidade de ampliar mandatos de presidentes e outra regra que prevê exclusão de candidatos com cargos políticos.

Rodolfo Landim presidente Flamengo — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Uma terceira proposta de emenda trata de incluir no estatuto exigência de planejamento de orçamento trienal para as diretorias eleitas no clube. O debate sobre as regras, portanto, foi reaberto na Gávea.

O caso que promete gerar mais discussão é a de veto para políticos - seja eleito pelo município, pelo estado ou governo federal - se candidatarem a cargos eletivos no Flamengo . No Instagram pessoal, o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello chamou de "golpe à vista" a proposta de emenda.

Hoje, ele seria diretamente atingido caso a proposta passe pelo Conselho Deliberativo do clube - isto, claro, se decidisse se candidatar novamente ao clube nas eleições de 2024.

A proposta de emenda é do advogado Reinaldo Rayol Junior. O texto, que foi enviado à presidência do Conselho Deliberativo ainda em março, diz o seguinte:

  • - Fica vedada a participação em eleições para os cargos de presidentes e/ou vicepresidentes dos Poderes do Flamengo às pessoas que exerçam qualquer cargo eletivo perante qualquer ente público municipal, estadual ou federal.
  • - Os presidentes e/ou vice-presidentes dos Poderes do Flamengo que estejam no curso de mandato eletivo no clube e venham a se candidatar para qualquer cargo público municipal, estadual ou federal, deverão se licenciar do cargo no Clube, antes de se inscreverem como candidatos, importando em renúncia ao mandato no Clube a posse em cargo público eletivo. Caso não seja eleito, ou mesmo eleito, renuncie ao cargo público antes de sua posse, o mandatário poderá reassumir o cargo no Flamengo .
  • - As vedações previstas nos §§ 6º e 7º, acima, somente se aplicam aos cargos de presidentes e/ou vice-presidentes dos Poderes do Flamengo , não se aplicando aos aos demais dirigentes não estatutários, contratados e remunerados pelo FLAMENGO .

Em contato com o ge , Reinaldo disse que não espera atingir nenhum agente político em específico, mas vê potencial conflito de interesses nas relações do clube.

Na justificativa, cita que o "nível de profissionalismo atingido pelo Flamengo ..." torna frequente novos "contratos de elevado valor, com empresas renomadas e alinhadas com regras de compliance e governança corporativas que, em muitos casos, vedam a contratação de pessoas jurídicas que possuam, em seus cargos de direção, pessoas vinculadas à administração pública. É nesse cenário que se faz importante proteger, estatutariamente, o Clube de situações que possam impedir a celebração, ou a continuidade, de importantes contratos e, até mesmo, de evitar a perda de recursos e patrocínios incentivados".

- Eu não tenho nada contra o Eduardo Bandeira de Mello, absolutamente nada. Nem na pessoa, nem no exercício dele na presidência na época. Eu só acho o seguinte. O Flamengo , hoje, vive, inclusive na época dele, melhor momento da história administrativa. E não é que eu seja a favor de A ou B, eu sou a favor do Flamengo . E modernamente falando, para mim pode existir um conflito de interesse de vida pública, política com o Flamengo e o Flamengo tem que ser maduro para votar. Quem quer que o Flamengo tenha a possibilidade de ter dirigente dividindo (a vida pública), ok, vota. Quem entende como eu, vota de outra maneira. Só isso, é democrático - afirmou o conselheiro.

Eduardo Bandeira de Mello inicia mandato da Câmara em 2023 — Foto: Divulgação

Punido em 2021 no Conselho de Administração, recuperando direitos políticos no clube em recurso ao Conselho Deliberativo, Bandeira protesta contra a proposta da emenda.

- Reitero que, a princípio, não tinha a intenção de concorrer à presidência do Clube do Flamengo novamente. Mas, sim, participar de forma direta apoiando uma chapa com candidatos que tenham a mesma convergência de ideias e projetos. É com preocupação que me manifesto diante do recente casuísmo que tem se manifestado em nosso clube, motivado pelo medo de alguns membros da diretoria atual em enfrentar uma competição justa - disse Bandeira, ao ge .

Para o ex-presidente do Flamengo , "a rejeição à presença de políticos na presidência deve ser manifestada de forma transparente e legítima, nas urnas, e não através de manobras obscuras em sessões do conselho deliberativo com quórum reduzido e convocadas às pressas, sem sequer esclarecer claramente o assunto em pauta".

A referência de Bandeira à convocação diz respeito à citação apenas dos artigos de alteração do estatuto sem esclarecer as mudanças propostas na carta maior do clube.

- Tentaram me expulsar três vezes do clube que aprendi a amar ainda menino. Perderam todas as vezes. Agora, em um ato desesperado, um golpe, querem a todo custo a perpetuação do poder - disse o atual deputado federal.

Autor da emenda, Reinaldo também tem visão crítica à gestão dupla de Braz na vice-presidência de futebol e na Câmara de Vereadores, mesmo que reconheça o valor do dirigente nos títulos conquistados pelo clube desde 2019, quando Rodolfo Landim sucedeu Bandeira no Flamengo - o atual presidente está no segundo mandato. Mas a emenda não atingiria casos como o do atual vice de futebol e legislador da cidade.

- Nada contra o Braz. É um vitorioso. Eu acho que o clube tem muito a agradecer a ele. Fez um trabalho bom, mas eu acho que a política atrapalhou. E atrapalha. Eu acho que tem que andar para frente - afirmou Reinaldo Rayol Junior.

Quatro anos sem reeleição

A mudança do tempo de mandato, de três para quatro anos, impediria a reeleição presidencial e tornaria os presidenciáveis de 2024 em diante donos de mandato único. A alteração, a princípio, não beneficiaria o atual presidente Rodolfo Landim, eleito em 2019 e reeleito em 2022, garantem os autores da emenda que vai ao plenário do conselho nesta noite.

A emenda que estende o contrato por mais um ano conta com o apoio principalmente dos nomes da situação. Porém, o novo texto não é unanimidade entre os apoiadores de Landim e há uma pequena resistência.

Nomes da oposição trabalham com a possibilidade de que, caso seja aprovada, o presidente em exercício consiga uma nova alteração no estatuto para que possa permaneça no poder por mais um ano. O Flamengo está a um ano e três meses do processo eleitoral, mas o clima já aquece os bastidores.

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Fonte: Globo Esporte