Como últimos títulos disputados pelo Flamengo viraram ponto de partida para trocas que minaram DNA da equipe

Se confirmar o pessimismo de sua torcida e perder o título da Copa do Brasil para o São Paulo, hoje, no Morumbi, o Flamengo encerrará o ciclo de Jorge Sampaoli no cargo de treinador e buscará um novo recomeço. Caso vença por dois ou mais gols de diferença, placar que lhe dará a taça sem a necessidade de disputa de pênaltis, demitirá o técnico até o fim do ano, pois há sinais claros de que o trabalho não deu liga. Essa tem sido a rotina de um clube rico, que se dá ao luxo de mudar quase tudo depois de chegar às decisões, seja porque as perdeu, seja pela sensação de que, mesmo ganhando, precisa evoluir em busca de uma perfeição utópica.

Tal realidade ocorreu no ano passado, com o hoje técnico do São Paulo, Dorival Júnior, campeão da mesma Copa do Brasil, além da Libertadores. Aconteceu também com Rogério Ceni, campeão brasileiro e da Supercopa em 2020 e 2021, respectivamente. E até com Renato Gaúcho, vice-campeão da Libertadores. Em meio a esse rodízio, dão-se mudanças de metodologia, que, segundo fontes no clube ouvidas pelo Extra, afetam o desempenho e a confiança dos atletas, pois minam a identidade da equipe e influenciam nas questões físicas e táticas.

Mas o comando do departamento de futebol passa longe de considerar esse cenário. Sampaoli, por exemplo, foi o nome preferido do presidente Rodolfo Landim, que o segurou até agora no cargo quando todos os indícios apontavam para problemas no trabalho. Com os atletas do Flamengo, não há diálogo. Recentemente, Filipe Luis tentou conversar com o técnico, passou suas impressões sobre o mau momento, e quase nada foi levado em conta.

Seja pelo presidente, seja por quem comanda o futebol do Flamengo, as escolhas dos últimos anos têm em comum a falta de critério, de um projeto esportivo de fato. Normalmente, os dirigentes, enquanto analisam o mercado, apontam para nomes com “a cara do Flamengo”, que “joguem para frente” e que gostem da posse de bola. Na prática, ignoram uma série de particulares que diferenciam, por exemplo, Sampaoli de Dorival, do modelo de jogo à gestão humana de um grupo onde há campeões remanescentes dos últimos anos.

Arrascaeta titular

Ao contratar um treinador de peso, o Flamengo dá a ele a responsabilidade de gerenciar esse legado, mesmo que não tenha vivido tal realidade e mal conheça a cultura do clube. Dorival, que trabalhou por lá em outras duas oportunidades, foi capaz de entender todo esse cenário e, ainda que tenha criado resistência interna no fim do trabalho, deixou jogadores felizes, conquistou títulos e saiu por desacertos com a diretoria, pegando a todos de surpresa. Landim alega ter havido divergência de valores de premiações na tentativa de renovação no fim de 2022.

Abaixo da escolha do treinador está a montagem do elenco, apontado de maneira automática como o melhor do Brasil, mas com sinais de desequilíbrio. Arrascaeta, que volta hoje no sacrifício ao time, não tem reserva. As maiores aquisições desde o ano passado, como Cebolinha, não deram resultado. Repatriado, Gerson encabeça a lista de jogadores mais caros em 2023, mas sua volta é sinal também da falta de criatividade de um clube sem um trabalho de scout, dependente da boa relação com empresários e jogadores.

O goleiro Rossi, que saiu brigado do Boca Juniors, só foi ter chance como titular nesta semana e deve jogar a final sem ter tido sequência. Houve tentativas frustradas para a chegada de nomes como Wendel e Claudinho, do Zenit, da Rússia, com ofertas similares à que o River Plate exigia por De la Cruz. Não veio ninguém. E não foi desenvolvido um trabalho para dar nova cara ao time. Sampaoli pediu volante pela direita, zagueiro, laterais e pontas. Recebeu Allan e Luiz Araújo. O volante está fora por lesão. O atacante fica à disposição após uma recuperação às pressas.

Já Dorival deve repetir o São Paulo que venceu o jogo de ida. E terá James Rodríguez, fisicamente pronto.

Contra a estabilidade do adversário tricolor, sobrou a mística do Flamengo. Mas só ela não ganha jogo.

Fonte: Extra