Finalista do Campeonato Carioca pelo Nova Iguaçu , que encara o Flamengo neste domingo (7), às 16h (de Brasília), Carlos Vitor ganhou reconhecimento pelo estilo de jogo ousado praticado por seu time.

Muito antes de virar a principal sensação do Estadual, o técnico precisou complementar a renda com outros trabalhos. De casa em casa, Carlos fazia seu "negócio" para viver de maneira mais confortável.

"Vendia muito perfume importado. Como você trabalha no futebol, todo mundo gosta de andar cheirosinho. Eu comecei a vender, a crescer e a atender pessoas de todas as classes sociais. Aí comecei a ver o money (dinheiro, em inglês)", disse Carlos Vitor.

Em entrevista exclusiva à ESPN , o atual treinador explicou que a função paralela aos gramados o permitiu melhorar a situação financeira da família.

"Foi ponto ao qual mais eu consegui tirar benefícios para que eu pudesse hoje ter construído a minha casa. Consegui realmente dar uma formação digna a minha filha que tem 20 anos. Eu tenho um garoto de seis anos e minha esposa é dona do lar. Então sabe como é que é, alguém tem que pagar a conta", afirmou.

Carlos teve uma carreira de quase uma década como jogador de clubes de menor expressão do Rio de Janeiro até pendurar as chuteiras em 1999. Por ter sido capitão e uma liderança nos times pelos quais passou, foi convidado para trabalhar fora das quatro linhas.

Foi técnico de base e subiu todas as categorias até chegar ao time profissional do Nova Iguaçu, em 2021.

"Tive uma sequência de três anos seguidos ao qual hoje nós estamos colhendo todo esse fruto. Tenho uma retaguarda muito forte. Eu acho que não tem como você não dividir o que está acontecendo com ninguém. A gente não consegue nada na vida sozinho", afirmou.

Até chegar ao ponto alto da trajetória profissional, Carlos também enfrentou uma série de dificuldades. Talvez a maior delas tenha sido o racismo. Apesar dos negros serem maioria entre os jogadores de futebol, são casos raros os que conseguem chegar à elite dos técnicos.

"A gente vê o que o Vinícius Jr. está sofrendo. Infelizmente, isso faz parte do contexto. Você tem duas formas de você lidar com isso. Uma: surdo e seguir em frente e buscar aquilo que realmente você almeja e deseja e tem como ideal. Se preparar para tudo, todo esse momento para que as pessoas realmente respeitem, veem que você realmente está preparado para tudo que está acontecendo", afirmou o treinador do Nova Iguaçu.

Uma das principais inspirações do técnico é Telê Santana, ex-treinador da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 82 e 86, que foi multicampeão pelo São Paulo no começo dos anos 90. Carlos costuma praticar um futebol ofensivo – assim como o ídolo – e não abre mão das convicções de jogo.

“Sou fã incondicional, de uma forma que eu vi o Telê fazer como treinador junto com seus atletas. Eu sou muito grato porque eu sou brasileiro e posso estar usufruindo de coisa ao qual a gente tem que ter um respeito máximo, que eu costumo dizer que é o alicerce do futebol brasileiro”.

No jogo de ida, o Nova Iguaçu perdeu por 3 a 0 para o Flamengo . O jogo de volta acontece neste domingo, também no Maracanã, e o time de Carlos Vitor tem a dura missão de "devolver" o placar para sair com o título do Campeonato Carioca.