Reportagem publicada originalmente em 22/04/2017

Há dez anos, a carreira de Jefferson sofreu uma mudança radical durante a final da Taça Rio, o segundo turno do Estadual. Como já havia vencido a Taça Guanaraba, que corresponde ao primeiro turno, o Botafogo seria campeão carioca diretamente em caso de novo triunfo.

A equipe alvinegra vencia por 2 a 1, no Maracanã, quando aos 31 minutos do segundo tempo o volante Fahel segurou o zagueiro Ronaldo Angelim na área. Pênalti! Adriano, o Imperador, foi para a cobrança e chutou no canto esquerdo do gol, mas Jefferson impediu o tento. Com a palma da mão canhota, ele espalmou a bola pela linha de fundo.

"Fomos campeões naquele ano. Peguei o pênalti no mesmo dia que o Loco Abreu fez um gol de cavadinha. Aquele jogo mudou a minha carreira. Eu tinha chegado da Turquia e o Botafogo tinha perdido as três últimas finais para o Flamengo. Quando fomos para a final contra eles os torcedores me paravam na rua e diziam: 'Pelo amor de Deus, a gente não pode perder de novo. Não pode, não pode'. Na semana do jogo eu nem saia direito. A pressão era muito grande", disse Jefferson ao ESPN.com.br .

A penalidade defendida por Jefferson ajudou a fazer o Botafogo campeão, a torná-lo um ídolo do clube alvinegro e também a quebrar uma sequência de três vices para o rival Flamengo. Mas não foi apenas isso.

Ao colaborar naquele título, Jefferson também ajudou a colocar um ponto final na história do "chororô", forma como os botafoguenses passaram a ser desdenhados após a derrota na decisão da Taça Guanabara de 2008. Para citar um exemplo, ainda naquele ano, o atacante Souza comemorou um dos gols rubro-negros na Libertadores como se estivesse chorando, poucos dias após a final do Carioca contra os botafoguenses.

"Eu não estava no Brasil nos anos anteriores, mas me veio na cabeça todas as finais perdidas pelo Botafogo. Pensei: 'Preciso pegar esse pênalti, preciso ajudar e fazer a diferança'. Me concentrei muito. Em nenhum momento eu olho para a torcida, olho só para o Adriano. Sabia que o canto forte dele era o lado esquerdo. Pensei: 'Vou esperar ele chegar na bola e vou pular naquele canto. Se eu sair antes ele vai trocar'. Foi bem calculado e fiz a defesa com a pontinha do dedo. Alguns minutos depois o jogo acabou. E aquilo mudou minha carreira. Depois de um mês e meio teve a convocação para a seleção brasileira. Sei que aquele pênalti me ajudou demais a ser chamado", disse.

Começo e retorno ao Botafogo Jefferson teve a primeira experiência no Botafogo em 2003, justamente no ano em que a equipe estava na Série B do Brasileiro. Na época, ele tinha 20 anos.

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Há 10 anos, Loco Abreu bateu pênalti de cavadinha contra o Flamengo e foi campeão com Botafogo

sobre o Botafogo sobre o Flamengo na final da Taça Rio 2010. Aquele jogo deu o título Carioca antecipado ao time alvinegro

"Foi um momento muito complicado e fiquei no banco. Foi muito difícil para mim. Ouvia de algumas pessoas que ia ficar rodando e não ia dar certo, que tinha desperdiçado a chance no Cruzeiro [onde foi revelado]. Tive de ser muito forte para aguentar", confessou.

O goleiro revelou que, apesar das dificuldades, não deixou se abater. Buscou extrair forças daquele momento para batalhar ainda mais por seu espaço. Fácil não foi, mas após um ano de expectativa ele conseguiu o tão sonhado espaço.

"Ainda em 2003 fomos campeões mundiais sub-20 em cima da Espanha, do Iniesta. A Argentina tinha Mascherano, Montillo e outras feras. Ganhamos por 1 a 0. Sabia que 2003 seia decisivo na minha carreira. Tinha que trabalhar muito nem pensava se iria jogar ou não. Precisava amadurecer para quando surgisse uma oportunidade eu pudesse aproveitar. Trabalhei muito no Botafogo. Até um dia que o Levir Culpi falou para mim: 'Você está pronto'. Aí eu assumi o gol do time e a carreira deslanchou", relembrou.

Titular em 2004 e em 2005, Jefferson acabou aceitando uma proporta do Trabzonspor, da Turquia, em junho daquele ano. Foram três anos nessa equipe e mais um no Konyaspor, também turco. Não chegou a ganhar títulos, mas aprovou a experiência.

"Foi muito difícil no começo porque tinha 22 anos. Tudo foi muito rápido. Fora de campo eu nunca fui de sair nem de balada nem nada. Mas foi tudo tão rápido na minha vida que não soube assimilar tudo. Achava que lá eles teriam que se adptar a mim. Fui com essa cabeça. Na realidade, eu precisava me adaptar ao país. Depois que percebi isso as coisas melhoraram", disse Jefferson, que foi rebaixado na Turquia no último ano.

A volta ao Brasil acabou acontecendo em 2009. Mas quem pensa que ela aconteceu de forma direta ao Botafogo engana-se. Jefferson ficou treinando sem clube por um tempo até finalmente entrar em acordo com a equipe alvinegra e iniciar a atual passagem.

Mesmo assim inicialmente ele ficou na reserva, mas conseguiu virar titular mais rápido do que na primeira passagem, encerrando 2009 como dono da posição.

"Voltei com outra cabeça. Não foi nem por dinheiro, mas pela identificação com o clube. Como tive uma primeira passagem feliz quis voltar. Estava mais maduro. Tanto que todos falaram que eu era outro goleiro. Eu resolvi voltar ao Brasil para poder brigar por uma vaga na seleção e jogar uma Copa do Mundo", relembrou Jefferson.

O ano de 2010 foi um dividor de águas para o arqueiro, como ele afirmou, porque, além de dar o título carioca ao Botafogo, ele foi convocado pela primeira vez para a seleção principal. Não chegou a ir para a Copa de 2010, como queria, mas foi reserva no Mundial de 2014. Ainda esteve em competições como a Copa América de 2011 e 2015, a Copa das Confederações de 2013 e as eliminatórias da Copa de 2018.

Um dis maiores ídolos da história recente do Botafogo, Jefferson aposentou-se dos gramados em 2019.