Neste domingo, o Valencia recebe o Osasuna , às 14h30 (de Brasília), pela 30ª rodada do Campeonato Espanhol , para seguir lutando por uma vaga na próxima Liga Europa.

E, para conseguir isso, os valencianos dependem mais do que nunca de seu melhor atacante: Rodrigo Moreno, dono de seis gols e 11 assistências na temporada.

Nascido no Rio de Janeiro, o matador iniciou sua carreira ao lado de Thiago Alcântara, hoje no Bayern , na base do Flamengo (ele inclusive é torcedor declarado do Rubro-Negro), mas mudou-se ainda jovem para a Espanha - por conta disso, tem também nacionalidade espanhola.

Ele foi para a Europa ao lado do pai, o ex-lateral-esquerdo Adalberto, que fez carreira no Fla, mas foi morar no país ibérico para cuidar de uma escolinha de futebol ao lado do também ex-jogador Mazinho.

Por conta disso, Rodrigo seguiu sua carreira na base na Espanha, passando por Nigrán, Celta de Vigo e Real Madrid até ser profissionalizado pelo Real Madrid C, em 2009.

O centroavante nunca chegou a jogar pelo time A do Real, mas arrasou pelo Real Madrid Castilla (a equipe B) e chamou a atenção do Benfica , que o levou em 2010.

Em Portugal, Rodrigo teve três temporadas fantásticas, o que motivou o Valencia a contratá-lo na temporada 2014/15, por empréstimo, e depois em definitivo em 2015/16, por 30 milhões de euros (R$ 178 milhões, na cotação atual).

Hoje, o hispano-brasileiro é ídolo da torcida e goleador implacável dos Ches , sendo, ano após ano, um dos grandes destaques de LaLiga .

Não à toa, ele é avaliado em 40 milhões de euros (cerca de R$ 240 milhões) pelo site especializado Transfermarkt .

Além disso, Rodrigo é também jogador da seleção espanhola, tendo disputado a Copa do Mundo de 2018 com La Roja .

Mas, afinal, por que Rodrigo nunca foi testado pelo Brasil?

Em entrevista à ESPN , o pai do jogador, Adalberto, contou os bastidores da história.

"Quando o Rodrigo estava no Real Madrid e o Thiago (Alcântara) no Barcelona , a gente [ Adalberto e Mazinho ] falava deles jogarem pela seleção brasileira. Aí uma vez o Mazinho se encontrou com o pessoal da CBF e comentou sobre a situação dos garotos. Na época, eles ainda não tinham definido por qual seleção escolheriam jogar. Foi então que uma pessoa disse que, por questão política, a CBF não iria convocar garotos de fora do Brasil, para não desestimular os jovens que estavam atuando no Brasil", relatou o ex-lateral.

"Eu achei a resposta bem razoável, mas disse ao Rodrigo Paiva [ ex-diretor de comunicação da CBF ], que é meu amigo desde a época da faculdade: 'Vocês deram uma justificativa razoável, mas vão perder muitos jogadores assim, porque o mundo está se globalizando. Se não mudar essa política, é uma via de mão única, pois os jogadores estão saindo cada vez mais cedo, e isso só vai prejudicar o Brasil'", recordou.

"Acho inclusive que a situação do Rodrigo e do Thiago foi um dos motivos pelos quais depois a CBF mudou essa política dela. Certamente o fato deles terem ido jogar pela Espanha teve influência nisso", opinou.

Desta forma, Rodrigo acabou optando, em 2009, por jogar pelas seleções de base da Espanha. No ano seguinte, foi chamado para a Eurocopa sub-19, e fez dois gols no torneio, ajudando La Roja a terminar em 2º lugar (ele anotou inclusive anotou um tento na final, mas a França virou e ganhou nos minutos finais com um gol de Alexandre Lacazette, hoje no Arsenal ).

Daí em diante, o atacante se firmou de vez entre os principais nomes da nova geração espanhola.

O JOGO CONTRA O BRASIL

O momento mais "tenso" da carreira de Rodrigo como jogador da seleção da Espanha acabou acontecendo em 2011, no Mundial sub-11 da Colômbia.

Titular absoluto da Roja , o atacante vinha arrebentando no torneio, até que o destino quis que ele enfrentasse justamente o Brasil nas quartas de final.

Aquela partida foi umas das mais emocionantes da competição, que teve uma fase final recheada de craques e com jogos lotados de gols.

Willian José abriu o placar para o Brasil, mas Rodrigo empatou em uma linda cabeçada. E, quando todos achavam que ele não celebraria um tento contra o país-natal, sua reação foi justamente a contrária: comemoração efusiva.

"Neste mundial sub-20, eu falei para o Rodrigo: 'Você sabe que tem chance de enfrentar o Brasil, né?', e ele só disse: 'Por mim, tudo bem'. Aí quando ele fez o gol e saiu comemorando daquele jeito, eu vi que ele já estava decidido a optar pela Espanha depois, na seleção adulta. Ele vibrou sem constrangimento algum", recordou Adalberto.

"Não à toa, depois o Rodrigo e o Thiago seguiram normalmente para a seleção da Espanha, pois eles sempre deixaram claro que queria defender a Espanha. Ao contrário do Rafinha (Alcântara, irmão de Thiago), que sempre quis jogar pelo Brasi", completou.

A partida terminou empatada e foi para a prorrogação. No tempo extra, Dudu, hoje no Palmeiras , fez para o Brasil, mas Álvaro Vázquez empatou novamente para os europeus, e o duelo foi para os pênaltis.

Na marca da cal, Casemiro, Danilo, Henrique Almeida e Dudu anotaram para o Brasil, enquanto só Sergi Roberto e Bartra fizeram para a Espanha (Amat e Vázquez erraram), e o time de Rodrigo acabou eliminado. Os brasileiros, por sua vez, acabariam campeões em uma emocionante final contra Portugal: 3 a 2, com três gols do meia Oscar.

Rodrigo seguiria normalmente nas seleções de base da Espanha. Ele ainda representou o país ibérico nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e depois foi campeão da Eurocopa sub-21 em 2013, fazendo incríveis 12 gols em 12 jogos na competição. Não foi à toa que, em 2014, o técnico Vicente del Bosque chamou o centroavante pela primeira vez para a seleção principal.

Entre 2017 e 2018, Rodrigo ainda ajudou a Roja durante as eliminatórias para a Copa do Mundo 2018, mas, com a aproximação do Mundial, ainda era dúvida se ele seria parte da lista final na Rússia.

As dúvidas se esvairam, porém, quando o técnico do Valencia, Marcelino García Toral, mudou o jogador de função, e seu futebol explodiu. Ele fez 19 gols na temporada 2017/18 e acabou entrando nos chamados para jogar a Copa.

"Em 2017/18, o Rodrigo era um dos últimos com possibilidades de ir para a Copa, mas, no final das contas, ele acabou indo, porque fez uma temporada absurda no Valencia. O Morata acabou ficando de fora... Depois, eu agradeci pessoalmente ao Marcelino por ter colocado o Rodrigo na função que ele estava jogando (risos)", sorriu Adalberto.

Esperava-se que, na Rússia, Rodrigo fosse um dos grandes destaques do torneio, já que ele vivia a melhor fase da carreira e a Espanha era "favoritaça" ao título. No entanto, o confuso mundial dos espanhóis terminou com o técnico Julen Lopetegui demitido em meio à Copa do Mundo, já que vazou a notícia do seu acerto com o Real Madrid.

Com isso, a Roja fez um torneio para lá de apagado, sendo eliminada ainda nas oitavas de final para a Rússia, em Moscou.

"O técnico era o Lopetegui, que trabalhou com ele na seleção no Mundial sub-20 e no título da Eurocopa sub-21. Só que o Lopetegui acabou sendo mandado embora naquele evento bizarro... S (Se Lopetegui tivesse ficado) Certamente o Rodrigo teria uma situação diferente. Mas acho que ele jogou bem no pouco tempo em que esteve em campo. Uma coisa é certa: ele saiu de lá com um status superior, só de ter disputado um Mundial", argumentou Adalberto.

E isso é fato: nos últimos dois anos, Real Madrid, Atlético de Madrid e Barcelona tentaram a contratação do hispano-brasileiro, mas não conseguiram por uma série de motivos .

"Ele está na crista da onda da carreira dele" resumiu o papai Adalberto, orgulhoso do filho.