Como a versatilidade pavimentou os caminhos de Filipe Luís e Flamengo até a final da Copa do Brasil

Desde que deixou a carreira de jogador para assumir a função de técnico, a trajetória de Filipe Luís no Flamengo tem sido marcada por mudanças repentinas e uma constante necessidade de adaptação. É possível dizer que o treinador é um dos protagonistas da caminhada rubro-negra até a decisão da Copa do Brasil, cujo segundo jogo será realizado neste domingo, às 16h, na Arena MRV. Mas para chegar à final ele teve de ser flexível e lançar mão de um repertório certeiro.

O ex-lateral-esquerdo começou a temporada no comando do time sub-17 do Flamengo para ter possibilidade de se desenvolver na nova função. Ainda como jogador, ele teve acesso a conhecimentos de escolas distintas do futebol ao trabalhar com Diego Simeone, Mourinho, Jorge Jesus, Tite, entre outros. Filipe Luís admite se inspirar no melhor de cada mestre, mas reivindica o próprio estilo, um que seja capaz de se encaixar aos desafios que se apresentam.

Filipe Luís à beira do campo pelo Flamengo — Foto: Marcelo Cortes / CRF

- Ele começa o ano no sub-17 e implementa um estilo de jogo que, imagino, seja seu favorito: construção com 3 defensores, preenchimento do campo com muitos jogadores no ataque e busca do ataque no espaço vazio, que é próximo do que vemos no Flamengo hoje. Assim ele é campeão estadual sub-17 e começa o Brasileiro da categoria - analisou o comentarista Marcelo Raed.

Até que em junho, o técnico campeão da Libertadores sub-20, Mario Jorge, aceitou uma proposta do futebol árabe e deixou o clube. Filipe Luís foi promovido com a responsabilidade de disputar, em poucos dias, o Intercontinental da categoria

No Maracanã, o Flamengo conseguiu a virada sobre o Olympiacos da Grécia para ficar com a taça. Quatro jogadores que entraram na segunda etapa participaram dos dois gols do time. Caio Garcia fez o primeiro e ajudou a retomar o controle do meio campo. Jean Carlos, Adriel e Felipe Teresa construíram a jogada do gol do título, em lance que passou de pé em pé e envolveu a defesa grega.

- E aí eu acho que é a primeira grande sacada dele: sem tempo pra conseguir mudar a forma da equipe jogar, ele percebe que precisa ganhar o Mundial e coloca um sistema mais próximo do que fazia o antecessor, Mário Jorge, defendendo em bloco mais baixo, usando os dois laterais na construção desde o sistema defensivo, com um jogo de muita transição e força. É um início muito promissor do Filipe, mas num recorte ainda muito pequeno - completou Raed.

Quatro meses depois de chegar ao sub-20, Filipe Luís se viu diante de um novo desafio. Ele assumiu o comando do Flamengo em meio aos dilemas de um baixo rendimento da equipe, a responsabilidade de substituir Tite, a necessidade de recuperar nomes importantes do elenco, como Gabigol, e o desafio de manter o time no páreo para conquistar ao menos um título de expressão na temporada.

Filipe Luís e Gabigol após o segundo gol do Flamengo contra o Atlético-MG — Foto: André Durão

Até o momento, Filipe Luís comandou o time principal em oito jogos e somou cinco vitórias. Embora o recorte de análise ainda seja pequeno, os três jogos da Copa do Brasil - semifinal contra o Corinthians e o jogo de ida da final contra o Atlético-MG - são exemplos positivos do repertório do treinador.

No dia 30 de setembro, o técnico Tite foi demitido do comando do Flamengo , após a frustração com a eliminação do time da Libertadores. No mesmo dia, Filipe Luís assumiu o comando da equipe com o objetivo de recuperar o moral e o futebol do elenco repleto de estrelas do time rubro-negro. Ele teve dois dias para deixar a equipe pronta para o jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil contra o Corinthians.

Desde os minutos iniciais, o time apresentou mudanças significativas em relação à postura de jogos anteriores. O que se viu no Maracanã foi uma equipe muito mais compacta, com pressão para recuperar a bola na frente, maior capacidade de triangulações e ataque numeroso. Também efetivou Gabigol e Léo Ortiz como titulares nas posições em que mostram mais conforto para atuar.

- Era um jogo que o Flamengo precisava estar no campo de ataque contra um adversário fechado atrás, construindo espaço para atacar. E o Flamengo conseguiu fazer - considerou o comentarista Carlos Eduardo Mansur.

O Flamengo venceu a partida por 1 a 0, mas deixou a sensação de que poderia ter saído do Maracanã com um vantagem ainda maior para o jogo da volta. Na Neo Química Arena, o Corinthians iniciou a partida se jogando ao ataque, para reverter a desvantagem, e o Rubro-Negro equilibrava as iniciativas até que aos 29 minutos, Bruno Henrique fez falta dura em Matheuzinho e foi expulso.

Com um a menos, e restando bastante tempo para o jogo terminar, o técnico rapidamente sacou seu único atacante, Gabigol, e colocou Fabrício Bruno em campo. Sua estratégia foi ceder a posse de bola ao Corinthians e proteger a defesa, com linha próximas, e sem espaços na marcação. Também manteve o meio forte, com Gerson, Arrascaeta, De la Cruz e Pulgar, para reter a bola quando estivesse com a posse.

- Ele parte para o modelo com três zagueiros sem um velocista para puxar contra-ataque, apostando em retenção de bola. Funcionou em dado momento, em outros momentos o Flamengo ficou um pouquinho mais sem a bola, sofreu mais um pouquinho, mas o time conseguiu o objetivo bem - opinou Mansur.

Um "novo" Flamengo foi ao Maracanã duas semanas depois para enfrentar o Atlético-MG no jogo de ida da final da Copa do Brasil. Antes mesmo de o jogo começar, as mudanças já eram significativas. Sem Bruno Henrique e Pulgar, suspensos, o técnico abriu mão de um homem no meio e escalou três atacantes: Gabigol, Michael e Plata.

Outro trunfo foi a forma de encaixar a saída de bola diante de um dos melhores times do futebol brasileiro na temporada.

- O Atlético-MG era um time que marcava homem a homem, campo inteiro, e ele adaptou para uma saída curta de bola atrás e explorar espaço à frente. Não era um time de manter a bola por longos períodos, como foi, por exemplo, no primeiro jogo com o Corinthians. Era explorar para correr às costas da pressão do Atlético, com velocistas, dois pontas. Tirou o Gerson da ponta direita e botou dois pontas, com o Plata de um lado, o Michael de outro, para correr no espaço as costas da pressão - considerou Mansur.

A estratégia teve sucesso. Os jogadores tiveram uma grande exibição coletiva, e o Flamengo conseguiu envolver o Galo para vencer por 3 a 1.

Foram apenas oito jogos e Filipe Luís tem uma caminhada longa pela frente em busca de aperfeiçoar seu trabalho no Flamengo e se consolidar como treinador de futebol profissional. Neste domingo, sua capacidade de encontrar soluções e tirar o melhor de seus jogadores será provada novamente diante de um grande rival e sua torcida, com a pressão de levar para a Gávea um título nacional.

- Essa adaptação às circunstâncias foi o que mais chamou a atenção. Um técnico jovem, entrando no momento decisivo, jogos decisivos e se adaptando a cada um deles com soluções bem diferentes. Isso me chamou mais a atenção - finalizou Mansur.

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Fonte: Globo Esporte