Aconteceu o que se previa. Como imaginamos ainda no começo de julho , o Vélez Sarsfield será o adversário do Flamengo na semifinal da Libertadores.
Há sim uma diferença considerável de elenco, e o Flamengo é o franco favorito para chegar à sua segunda decisão seguida, mas convém respeitar demais o Vélez desde já.
Será o confronto "do poder [ do Fla ] contra o suor [ do Vélez ]", como definiu ontem (10) à noite a Rádio La Red, de Buenos Aires.
O clube portenho levou a campo ontem na vitória por 1 a 0 sobre o Talleres em Córdoba a sua grande virtude nos matas-matas: um apetite absurdo em cada jogada, brilhando naquilo que os argentinos tradicionalmente apreciam em seu "campo de batalha".
É um Vélez que representa bem outro trocadilho bastante repetido na Argentina. É um primor de " futebol arte".
"Arte marcial", lógico.
Dividida até com a cabeça
A proposta do técnico " Cacique " Medina ontem em Córdoba foi trancar o time em duas linhas de quatro bem formadas na defesa e no meio-campo. O Vélez se desfazia da bola e dava um "estourão" para lutar na dividida e nos constantes choques dos atacantes Janson e Orellano contra os zagueiros do Talleres.
O ponto alto, mas muito alto mesmo, foi Lucas Pratto. Na opinião da coluna, ele fez ontem sua melhor partida na carreira desde os gols pelo River nas decisões contra o Boca em 2018.
Fez jus ao apelido de "Urso", dando pontapés e lutando pelas bolas com uma insanidade toda peculiar para um jogador com seu físico (1,87 metro e 91 quilos). Ajudou demais o esquema de Medina, atuando como armador. Desarmou e ofereceu as bolas precisas que tanto ameaçaram o Talleres nos contra-ataques.
Outro destaque deste Vélez que vai encarar o Flamengo é a total falta de enfeite.
Ontem em Córdoba se viu uma aula de seriedade. O bom lateral-direito Jara foi outro exemplo. No melhor estilo "bola para o mato que o jogo é de campeonato", isolou sempre para onde o nariz apontava, mas jamais perdendo um duelo.
(Outra comparação precisa que circula na Argentina é que o Flamengo vai precisar de serenidade para superar a seriedade do Vélez.)
Quem também brilhou nos combates foi o ótimo zagueiro Valentín Gómez, de apenas 19 anos, que ainda no primeiro tempo foi com a cabeça para dividir uma bola com um atacante do Talleres que usava o pé.
É um Vélez mesclado entre jovens e experientes e de ótimo aproveitamento das divisões de base.
Impossível chamá-los de promessas. Já são realidades. Com 19 anos, o zagueiro Gómez e o volante Máximo Perrone, e o atacante Julián Fernández, autor do gol, de 18, são jogadores que vão encarar esta semifinal com o Fla como o jogo de suas vidas.
Para o Fla, será um degrau a mais em busca do objetivo que alcançou, por exemplo, no ano passado. Para o Vélez, será o portal para a façanha de um clube que está em sua primeira semifinal desde 2011 (perdeu para o Peñarol) e que busca sua primeira decisão desde 1994 (foi campeão em cima de um São Paulo que também era favorito, como o Fla é agora).
Há, porém, grande dúvida sobre como o Vélez vai receber o Flamengo depois do bárbaro massacre aos visitantes do Talleres na semana passada . O primeiro jogo será em Buenos Aires, no dia 30 ou 31 de agosto, com a volta no Maracanã em 6 ou 7 setembro.
A Conmebol fez um duro relato sobre o que aconteceu no Estádio José Amalfitani, mas ainda não anunciou se haverá sanção.
Será merecido. Quem também merece punição é o técnico Alexander "Cacique" Medina, que ontem trocou empurrões com os atletas do Talleres. Ele já havia dado um pontapé em um jogador do Godoy Cruz pelo Campeonato Argentino .
O Flamengo tem muito mais time, mas vai precisar de técnica e paciência para furar a retranca e murchar o entusiasmo do Vélez.
O adversário do Fla já provou seu espírito "copeiro" nas duas séries anteriores e vai exigir enorme seriedade dos comandados de Dorival Júnior.
A proposta do Vélez será uma só: o jogo duro. Perceber como o Flamengo vai desarmar esta tentativa será a chave do encontro.