Se uma das críticas dos torcedores do Flamengo ao demitido Tite era de que seu estilo de jogo não combinava com o do clube, pode-se dizer que Filipe Luís não corre esse risco. Ao menos nesse primeiro momento. Apresentado ontem no Ninho do Urubu, o treinador, que estreará hoje, às 21h45, contra o Corinthians, pelo jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil, demonstrou sintonia com a diretoria e com os rubro-negros em relação à forma que planeja que sua equipe atue: com um futebol ofensivo e corajoso.
— Com o elenco e os jogadores que tenho no vestiário, eu tenho que fazer o time jogar (bem). Se não fizer, obviamente sou o culpado. Meu principal objetivo é ganhar, recuperar a confiança e fazer com que os jogadores possam se divertir, para que possamos juntar essa comunhão com a torcida e animá-los na arquibancada — disse.
O tempo joga contra o treinador para conseguir demonstrar, já hoje, as ideias da nova comissão técnica. Afinal, foram apenas dois dias de trabalho no campo, sendo um, na segunda-feira, apenas com os jogadores que tiveram poucos minutos ou não atuaram contra o Athletico-PR. Assim, nesse primeiro momento, a preparação do Flamengo para enfrentar o Corinthians foi feita mais na base dos vídeos com imagens do adversário e do que os atletas rubro-negros deveriam fazer para tentarem a vitória.
‘DNA rubro-negro’
Além disso, outro ponto que também impossibilita uma adaptação mais rápida é que não houve, ao longo dos últimos anos no clube, a construção de uma identidade de jogo que pudesse ser passada para os treinadores que chegassem.
No departamento de futebol, há o desejo de que o time principal atue de forma ofensiva e que pressione o adversário já no campo de ataque, como é planejado por Filipe Luís. Mas, em aspectos mais profundos, como a implementação de uma metodologia de trabalho a ser seguida pelos treinadores, ou em contratações que correspondessem aos ideais do clube, isso não existiu.
O sentido, na verdade, era inverso. Por muitas vezes, a cúpula de futebol do rubro-negro se adaptou ao estilo e aos pedidos dos treinadores.
— A grande maioria dos treinadores que tivemos jogava de forma ofensiva, com pressão e agressiva. Por vezes, não funcionou ou não conquistamos títulos porque fomos agressivos demais, no sentido de sofrer gols demais. Na minha visão, o Flamengo sempre jogou de uma forma ofensiva e o elenco é montado de acordo com essa filosofia, de qualidade para jogar com a bola e ser agressivo — defendeu-se Bruno Spindel, diretor de futebol.
Dentro dessa questão, pode ser que isso comece a ser produzido com a presença de Filipe Luís como figura quase que central no escopo do futebol do Flamengo. Com contrato de 15 meses assinado com o clube, o treinador revelou que tem conversas nesse sentido desde quando assumiu a categoria sub-17, em janeiro.
— Tivemos reuniões onde se falou muito do DNA rubro-negro e sobre a forma que o clube tem que jogar. É evidente o que a torcida quer: não vale só ganhar, já sabemos disso, eu já sei disso. A estrutura está aí, mas fazer o time jogar da maneira que a torcida quer não é fácil — ponderou Filipe .
Padrão tático
— É muito importante saber que vamos escrever uma nova história. Pode-se ganhar de várias formas no futebol, e o Flamengo quer que seja sempre pressionando e atacando o adversário. É inegociável. Vamos correr riscos exagerados para jogar da forma que a torcia quer, mas me sinto preparado — explicou o treinador.
Já nas questões táticas, Filipe Luís deve seguir com as ideias que colocou em prática na base. O treinador tem preferência pelo esquema de 4-4-2. Na fase defensiva, seus times costumam ter marcação em bloco alto e pressões individuais. Já na ofensiva, o comandante trabalha, normalmente, com uma saída em 4-2, para criar situações de superioridade numérica a partir de triangulações entre zagueiro, lateral e volante, mas também com a possibilidade de construir a partir da saída de três, a depender do adversário.
Técnicos que enfrentaram Filipe Luís na base ouvidos pelo GLOBO compararam seu estilo ao do italiano Roberto De Zerbi, do Olympique de Marselha, em relação à qualidade para atrair a marcação adversária para, ao furar a primeira linha. apostar em avanços verticais e com muito ataque aos espaços nas costas das defesas.