Com desempenho abaixo, Flamengo tem mais posse de bola que no Carioca, mas ataca menos e sofre mais defensivamente

É nítido, em todas as maneiras possíveis de enxergar o futebol, que o Flamengo de Tite caiu de rendimento. Depois de um começo de temporada avassalador contra adversários — de investimento e nível técnico bem inferiores, é verdade — estaduais, o rubro-negro não tem conseguido repetir o mesmo nível de atuação contra as equipes que disputam as três principais competições da temporada: Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão.

Na última quarta-feira, contra o também modesto Amazonas, recém-campeão da Série C e atual 14º colocado na Série B, o time até voltou a vencer, com o 1 a 0 depois de duas derrotas consecutiva, mas o desempenho seguiu bem aquém do esperado.

De maneira geral, é o que é refletido nas estatísticas das partidas dos últimos 30 dias, período que coincide com o início das competições de maior dificuldade.

Soberania no Carioca

Ao longo do Campeonato Carioca, onde comemorava o fato de ter uma defesa histórica, com apenas um gol sofrido — nenhum sob o comando de Tite — e o recorde de Rossi como o goleiro do clube com mais minutos sem ser vazado, o Flamengo teve números expressivos.

Ao todo, foram 13 partidas sob o comando de Tite no estadual, com 11 vitórias e 2 empates. Em termos de ataque, foram 28 gols marcados e 17,8 finalizações de média. A posse de bola foi de 55,2%. Já defensivamente, o Flamengo, que sofreu muito pouco, sofreu, em média, 8,1 finalizações por jogo, sendo apenas 1,5 no gol.

Principais estatísticas do Flamengo com Tite no Carioca

Jogos 13
Gols feitos 28
Gols sofridos 0
Finalizações feitas (média) 17,8
Finalizações sofridas (média) 8,1
Posse de bola 55,2%

Dura realidade

Já nos últimos 30 dias, foram nove jogos (um pelo Carioca, um pela Copa do Brasil, três pela Libertadores e quatro pelo Brasileirão). Neles, foram cinco vitórias, dois empates e duas derrotas. Ofensivamente, o Flamengo marcou dez gols e teve, em média, 12,6 finalizações por jogo. Dentro desse recorte, chamou a atenção o clássico contra o Botafogo, quando o rubro-negro chutou 15 vezes, mas não acertou o gol nenhuma vez, apesar de ter tido boas chances que passaram perto da baliza defendida por John.

No entanto, o que mais chama atenção é como, mesmo com mais posse de bola (59,1%), o Flamengo, além de levar menos perigo aos adversários, começou a sofrer mais defensivamente. Nas nove partidas, o mesmo time que não sofreu nenhum gol em 13 jogos, foi vazado sete vezes, sendo quatro dessas em jogadas oriundas da bola aérea. Em termos de finalizações, a equipe sofreu, em média, 12,2. Dessas, três foram no gol de Rossi, a cada jogo.

Principais estatísticas do Flamengo nos últimos 30 dias

Jogos 9
Gols feitos 10
Gols sofridos 7
Finalizações feitas (média) 12,6
Finalizações sofridas (média) 12,2
Posse de bola 59,1%

Analisados juntos da partida contra o Amazonas, pela Copa do Brasil, os números, nem sempre fieis representantes do que acontece nos times ou nos jogos, representam bem o que tem sido apresentado pelo Flamengo de Tite. Apesar de ter tido 72% de posse de bola no confronto, o rubro-negro teve apenas duas grandes chances de gol. Estática, a equipe viu a maioria dos passes ser trocada entre os zagueiros Léo Pereira e Fabrício Bruno, que, principalmente no segundo tempo, tentaram iniciar a construção das jogadas de ataque já no campo ofensivo, mas esbarraram justamente na falta de movimentação da equipe.

Dos titulares, De La Cruz e Lorran foram os que mais tentaram dar dinâmica à equipe, junto de Viña, o melhor em campo. Na segunda etapa, Matheus Gonçalves entrou bem, com boa movimentação e troca de posições, arriscando até chutes de fora da área. Ainda assim, foi pouco.

Esse tem sido um retrato do Flamengo de Tite nas últimas partidas. Com exceção de bons primeiros tempos contra Palestino, São Paulo e Botafogo, o rubro-negro não consegue traduzir a posse em controle do jogo, em termos defensivos, e em boas oportunidades de ataque. No entanto, se defensivamente essa equipe já mostrou que não deve ter muitos trabalhos para se acertar, ofensivamente o grande desafio de Tite é conseguir misturar suas convicções com novas ideias para tornar a equipe mais dinâmica, criativa e menos imprevisível.

Fonte: O Globo