Clássico na final é chance real de testar o estágio de Flamengo e Fluminense

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O sempre lembrado time de 2019 marca o início do segundo período mais vitorioso da história do Flamengo. E, embora o fenômeno tenha começado a se acentuar um pouco antes, demarca também a definitiva percepção de um descolamento econômico entre o rubro-negro e seus rivais locais — ao menos até John Textor comprar o Botafogo e injetar algumas centenas de milhões no clube a cada janela de transferências.

É natural que a diferença de dinheiro se traduza em resultados de campo, e o retrospecto nos clássicos locais é um espelho do poder econômico. Menos quando o assunto é o Fluminense, que a partir de amanhã será adversário do Flamengo na final do Carioca pela quinta vez nos últimos seis anos. Se não conseguiram se aproximar do rival em geração de receitas, os tricolores montaram os times que mais frequentemente incomodaram os rubro-negros nos duelos locais.

Para que se tenha uma ideia, desde 2019 o Flamengo enfrentou 24 vezes o Vasco. Venceu 17 clássicos e só perdeu dois, com um aproveitamento de 77,8% dos pontos em disputa. O percentual é parecido quando se mede o retrospecto contra o Botafogo: 13 vitórias do Flamengo, quatro do alvinegro e um empate, com 74% dos pontos ficando com os rubro-negros.

No entanto, as tantas finais e semifinais estaduais, além de um choque de Copa do Brasil, fizeram do Fla-Flu o clássico mais jogado nos últimos seis anos. Foram 36 edições, com 14 vitórias do Flamengo e 12 do Fluminense — 48,15% dos pontos foram ganhos pelo Flamengo e 42,6% pelos tricolores.

Não é possível dizer que em Laranjeiras esteja escondida uma fórmula única para ganhar do rival. Primeiro porque, no período, técnicos de perfis tão distintos como Fernando Diniz, Abel Braga, Marcão ou Roger Machado ganharam Fla-Flus. O mais justo talvez seja notar que, até o impecável 2024 do Botafogo, o Fluminense era o segundo clube do Rio com mais sucesso esportivo no período, culminando com um 2023 em que venceu a Libertadores meses após ser bicampeão carioca em uma notável exibição no Fla-Flu decisivo.

Novamente, o tamanho do investimento e a fartura de opções no elenco fazem do Flamengo favorito em uma decisão com os tricolores. Mas o aspecto mais interessante do novo encontro é que ele representa, num início de ano em que tantos jogos deixam dúvidas sobre a qualidade dos oponentes, uma chance real de testar o estágio das duas equipes.

Ao perder Ganso, Mano Menezes adaptou Arias ao centro do campo e os primeiros jogos não foram tão animadores. Aos poucos, no entanto, o time fez progressos: Arias parte do centro para buscar jogadas com os pontas e laterais, interferindo muito no jogo; pela esquerda, Fuentes ocupa o corredor e Canobbio consegue jogar cada vez mais perto do gol, gerando risco para defesas adversárias. O time cresceu, ganhou estabilidade com Otávio à frente da zaga, mas seu teste mais duro das últimas semanas foi o Caxias, pela Copa do Brasil.

Já o Flamengo de Filipe Luís tem virtudes conhecidas, como a pressão sobre o rival e uma saída de bola que vem fazendo estragos em adversários, atraídos para marcar os técnicos defensores rubro-negros: ao morderem a isca, deixam espaços para que os rubro-negros acelerem e criem chances. Ocorre que, desta vez, o rival é o único time que bateu Filipe Luís no comando do Flamengo. No Brasileiro do ano passado, Mano explorou a linha defensiva adiantada para vencer por 2 a 0. No Carioca, atacou pouco, mas reduziu as chances criadas pelo Flamengo.

Após 180 minutos, só um dos dois sairá com a taça do Carioca. No entanto, mais importante do que ela serão as conclusões que Mano e Filipe Luís levarão para o restante da temporada.

O peteleco

A inusitada expulsão por um peteleco pode ser engraçada, mas retrata com nitidez problemas do nosso futebol. Seja pela tolice do jogador Matheus Firmino, da Jacuipense, autor do peteleco em Rodrigo Nestor, ou pela grotesca simulação deste último, seguida pela indignação de Kanu, como se o companheiro tivesse sofrido uma violenta agressão. A partir daí, surgem o intervencionismo do VAR e a decisão do árbitro de expulsar um jogador por um peteleco.

Neymar

A tendência a tratarmos jogadores como seres humanos cujo direito ao lazer se dá apenas quando seu time vence nos tirou do trilho na conversa sobre a lesão de Neymar. Importa pouco se ele foi assistir ao desfile das escolas de samba. Preocupante é a reincidência de problemas musculares após a longa inatividade. Neymar é vital para a seleção, mas é preocupante que o preço de cada sequência de jogos seja uma nova lesão.

O preço

Agora os racistas já sabem, está precificado: aos olhos da Conmebol, ofender alguém pela cor da pele custa US$ 50 mil para o clube e quase nada para o ofensor. É fundamental ter penas mais pesadas, mas é também um erro ver punição como solução mágica. O futebol precisa trabalhar para mudar seu ambiente de permissividade e se perguntar por que, nos estádios, as pessoas se sentem à vontade para praticar crimes.

Fonte: O Globo