Na semana que antecede o início do Campeonato Brasileiro, a questão do apito volta novamente à tona por ser assunto sempre envolvido em polêmica no futebol. Na tentativa de melhorar a qualidade da arbitragem nacional, a Comissão de Arbitragem da CBF (Conaf) planeja implantar num prazo de até três anos um quadro nacional de árbitros e assistentes.
Em julho, 13 trios
de arbitragem (13 árbitros e 26 assistentes) das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em sua maioria com idade até 28 anos e escolhidos pelas próprias federações
estaduais,
passarão por um intenso treinamento com os instrutores da Conaf, no qual serão abordados aspectos físicos, técnicos, teóricos
e mentais. Segundo o presidente Sérgio Corrêa, a intenção é promover a
renovação da arbitragem brasileira e prepará-los para as futuras
competições nacionais e indicações para o quadro da Fifa. Seria apenas o primeiro passo para a criação de um quadro nacional de
árbitros e assistentes.
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Temos um projeto para que os árbitros e assistentes sejam da CBF e não
mais das federações. A intenção da CBF é formar a médio, longo prazo as suas próprias equipes
de arbitragem nacionais. Neste caso, eles trabalhariam apenas nas
competições nacionais. Começaremos pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste,
pois Sul e Sudeste são as regiões com mais instrutores e maior
investimento por parte das federações. Também pensamos oferecer cursos de árbitros para jovens a partir de 16 anos.
No
entanto, o presidente da Comissão de Arbitragem ressalta que este
planejamento não tem relação com a questão envolvendo a possível
profissionalização dos árbitros. Segundo ele, para que isso ocorra é
preciso superar eventuais resistências para romper com uma estrutura que
já está implantada há décadas e levar em consideração o aspecto
financeiro e a logística - o que os árbitros e assistentes farão durante
o período dos estaduais.
- Caso este modelo seja realmente implantado, a tendência é a de que os árbitros nacionais tenham uma relevância maior, mas as
federações irão pressionar para contar com eles. Sendo assim, é preciso
ter cuidado para que nenhuma parte seja prejudicada, e as arbitragens
nos estaduais não sejam niveladas por baixo. Ao mesmo tempo, tal
iniciativa pode contribuir para a formação de novos bons árbitros.
Embora estejamos em 2016, sete, oito estados do país ainda não têm uma
escola com cursos regulares de arbitragem.
Todos estes projetos da Comissão de Arbitragem ainda dependem de apresentação e aprovação das instâncias superiores da CBF. Ao fazer uma
análise das arbitragens nos principais estaduais do país, Sérgio Corrêa
destacou a evolução ocorrida na relação dos jogadores e comissões
técnicas com os árbitros, citando como exemplo o Paulistão.
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Comparando com o ano passado, eu notei uma mudança no comportamento dos
jogadores em relação ao respeito aos árbitros. Em 2015, as reclamações e
empurrões eram frequentes. Graças à cruzada pelo respeito que
introduzimos a partir do último Brasileiro, através de punições mais rigorosas para quem extrapola com gestos, xingamentos ou agressões na hora de fazer suas ponderações aos árbitros, notamos que comissões
técnicas e jogadores entenderam que é muito melhor jogar futebol sem
reclamações, deixando possíveis queixas para as autoridades competentes.
As reclamações só deixam o ambiente nervoso e tenso, o que atrapalha a
atuação das equipes de arbitragem, pois trabalham com a obrigação de
acertar o máximo possível sob pressão. No Paulistão, apesar de o
regulamento ter previsto o rebaixamento de seis
clubes, o que poderia aumentar o nível de estresse, houve uma
diminuição no número de faltas e cartões, com as partidas terminando com
muita tranquilidade.
Expectativa para o Brasileiro
Este
ano foi registrado um maior investimento por parte das principais
federações estaduais nas pré-temporadas das equipes de arbitragem.
Ciente deste trabalho, a CBF
disponibilizou instrutores sem nenhum gasto para 21 federações como
forma de colaborar no treinamento dos árbitros para as competições.
Outro ponto positivo destacado pela Comissão de Arbitragem foi o preparo
físico dos trios de arbitragem. Sérgio Corrêa ressalta também a maior
uniformidade nos critérios adotados na hora de o árbitro aplicar a
regra. Para o Brasileiro, a expectativa é manter os bons números, na avaliação da CBF, dos anos anteriores. Em 2013, o nível
de acerto dos assistentes na Série A foi de 81%. No ano seguinte, este
índice aumentou para 84%, e em 2015 atingiu 90%.
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Queremos elevar ainda mais estes índices para que os árbitros e
assistentes tenham a tranquilidade necessária na hora de exercer as suas
funções e não sejam alvos dos problemas ocorridos no campo de jogo. Não
vai ser fácil, pois esta competição é a mais disputada do planeta, com
no mínimo 12 clubes com chances de ser campeão. Um ingrediente que eleva
a dificuldade, mas estamos trabalhando para que a cada ano melhoremos a
qualidade das equipes de arbitragem com treinamentos e avaliações
teóricas e físicas constantes - relata Sérgio Corrêa.
Com o objetivo de
proporcionar um melhor acompanhamento dos árbitros e assistentes, a
Comissão de Arbitragem colocará em uso a partir da primeira rodada da
Série A do Brasileiro
uma nova ferramenta para a análise dos seus
desempenhos
, possibilitando rápido acesso aos dados, inclusive através
de vídeos. Tal software, que já é usado por 16 clubes para avaliar os
seus
atletas, foi especialmente adaptado para analisar a atuação das equipes
de arbitragem. Na opinião de Sérgio Corrêa, a intenção é ter um retrato
fiel de suas performances para que o desempenho de todos eles nas 38
rodadas da competição seja o mais próximo do ideal possível, dispensando provavelmente
o uso de assessores da Comissão de Arbitragem nas partidas, o que por
sua vez diminuirá as despesas dos clubes, responsáveis por estas despesas.
- O Brasil é
pioneiro nessa ferramenta para a arbitragem. Através dela poderemos
identificar com mais facilidade os árbitros e assistentes que devem ser
promovidos, aqueles que devem receber orientações pontuais e quem
precisa passar por um processo de reciclagem. A implantação do sistema surgiu a partir de uma
proposta dos próprios clubes, a começar pelo Flamengo, para a CBF ter um
acompanhamento minuto a minuto do desempenho dos árbitros.
Outra
novidade é o aperfeiçoamento do portal dos árbitros, criado pela equipe
de Tecnologia da Informação (TI) da CBF, para reunir todos os dados de
árbitros e assistentes, transformando-o num canal de informação e fórum
de debates. Caso ocorra um lance polêmico, o vídeo é colocado lá para
ser debatido por eles juntamente com a Comissão de Arbitragem,
permitindo que, após chegarem a um consenso, a orientação e interpretação sejam unificadas a partir de
então. A CBF investiu também na teleconferência. facilitando a
comunicação entre todas as federações e os instrutores da Comissão de
Arbitragem. Além de reduzir os custos com passagens e hospedagens, tal
tecnologia garante que as orientações sejam transmitidas de maneira
única para todos.
Sobre a maior revisão
das regras feitas nos últimos 130 anos pela International Board para
facilitar a interpretação por parte dos árbitros em todo o mundo, Sérgio
Corrêa afirma que as normas foram ajustadas para dar aos árbitros a
possibilidade de não punir em excesso as equipes, dando mais justiça ao
jogo. Dentre as mudanças mais significativas, ele cita a regra 12, que
trata de lances em que há oportunidades claras de gol. Pela nova
redação,
"quando um jogador impedir um gol ou uma clara oportunidade de
gol da equipe adversária com falta de mão deliberada, o jogador deve ser
expulso onde quer que a falta ocorra. Quando um jogador cometer uma
falta contra um adversário dentro da própria área penal, que impedir um
gol ou uma clara oportunidade de gol do adversário, e o árbitro conceder
um tiro penal, o jogador infrator será advertido com cartão amarelo,
salvo se a falta for de segurar, puxar ou empurrar; o jogador infrator
não tentar jogar a bola, ou não houver possibilidade de jogar a bola; a
falta for punível só com cartão vermelho. Em todos estas circunstâncias,
o jogador é expulso."
O presidente da Comissão de Arbitragem também dá
outro exemplo.
- Quando o jogador for punido
com cartão amarelo ou vermelho por falta mais violenta, o jogador
lesionado poderá ser rapidamente atendido no próprio campo de de jogo.
Até agora, o atleta machucado é retirado de campo, e a partida
prossegue, favorecendo a equipe infratora, que por alguns minutos atua
com um atleta a mais.
Tais regras atualizadas
serão colocadas em prática pela Comissão de Arbitragem a partir da
primeira rodada das Séries A, B, C e D do Brasileiro. Na Copa do Brasil,
o procedimento será adotado a partir da terceira fase, enquanto na Copa
do Brasil Sub-17 e o Campeonato Brasileiro Feminino só na próxima
edição.