O Campeonato Brasileiro de 2016 começa em maio, mas a grande
novidade desta edição deve surgir apenas em agosto. Após a decisão da Fifa de
liberar o uso do vídeo em lances duvidosos no futebol, a CBF espera a permissão
para fazer os testes após as Olimpíadas. O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Sérgio Corrêa, aguarda o documento da International Board (IFAB)
com o cronograma oficial elaborado. No entanto, diz que a CBF já está preparada
para a implementação neste ano.
> Fifa aprova mudanças e vai testar replays em caso de lances duvidosos
> CBF apresenta "Árbitro de Vídeo" à IFAB, e projeto irá a votação em março
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> CBF vai pedir à Fifa permissão para o uso de vídeos na arbitragem em 2016
> Outros esportes abrem caminho para futebol usar tecnologia na arbitragem
– Nos reunimos em Londres, pedimos para tentar iniciar os testes
em maio, mas entenderam que não seria possível. Pelo que nos foi passado após
essa reunião, a IFAB quer fazer uma ampla divulgação, trabalhar com calma, treinar
os instrutores e árbitros, explicar para os clubes e torcida. Mas estamos
dispostos a acelerar esse processo e tentar para agosto. Pelo que foi
divulgado, a intenção da Fifa é fazer os testes somente a partir do ano que
vem. Temos que aguardar o documento da Fifa com as orientações – declarou
Sérgio.
Segundo Corrêa, o projeto idealizado pela Fifa, chamado de
Video
Assistant Referees
(Árbitro assistente de vídeo, em português), é inspirado no “Árbitro
de vídeo”, proposta criada pelo ex-juiz e atual diretor técnico da Escola
Nacional de Arbitragem de Futebol, Manoel Serapião Filho. A entidade máxima do
futebol apenas acrescentou alguns detalhes e estipulou mais regras. O primeiro
pedido da CBF à International Board para o uso de vídeo na arbitragem ocorreu em
setembro do ano passado, mas a IFAB vetou. Após o veto, o secretário-geral da
instituição, Lukas Brud, disse,
em entrevista ao GloboEsporte.com
, que levaria
o projeto para votação.
A CBF já levantou custos, fez estudos com empresas de
tecnologia de imagens que trabalham em outros esportes e estimou que precisa de
um orçamento entre R$ 12 milhões e R$ 15 milhões para implantação da estrutura técnica em
todos estádios da Série A, com até oito câmeras específicas exclusivas para o
árbitro de vídeo. Entre os próximos dias 15 e 17 de março, a Comissão de
Arbitragem, já com o cronograma da Fifa em mãos, reunirá os árbitros e
assistentes e dará detalhes sobre seus planos.
– Já estamos com tudo engatilhado. Se fosse liberado para
maio, teríamos que acelerar o processo, mas já estamos preparados. Temos que escolher um grupo de árbitros e grupo de assistentes, ter um treinamento
específico e escolher bem quais serão essas pessoas que atuarão como árbitro de
vídeo. Temos reunião já agendada de 15 a 17 no Rio para preparar toda essa
situação técnica. A própria CBF já procurou várias empresas, fizemos reuniões
informais para tratar do assunto da geração de imagens. Vamos fazer em todos os
estádios.
detalhes do projeto
O recurso do vídeo será permitido somente em quatro
ocasiões: para determinar se um gol foi marcado, em casos de expulsão, marcações
de pênalti e para identificar um determinado jogador, caso haja suspeita de
punição equivocada a um atleta. A tecnologia não servirá para lances de
impedimento, a menos que seja uma clara situação de gol. Segundo Corrêa,
técnicos, jogadores ou qualquer membro de comissão técnica não poderão
requisitar a revisão de um lance. A decisão partirá apenas do árbitro
principal.
– Em campo, ninguém pode fazer indagação ao árbitro. Somente
o árbitro central pode pedir revisão. Nenhum jogador, nem treinador, ninguém
pode pedir o uso de vídeo. Os assistentes podem recomendar ao árbitro, mas
também não podem pedir. Outra coisa que foi bem colocada pela IFAB e pela Fifa é
que o assistente técnico e o árbitro de vídeo não poderiam receber o áudio das
imagens. O árbitro de vídeo teria, em tese, o mesmo olhar do juiz principal,
mas com vantagem do corte – avaliou Sérgio.
O experimento será feito da seguinte forma: haverá um
assistente com acesso aos vídeos e, caso o árbitro o chame em lances duvidosos,
ele vai parar para assistir aos replays. Ele terá poder também de chamar o
juiz, caso o mesmo não tenha observado alguma determinada infração. Os órgãos
responsáveis ainda vão escolher uma universidade para conduzir o experimento. Sérgio Corrêa ressaltou que as imagens usadas para a análise dos lances não serão as mesmas das transmissões dos jogos. Serão retiradas de câmeras próprias da CBF.
A preocupação da Fifa e das demais entidades que administram
o futebol é não alongar ainda mais o tempo das partidas. A CBF ainda estuda
como fará a escala e a remuneração dos árbitros de vídeo. Mas prevê menos
reclamações.
– Não temos dúvidas da evolução que o projeto proporcionará
ao futebol – opinou Sérgio Corrêa.
como é em outros esportes
O recurso do vídeo já é
usado há muito tempo em outros
esportes
. Na NBA, os árbitros são aconselhados a revisar em vídeo lances
duvidosos, sobretudo quando o relógio está zerando. Desde 2006, o tênis recorre
ao recurso do vídeo para ajudar a esclarecer dúvidas em lances polêmicos. O
sistema é o de desafio. Quando o jogador discorda da marcação do árbitro, ele
pode pedir a revisão da jogada no vídeo. O próprio árbitro principal também
pode solicitar o auxílio do vídeo quando ficar com dúvida. O vôlei se inspirou no tênis para, a partir de 2012,
gradativamente implementar o uso do Hawk-Eye (olho de águia). Cada equipe pode
desafiar pelo menos duas vezes por set a decisão da arbitragem.
A NFL (National
Football League, liga de futebol americano) é uma das mais antigas a adotar o
uso do vídeo para tirar dúvidas. O primeiro teste foi realizado em um jogo
isolado em 1976, quando os organizadores do campeonato começaram a estudar o
tempo que a revisão de jogadas poderia levar. O sistema utilizado é o de
desafio. Pelas regras atuais, cada time tem direito a dois por jogo, que devem
ser feitos pelo técnico, que atira uma toalha vermelha no campo. Em 2012, a
Federação Internacional de Judô implementou o uso de vídeos. Em vez de três
árbitros no tatame, passou a ter apenas um, com outros dois analisando a luta
em um monitor.