Catarse do Flamengo contra o River completa cinco anos: "Nunca vou esquecer o dia 23 de novembro", diz Jesus

"23 de novembro: o raio que caiu duas vezes no mesmo dia". Há cinco anos, o Flamengo conquistava a América pela segunda vez, após 38 anos. Em 1981, o continente ficou rubro-negro pela primeira vez, com Zico e companhia. Em 2019, Gabigol foi o herói na virada por 2 a 1 sobre o River Plate e se tornou o rosto da segunda geração mais vitoriosa da história do clube.

Foi com (muita) emoção que o Flamengo conquistou a Libertadores de 2019. Naquela tarde em Lima, no Peru, o Rubro-Negro se sagrou campeão com uma vitória por 2 a 1, de virada, em cima do River Plate, no Monumental. Gabigol marcou aos 43 e 46 minutos do segundo tempo. Para relembrar a conquista, o ge conversou com alguns personagens que viveram de perto aquele dia histórico (veja os depoimentos no topo da matéria)

Uma matéria especial sobre a conquista da Libertadores 2019 vai ao ar no Globo Esporte deste sábado.

Libertadores 2019 Flamengo — Foto: Photo by Daniel Apuy/Getty Images

Um dos principais nomes do elenco era Filipe Luís, que tinha acabado de chegar ao Brasil após mais de uma década na Europa, e rapidamente se tornou uma das referências no time. Cinco anos depois, ele está aposentado há quase um ano e é o atual técnico do Flamengo . No novo cargo, acabou de conquistar o último título do clube: a Copa do Brasil.

- A noite anterior em Lima foi a primeira vez na minha carreira que significava demais o título, mais do que o normal. Meu sonho sempre foi ganhar a Champions, sempre foi esse na minha carreira como jogador. Eu não consegui ganhar a Champions, só que o fato de poder conseguir ganhar uma Libertadores com o clube do meu coração significava demais para mim - disse Filipe.

O ex-lateral e atual treinador reconheceu que não fez bom jogo e atribuiu ao nervosismo em campo.

- Eu não consegui separar a emoção da razão nesse dia, mas conseguimos a vitória. Como equipe, e eu sou parte dessa história e sou muito grato pela oportunidade que me deram de estar aqui nesse momento. De fazer parte desse grupo vitorioso, mas como falei não gosto de falar do passado. Prefiro estar em outra função e poder fazer outra história. Tentar conquistar outro título e dar alegrias de novo e sentir essa conexão e essa comunhão com a torcida. É inesquecível, então eu estou aqui hoje em busca desse grande objetivo - encerrou Filipe Luís.

Time do Flamengo da final da Libertadores 2019 — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

O River Plate abriu o placar logo no início do jogo, aos 14 minutos com Borré. O Flamengo demorou a se encontrar na partida, mas na etapa final conseguiu se aproveitar do cansaço do time argentino. Para Willian Arão, volante titular na campanha de 2019, a sensação era que o Rubro-Negro conseguiria virar o jogo, apesar do nervosismo.

- Eu estava muito emocionado, porque, quando eu fui substituído (aos 40 minutos do segundo tempo), eu não acreditava. A sensação que eu tinha dentro do campo era que a gente ia fazer um gol e virar o jogo, porque a gente estava jogando bem. Começamos a dominar o jogo, só que vai passando o tempo, você vai ficando mais nervoso, aquela ansiedade, mais de 70% do estádio era flamenguista, então vai passando o tempo e você sente aquela aflição. O jogador sente, todo mundo tenso, e você fala que não é possível que isso vai acontecer, não é possível. Estávamos jogando bem, tivemos outras chances antes do gol - antes de completar:

- E eu fui abraçar (no momento da virada) o Mister (Jorge Jesus) e ele: "chama o Piris, chama o Piris (da Motta)", porque ele só deixou a linha de quatro para falar a verdade. A última linha de quatro. Me tirou, eu era o primeiro volante, tirou o Gerson, que era o segundo volante, colocou o time todo para frente. E "chama o Piris que a gente precisa fechar o meio", a cabeça do Mister estava no jogo. E eu já estava ali celebrando e abraçando meus companheiros, porque se acontece o 2 a 1... A gente já tinha a sensação de que no 1 a 1 a gente ia virar, o time do River estava cansado. E na prorrogação a gente ia fazer o segundo gol, porque eles estavam acabados. Tínhamos um ritmo de jogo muito forte, e muitas partidas naquele ano ganhamos no segundo tempo. No primeiro tempo eles tinham fôlego para acompanhar a gente, mas no segundo tempo cansaram. Tínhamos uma capacidade física e uma maneira de nos impor que sufocava o adversário. E depois foi só choro mesmo - encerrou.

Jorge Jesus, técnico do Flamengo, na final da Libertadores — Foto: Getty Images

Em contato com a reportagem do ge, Jorge Jesus enviou uma mensagem para comemorar os cinco anos da conquista: "Amigo, nunca vou esquecer o dia 23 de novembro. Obrigado, abraço!"

"Uma virada que acontece de tempos em tempos"

Luis Roberto, narrador da TV Globo, relembrou a final e os lances que decidiram a partida para o Flamengo . Além disso, revelou bastidores com Junior, ídolo rubro-negro e que estava participando da transmissão como comentarista. O Maestro, como é conhecido, protagonizou uma cena emblemática no gramado do Monumental, ao lado de Gabigol (veja o vídeo abaixo).

- O enredo do jogo é um enredo quase que único, que acontece pouco no futebol. Depois, até revendo o jogo, a gente chegou à conclusão de que o Flamengo fez uma boa partida, mas naquela altura com o gol do River no começo do jogo ficou um clima de que estava escapando. E nós tínhamos um procedimento de trabalho no fim do jogo, maestro Junior iria descer para o campo para trabalhar nas entrevistas caso o Flamengo conquistasse o título. Bom, 43 minutos do segundo tempo e o jogo 1 a 0 para o River, e de repente a gente teve aquela catarse, Bruno Henrique descola uma jogada absurda, faz um lance incrível com Arrascaeta, e Gabigol empata o jogo. Deu uma sensação de prorrogação, o jogo vai empatar, vai para a prorrogação agora e mais meia hora - lembra o narrador.

Mas tinha mais. Luis Roberto conta que o segundo gol de Gabigol provocou correria para que Junior fosse para seu posto no campo.

- E o pessoal que estava na cabine "Junior, pega o microfone, você precisa ir para o campo". E a gente tem imagens marcantes do Junior no gramado fazendo entrevistas com os jogadores campeões da América, desde 1981 esperando esse momento. É uma virada absolutamente única, épica, daquelas que acontecem de tempos em tempos. Mas muito de tempos em tempos - recordou Luis Roberto.

"Grito de catarse, grito de alívio"

Eric Faria foi o repórter da TV Globo na transmissão e acompanhou todo o desenrolar do jogo do gramado. Para ele, o tamanho do impacto do título na vida do torcedor do Flamengo está diretamente ligado pela forma que se desenhou o jogo: dois gols em três minutos, coroando a conquista após 38 anos.

- Eu acho que a catarse aconteceu muito pela forma como terminou o jogo, talvez se o Flamengo tivesse vencido por 3 a 0 ou tivesse conquistado uma vitória natural, dois gols no primeiro tempo, um gol no segundo tempo. Óbvio que as comemorações seriam iguais, afinal de contas era um título de Libertadores depois de 38 anos. Mas a catarse aconteceu porque foram dois gols em cinco minutos, e já nos acréscimos o segundo gol. A forma como se desenrolou o jogo é que aumentou esse drama, esse impacto na vida do torcedor do Flamengo . Eu não sei quantos jogos de futebol já trabalhei na minha vida, mas foi a vez que eu mais vi homem, mulher e criança chorando em um estádio de futebol. O grito de gol, o segundo gol do Flamengo , ele não é um grito de gol de celebração. É um grito de gol de alívio, das pessoas quase que desmaiando, chorando. Era lágrima com grito de gol misturado - lembra Eric Faria, hoje comentarista do grupo Globo.

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Fonte: Globo Esporte