Gabriel Noga está há nove anos no Flamengo. Uma estrada tão longa quanto a distância que separa Volta Redonda da Gávea. Foi este percurso que o jovem zagueiro fez diariamente no início de sua trajetória no clube, um bate-volta de quase 300 quilômetros que serviu para amadurecer com rapidez o garoto.
Gabriel Noga entre jogadores do Macaé — Foto: André Durão
Agora, com 19 anos, Noga vem se destacando neste início de Campeonato Carioca. Mostra tranquilidade acima da média com a bola nos pés para um zagueiro, incorpora características que não são tão comuns para alguém de sua função, como a velocidade e o bom passe. O mais importante para ele, entretanto, é a consciência de que, num clube como o Flamengo, nada vem fácil.
O exemplo está em casa: o pai de Noga, Moacir, tinha um depósito de bebidas em Volta Redonda. Quando viu que o sonho do filho começava a tomar formas reais, após três anos de bate-volta diário, fechou o estabelecimento.
Noga e Moacir passaram a morar no Rio e voltar para Volta Redonda somente nos fins de semana para ver a família. Esta rotina durou até 2019.
- Minha rotina era vir de carro todo dia de Volta Redonda. Eu e meu pai fazíamos bate-volta, minha vida era praticamente no carro, almoçava no carro, estudava no carro, dormia no carro. Isso me ensinou a dar valor às coisas, amadurecer e com muito sacrifício conseguir jogar no Maracanã com a camisa do Flamengo. Isso faz tudo valer a pena, ter abdicado de muitas coisas pra conseguir realizar meu sonho. Felizmente deu certo, sentimento de gratidão. Agora, é manter a humildade, seguir trabalhando forte, sem perder o rumo, respeitando o tempo e meus companheiros, pra continuar evoluindo - disse Noga ao ge.
Noga com o pai, Moacir, durante trajeto de carro entre Volta Redonda e o Rio de Janeiro — Foto: Arquivo Pessoal
Noga, ainda criança em Volta Redonda: pai fechou depósito de bebidas para acompanhar o filho nos treinos — Foto: Arquivo Pessoal
Com bom histórico na base, onde empilhou títulos e foi também campeão mundial sub-17 com a seleção brasileira, Noga fez sua estreia pelo profissional do Flamengo ainda em 2020, sob o comando de Domènec Torrent.
Foram cinco partidas, incluindo duas pela Libertadores. Noga deixou boa impressão, mas terminou a temporada novamente no sub-20. Ainda assim, levou lições.
- Jogar no Flamengo é um aprendizado diário. As partidas em que participei me ajudaram muito a amadurecer, pelo momento de pressão, e a manter a cabeça boa com tudo o que acontecia em volta. Foi marcante. Eu também venho me preparando muito na base pra momentos como esse. Desde pequenos nos falam sobre a pressão de vestir a camisa do clube no profissional.
- Acredito que a formação que nos dão ajuda demais a encurtar os caminhos. Fora de campo somos garotos e agimos como tal, mas quando o juiz apita, somos homens, como o próprio professor Mauricinho disse antes do jogo contra o Nova Iguaçu. Vestimos a camisa do Flamengo e honramos até o final. Assim que tem que ser - completou Noga.
Noga, zagueiro do Flamengo, no duelo com o Nova Iguaçu — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
Parceria com Natan
Em seu retorno aos profissionais, para este início de Carioca, o zagueiro reencontrou o amigo Natan. Os dois jogam juntos desde o sub-17. O entrosamento ficou evidente: em duas partidas, contra Nova Iguaçu e Macaé, mostraram segurança, e o Flamengo não sofreu gols.
- Nós nos damos super bem, jogamos muito tempo juntos na base. Desde o sub-17 até o profissional. Isso ajuda, pois nos conhecemos bem, nos falamos muito nos jogos e isso facilita. A gente se completa.
Enquanto Natan foi o capitão do time, Noga foi o responsável por ajudar na saída de bola. Suas características vêm do tempo em que jogava como volante.
Noga contra o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 2020 — Foto: Marcos Ribolli
Rodrigo Caio e Juan como espelhos
Suas influências também explicam um pouco seu estilo de jogo: Rodrigo Caio e Juan são apontados como dois espelhos.
- Comecei como volante e depois passei a jogar como zagueiro. Isso me ajudou bastante na saída de bola controlada, sem dar chutões. Eu me cobro bastante para melhorar os fundamentos. Eu me identifico muito com o Rodrigo Caio, acho nosso jogo parecido. Tem boa técnica, raça, e sempre dá a vida nos jogos. Ele é jogador de seleção brasileira. Precisamos nos espelhar nos melhores se quisermos alcançar o sucesso.
- Além disso, conviver com o Juan ajuda muito, pois sua história dentro e fora de campo é referência. Tudo que ele fala precisa ser ouvido com atenção. Mais de 300 jogos pelo Flamengo, Copas do Mundo. Enfim, uma carreira de sucesso que merece nosso respeito.
Com Noga em campo, o Flamengo volta a jogar no próximo domingo, contra o Fluminense, pela terceira rodada do Campeonato Carioca. Este será o último jogo dos jovens rubro-negros antes de o elenco principal se reapresentar para a temporada.