O diretor de futebol do Flamengo José Boto concedeu sua segunda entrevista, desde que foi apresentado pelo clube, nesta quarta-feira, no CT Ninho do Urubu. O português iniciou a coletiva com a apresentação do seu assistente direto, Alfredo Almeida, e do novo chefe do departamento médico, Fernando Sassaki, e avisou que não comentaria sobre negociações. Apesar de não abrir o jogo sobre os possíveis reforços, ele garantiu que não chegarão para agradar torcida e imprensa.
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— Em Portugal nós dizemos que é preço por ter cão e preço por não ter. A questão aqui é: todos os jogadores que vierem servem ao modelo do Flamengo. Ninguém vai ser contratado para agradar imprensa, torcida. Nós temos sempre dois campeões na Europa: o da pré-temporada e o real. O que nós queremos é ser o campeão real ao final da temporada.
Não é nenhuma novidade que o rubro-negro não terá um caixa gordo para reforçar a equipe, pelo menos nesta janela de transferências. Boto disse estar ciente da situação financeira do clube, mas afirmou ter dinheiro será suficiente para fazer os ajustes necessários no elenco, que segundo ele é "excelente".
— Eu não sou financeiro, mas o Bap já falou que existem problemas de caixa. Eu estou ciente deles, o Filipe também, mas a nós não nos preocupa esses problemas porque o que existe vai ser suficiente para os reforços cirúrgicos que queremos trazer. O elenco é excelente, só fazer alguns ajustes pontuais e não precisamos de contratações só pelo nome, só porque são muito caras, que depois não tem cabimento no modelo de jogos que queremos. Isso é jogar dinheiro fora e não vai acontecer.
O primeiro "alvo pontual" já foi definido: o Flamengo abriu negociações pela contratação do atacante Juninho Vieira , do Qarabag do Azerbaijão. O jogador de 28 anos esteve perto de assinar com o Sevilla, mas recebeu uma proposta de três anos de contrato do rubro-negro, e com um salário maior, que o fez balançar por uma volta ao futebol brasileiro.
A ideia da cúpula de futebol é antecipar ao máximo a chegada dos reforços, para que estejam à disposição de Filipe Luís na pré-temporada. Há ainda um experiente primeiro volante no radar nesta janela. Com a provável saída do zagueiro Fabrício Bruno, para o Cruzeiro, uma reposição pode ser contratada para o setor defensivo.
José Boto falou sobre a dificuldade de enfrentar o calendário do futebol brasileiro. Neste ano, ele será ainda mais desafiador para o rubro-negro, com o acréscimo da disputa do Mundial de Clubes, entre junho e julho. Apesar da alta dimensão do torneio, o dirigente reafirmou que o foco principal é o Campeonato Brasileiro. Ele revelou não ter a intenção de vender nenhum nome importante para a equipe, pensando na disputa dos principais títulos da temporada.
- Não está nos nossos planos vender nenhum jogador fundamental para nós, a nãos ser que seja uma loucura, daquelas que não pode dizer que não. É agregar alguns jogadores para que o elenco seja mais forte. Depois, nós não podemos entrar numa temporada pensar que o ponto alto vai ser o Mundial. O foco principal tem que ser a Série A. Mas o foco imediato é a Supercopa no dia 2 de fevereiro. Depois, o Mundial vai chegar ao seu tempo. Não vamos para passear, vamos para competir e fazer o melhor possível.
Veja outras falas de José Boto:
MUDANÇAS NA COMUNICAÇÃO DO FUTEBOL
— Vocês vão receber algum material, ter acesso à programação do elenco profissional, todas as semanas vão receber uma planilha do que vai ser, que horas começam os treinos, viagem, isso tudo será entregue pela comunicação, já com o plano de toda a pré-temporada. Vão existir alguns treinos abertos para fazerem imagens, vão ser disponibilizados jogadores para algumas entrevistas, dizer um pouco também porque me disseram que havia questões em relação à duração da pré-temporada nos Estados Unidos. Zero, foi uma decisão técnica que levou ao encurtamento. Basicamente é isso.
FILIPE LUÍS
— Contato desde o dia 18 é diário. Agora com ele aqui é mais fácil, cara a cara é sempre melhor. Tudo que disse no primeiro dia eu mantenho. Alguém em que eu vejo futuro maravilhoso. E eu quero ser o diretor português que vai acabar com a hegemonia dos treinadores portugueses no Brasil. Isso vai acontecer através do Filipi. Com todo respeito aos treinadores portugueses, alguns são até meus amigos, mas eu quero ajudar a acabar com a hegemonia e nada melhor do que ser o Filipe.
MUDANÇAS NO DEPARTAMENTO MÉDICO
— Existe um diretor médico de todo o Flamengo (José Luiz Runco) que não depende do futebol e decidiu fazer essas mudanças. Explicou-me algumas porque eram necessárias, e agora vamos ver como as coisas funcionam em termos de futebol. O departamento médico das outras modalidades não é da minha responsabilidade.
ALFREDO ALMEIDA
- Quem reporta direto ao presidente sou eu. Acho que posso dizer isso, se calhar é a primeira vez que um presidente não vai estar na chegada dos jogadores. Eu reporto a ele, os outros reportam a mim. Não levem como arrogância, é a forma como se deve trabalhar. Ele (Alfredo Almeida) é uma pessoa com experiência muito grande principalmente em metodologia de treino, vai ser um apoio muito grande para a base também. E tal como o nome diz é meu assistente. Eu estou acompanhando a equipe em algum lugar qualquer, preciso de alguém tome conta da parte mais técnica. Não é da parte de contratações. É um olhar mais técnico do que se está fazendo aqui.
BASE DO FLAMENGO
— A base é sempre alguma coisa que em todos os clubes onde passei era cuidada com muito carinho. Aqui não vai ser diferente. O ganhar muitas vezes conta formar mal. O que é ganhar na base? É número de jogadores que jogam na primeira equipe ou que se conseguem vender. Aquela crítica que eu fiz foi geral porque o Brasil tem condições para criar mais jogadores daqueles que nos encantam. Eu comecei a gostar de uma forma apaixonada pela seleção brasileira de 82. Isso era devido a quê? Qualidade e criatividade dos jogadores. Pessoas vão dizer que futebol mudou, é mais intenso. É verdade. Mas os bons jogadores, aqueles talentosos, têm sempre lugar. O que acho é que podemos aportar um pouco isso é revelar jogadores mais criativos. Não há criatividade sem liberdade. Isso nos diz muito, não há processo de crescimento se alguém tem medo de errar.
— O que falta é esse processo naquelas idades menores, de deixar os jogadores errarem, experimentarem, depois os colegas é que vão lhe dizer: "Não pode fazer caneta, lençol, porque não sabe". Senão vai ser o último a ser escolhido. Há um professor em Portugal que é o pai de uma metodologia usada em quase toda a Europa, se chama Vitor Frade, que o futebol não se ensina, aprende-se. Isso que o futebol de rua nos dava. O último a ser escolhido não tinha jeito (risos). Era uma seleção natural, não tinha intervenção de adultos. Jogadores iam experimentando, imitando... Na Noruega querem imitar o Haaland. Aqui vão querer imitar Neymar ou o Vini. Deixem imitarem. Depois vão perceber que não podem fazer. Isso que eu queria dizer quando falei da formação.
— Deixem as crianças se divertirem. No Shakhtar os jovens queriam imitar os brasileiros, e os treinadores não deixavam. Uma das coisas que fiz foi mudar a base de lá, levei um coordenador português, e começou a sair Mudryk, vendido por 100 milhões de euros para o Chelsea. Jogadores como (Heorhiy) Sudakov e (Artem) Bondarenko que quem segue futebol internacional sabe que são muito apreciados e vão sair por muito dinheiro. Porque nós começamos a deixar imitar os brasileiros que lá tinha, isso que fez a diferença;. Futebol é muita imitação. Se o que tenho para imitar é um tosco, com dois tijolos nos pés e que nem correr sabe, não vamos criar talento.
COMISSÃO TÉCNICA
— Neste momento aquilo que nós vamos fazer é se há algumas necessidades de agregar alguém à comissão. Muito provavelmente vamos acrescentar alguém que vai agregar. Alguns departamento que não dizem respeito a mim, reestruturações não quer dizer mandar pessoas embora. Vamos reestruturar departamentos que têm contato direto com a comissão técnica. E vamos trabalhar com padrões que consideramos que são os corretos. Depois, toda estrutura no futebol estar sempre atento, são dinâmicas e fazendo ajustes conforme as necessidades.