Jorge Jesus disse não ao Benfica há poucos dias, mas a sombra da águia ainda sobrevoa o Ninho do Urubu. O clube português mantém a esperança de convencer o treinador a assumir a equipe na próxima temporada europeia.

Amigo do comandante, o presidente benfiquista, Luís Filipe Vieira, é o grande entusiasta da ideia principalmente após a demissão de Bruno Lage. E, para isso, aposta muito na indefinição do calendário sul-americano diante da pandemia de COVID-19.

Por outro lado, sabe que há grande entrave: o pacto do treinador com o elenco rubro-negro para voltar a vencer a Copa Libertadores e, consequentemente, tentar mais uma vez o Mundial de Clubes. Já o Flamengo se sente resguardado com a multa estipulada e com o acordado com o treinador no novo contrato.

Para seguir à frente do time, Jesus baixou consideravelmente a pedida inicial de sete milhões de euros pré-pandemia. Fechou acordo pela metade, um reajuste de cerca de 10% em relação ao vínculo anterior. E resistiu a colocar uma multa, o que alongou o acordo, mas a diretoria rubro-negra se mostrou irredutível nesse quesito, principalmente devido à chance de voltar ao Mundial de Clubes.

O meio-termo para um possível distrato foi acertado: caso deseje sair até janeiro, Jorge Jesus ou o clube interessado deve pagar metade do valor ainda restante no contrato válido até 19 de junho de 2021.

A partir de fevereiro do próximo ano, quando o Flamengo já imaginava ter ocorrido uma possível disputa de Mundial, a rescisão cai para 500 mil euros. O Benfica vê como possível. A questão é convencer o técnico.

Na Europa a análise é de que dificilmente a Libertadores voltará a ocorrer e ser concluída ainda neste ano. As notícias do avanço da pandemia no continente sul-americano aumentam a incerteza sobre o calendário. Desta maneira, os portugueses entendem que Jesus não quebraria o pacto com os atletas caso retornasse sem ter as principais competições a disputar no Brasil a curto prazo.

A pessoas próximas, o técnico garante que não joga palavras ao vento e vê um "compromisso de honra" com os atletas, com quem tem ótima relação. Foi o que pesou para recusar o Benfica na primeira investida.

No Ninho do Urubu, o dia a dia não aponta para um técnico que tem como possibilidade a saída. Ao contrário. Após o jogo com o Boavista, Jesus disse o que tem ainda a conquistar no país.

"Faltam-nos dois jogos para praticamente, se Deus quiser, vamos ganhar tudo o que há no Brasil, faltando só a Copa que não ganhamos", disse o treinador.

O Benfica deve manter um técnico interino até o fim da temporada. O objetivo, agora, é manter o segundo lugar e garantir a vaga para a Champions. Os nove pontos de distância para o terceiro colocado, Sporting, a cinco rodadas do fim da liga dão certo conforto neste sentido.

Unai Emery, ex-PSG e Arsenal, é um nome também apontado pela imprensa portuguesa como possível substituto de Bruno Lage. Mas a caravela benfiquista segue ao mar em busca de reconquistar um amor antigo, de olho na indefinição em terras brasileiras. A águia ainda segue à espreita do urubu.